O Produto Interno Bruto (PIB) do setor da construção deve fechar 2023 com uma alta de apenas 1,2%, de acordo com a estimativa revisada e divulgada hoje pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).
O resultado ficou abaixo da previsão inicial de uma alta de 2,4%, divulgado em dezembro do ano passado. Em junho deste ano, as entidades já haviam revisado a projeção para um crescimento de 1,5%, dado a piora do cenário.
Os novos dados previstos para o encerramento deste ano mostram que a atividade no setor sofreu uma desaceleração relevante em comparação com os dois anos anteriores, visto que o PIB da construção teve expansões de 6,5% em 2022 e de 12,6% em 2021.
“Em 2023, estamos vendo uma queda (desaceleração no crescimento) muito vigorosa”, afirmou o presidente do Sinduscon-SP, York Stefan, durante apresentação à imprensa. “Parte da responsabilidade por isso é da taxa de juros alta, que afeta a economia brasileira como um todo e a construção civil também”, afirmou.
A coordenadora de estudos da construção da FGV, Ana Maria Castelo, afirmou na apresentação que o desempenho do PIB setorial em 2023 foi frustrado, principalmente, pela queda no consumo de materiais pelas famílias. Além dos juros altos, as famílias também estão bastante endividadas, o que dificultou a aquisição de materiais, que geralmente depende de linhas de crédito.
Outro ponto é que a pandemia antecipou muitas compras de materiais para obras e reformas domésticas ao longo de 2020 e 2021, gerando uma ‘ressaca’ nos trimestres seguintes. “O mercado de trabalho como um todo melhorou, mas isso não se transformou em maior consumo de materiais pelas famílias. Talvez isso seja uma ressaca da pandemia, quando vimos um pico de reformas. Depois da pandemia, a renda das famílias foi para outros bens e serviços”, disse Castelo.
A pesquisadora da FGV observou ainda que os reajustes esperados para destravar novos projetos dentro do Minha Casa Minha Vida (MCMV) saíram apenas em julho, enquanto a previsão inicial do setor era que isso estivesse em vigor desde o começo do ano. “Os ajustes no programa acabaram vindo com certa demora em relação às expectativas”.
Castelo chamou atenção que o PIB da construção teve queda de 3,8% no terceiro trimestre de 2023 na comparação com o trimestre anterior do mesmo ano, conforme dados divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um número bastante ruim”, frisou, acrescentando que isso ainda deve gerar uma nova queda na ordem de 1,5% para o PIB setorial no quarto trimestre por efeito de carregamento estatístico.
Por Circe Bonatelli
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