A BDO, empresa que fez a auditoria dos balanços da Americanas referentes aos nove primeiros meses do ano passado, se absteve de emitir opinião sobre a fidedignidade das informações. Segundo a empresa, a recuperação judicial da rede e as várias incertezas relativas ao processo não permitiram que a auditoria reunisse os elementos necessários para emitir uma opinião.
“Não nos foi possível reunir evidência de auditoria apropriada e suficiente para concluir se a utilização do pressuposto de continuidade operacional é apropriada, nem tampouco quais seriam os efeitos sobre os saldos (individuais e consolidados) dos ativos, passivos e elementos componentes das informações contábeis intermediárias, individuais e consolidadas, do resultado, dos resultados abrangentes, das mutações do patrimônio líquido, dos fluxos de caixa e do valor adicionado (informação suplementar), caso as informações contábeis intermediárias, individuais e consolidadas, não fossem preparadas considerando esse pressuposto”, diz o relatório da BDO, assinado por Robinson Meira.
De acordo com ele, o teste de valor recuperável de ativos preparado pela administração da Americanas não atendeu plenamente ao pronunciamento técnico do CPC relativo a essa regra, o que gera reflexos sobre o balanço, porque não é possível utilizar premissas que não considerem as inconsistências geradas pelo cenário de fraude que levou a rede à recuperação judicial.
Meira também ressalta que a investigação do comitê independente sobre a fraude ainda está em curso, e que a BDO não teve acesso a relatórios e conclusões da investigação. Ele afirma que também há procedimentos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), investigações do Ministério Público Federal e da B3 relativas à fraude, o que inclui acordos de colaboração de ex-executivos.
Como essas investigações são sigilosas, a BDO também não teve acesso às suas conclusões, o que contribuiu para que a auditoria pudesse emitir uma opinião a respeito do balanço.
Outro ponto destacado no relatório é a auditoria da fintech Ame Digital, controlada pela Americanas, que não havia sido concluída até a emissão do documento pela auditoria. Por isso, os eventuais impactos de mudanças nos saldos de investimento da Americanas na Ame não puderam ser auditados.
A BDO também voltou a afirmar que há uma “incerteza relevante” quanto à continuidade das operações da Americanas à frente, diante da recuperação judicial. Essa é uma praxe em empresas que passam pelo processo, de acordo com especialistas.
Por Matheus Piovesana
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