A Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisuais (Apro) divulgou carta aberta ao mercado criativo nacional alertando sobre a falta de transparência e os impactos econômicos negativos da prática de produção audiovisual interna nas agências de publicidade. Para entidade de classe a criação de produtoras próprias que atuam internamente com os clientes, conhecidas como “in-house agencies”, pode afetar o mercado nacional.
Conforme divulgado pela entidade de classe, esse tipo de prática põe em risco a sustentabilidade dos negócios das produtoras audiovisuais brasileiras. Isso porque as agências de publicidade passam a oferecer esse serviço, a pedido dos anunciantes, de forma interna, o que gera demissões e redução nas contratações das produtoras e dos trabalhadores do segmento.
“A Apro está determinada a trazer o tema à discussão pública, buscando desenvolver uma melhor conscientização de todos os agentes do mercado publicitário sobre os conflitos inerentes e os impactos desta prática comercial. A finalidade é propiciar um ambiente negocial saudável, transparente e ético”, afirma a associação no documento.
A presidente executiva da Apro, Marianna Souza, diz que esse tipo de prática começou a ser visto no pré-pandemia, entre 2018 e 2019, em outros mercados globais, como nos Estados Unidos e em países da Europa. Agora isso começa a ser reproduzido localmente. “Nos Estados Unidos, por exemplo, essa situação chegou a tal gravidade que se abriu um inquérito no Federal Trade Commission (FTC) (equivalente ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade, no Brasil) e uma investigação do FBI, porque havia toda uma discussão de fraude nos processos licitatórios das agências”, diz.
Pós-pandemia
Segundo a executiva, no País, esse tipo de prática se intensificou nos últimos dois anos, após a retomada econômica do setor devido a pandemia de covid-19, quando grandes grupos da publicidade passaram a absorver essas demandas audiovisuais internamente, o que reduziu a oferta de negócios para as produtoras.
Diante da situação, Marianna cobra que os processos de concorrência feitos pelos anunciantes sejam mais transparentes na escolha dos prestadores de serviço. “Esse alerta é pensando na sustentabilidade desse mercado e das empresas”, afirma. “Nós perdemos qualidade porque tudo virou sobre o preço e nós ainda temos de lidar com essa concorrência desleal das produtoras internas”, complementa.
Entidade diz que vai criar grupo para avaliar melhorias no setor
Em nota, a Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap) afirmou que tem mantido diálogo com a Associação Brasileira de Produção de Obras Audiovisuais (Apro) e que pretende montar um grupo de trabalho multidisciplinar que ficará responsável por estudar as melhorias nas práticas do mercado.
Conforme a entidade, desde que assumiu a presidência da Abap no início de 2024, Márcia Esteves se reúne com empresários, executivos e entidades para debater sobre fatores que impactam a economia criativa.
“A exemplo do Guia de Diretrizes de Compliance, estruturado pela entidade, buscaremos a construção de um protocolo de referência para orientação do setor para produções audiovisuais,” declarou a entidade.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Wesley Gonsalves
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