Os republicanos encerraram ontem três semanas de impasse e elegeram o ultraconservador Mike Johnson presidente da Câmara de Deputados dos EUA, superando graves divisões internas. No plenário, Johnson teve 220 votos – ante 209 do candidato democrata Hakeem Jeffries.
A escolha é crucial, pois sem um presidente a Câmara dos Deputados não funciona. A paralisação dos trabalhos ocorreu em um momento em que os congressistas precisam aprovar o orçamento para o próximo ano fiscal e um pacote de ajuda proposto pelo presidente dos EUA, Joe Biden, para financiar as guerras em Israel e na Ucrânia.
A crise começou justamente por causa do orçamento. Sem conseguir os votos de todos os republicanos, o deputado Kevin McCarthy, que presidia a Casa, buscou apoio dos democratas para manter o governo funcionando temporariamente por 45 dias. O gesto de conciliação foi a gota d’água para que a facção mais radical do partido puxasse o tapete do seu próprio líder, no início de outubro.
Impasse
Desde então, os republicanos escolheram quatro candidatos, mas nenhum conseguiu apoio para obter os 217 votos necessários para se eleger presidente da Câmara. A dificuldade é um reflexo da maioria apertada – 221 a 212, com duas cadeiras vagas -, que permite que a defecção de poucos deputados travem a pauta legislativa.
A escolha dos republicanos coloca um ultraconservador no segundo posto na linha de sucessão à presidência – atrás apenas da vice, Kamala Harris. Johnson é um advogado de 51 anos que se opõe ao direito ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e que desempenhou um papel importante na tentativa de anular as eleições presidenciais de 2020.
Em comunicado após ser eleito, Johnson atribuiu o impasse à diversidade de opiniões dentro da Câmara dos Deputados. “Ela é tão complicada e diversa quanto as pessoas que representamos”, disse. “Mas restauraremos a confiança e promoveremos uma agenda conservadora, combatendo as políticas do governo Biden e apoiando nossos aliados internacionais.”
Guerras
A primeira medida de Johnson será uma resolução de apoio a Israel e condenação do Hamas pelos ataques terroristas do dia 7 de outubro. O deputado é conhecido pela forte ligação que tem com a extrema direita religiosa israelense, que faz parte da coalizão do primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu.
A ligação de Johnson com Israel deve facilitar a aprovação, nos próximos dias, do pacote de ajuda de US$ 14,3 bilhões (por volta de R$ 71,4 bilhões) para Israel. Os US$ 61 bilhões (R$ 304,7 bilhões) para a Ucrânia, porém, ainda são uma incógnita, já que muitos republicanos são contra.
No entanto, o maior desafio de Johnson será aprovar um orçamento definitivo para o próximo ano fiscal. Republicanos e democratas têm até o dia 17 de novembro para fechar um acordo. A facção mais radical dos trumpistas quer cortar programas sociais e levar adiante as audiências de impeachment de Biden. Um grupo de republicanos moderados, porém, teme embarcar na agenda extremista e perder a reeleição no ano que vem. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
Por Cristiano Dias, correspondente
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