As lideranças aprenderam nas suas vidas profissionais e pessoais que não podem demonstrar fraqueza. Isso torna a posição de chefe muito solitária. “Não tem ninguém para compartilhar seus medos e suas experiências de falha”, afirma Raul Aparici, diretor global de aprendizagem da The School of Life, organização britânica especialista em inteligência emocional.
Em entrevista ao Estadão, o especialista diz que para mudar isso é preciso desenvolver a autoconsciência e descobrir “por que é tão assustador falhar ou ser percebido como um fracasso”. A seguir, trechos da entrevista.
O que é inteligência emocional na prática?
A inteligência emocional é a habilidade de entender um pouco melhor nosso mundo interior. No ambiente de trabalho todos nós usamos máscaras. Fingimos que está tudo ótimo. Mas, na verdade, sabemos que por dentro todos estão lutando de alguma forma. Podemos estar sentindo inveja de nossos colegas. Podemos estar nos sentindo inseguros, ter perguntas, mas não queremos fazê-las porque não queremos parecer ou nos sentir estúpidos e impostores. Temos todas essas lutas internas e meio que pensamos que somos os únicos com essas lutas.
Como funciona no dia a dia?
O que a inteligência emocional nos permite é, primeiro de tudo, nomear as lutas para nós mesmos, para entender um pouco melhor como funcionamos, e então perceber que os outros também estão lutando.
Isso significa que, quando alguém vem até mim com raiva, posso olhar por baixo da raiva e tentar entender o que mais pode estar acontecendo com essa pessoa, porque se eles estivessem vindo até nós com lágrimas nos olhos, nossa reação seria muito diferente.
Como os líderes podem desenvolvê-la?
O autoconhecimento e a autoconsciência são os alicerces da inteligência emocional na qual ancoramos todas as diferentes habilidades emocionais que ensinamos nas organizações. Tudo começa a partir de uma base de autoconhecimento, porque as pessoas nos perdoarão por não sermos perfeitos se estivermos cientes das maneiras pelas quais somos imperfeitos. Se eu puder explicar aos outros as maneiras pelas quais sou difícil, eles terão mais compaixão, porque eles também têm maneiras pelas quais são difíceis.
Líderes precisam lidar com pressão diariamente. Então, mostrar-se vulnerável é um desafio. O que líderes podem fazer para driblar o medo e a vergonha de falhar em algum momento?
A primeira coisa a fazer é desenvolver a autoconsciência. Pense por que é tão assustador falhar ou ser percebido como um fracasso. Geralmente, essas coisas têm uma longa história durante a criação, onde a falha não era uma opção, onde pensávamos que tínhamos que ser perfeitos para sermos amados. Aprendemos que admitir a falha não é uma opção, o que então se torna um lugar muito solitário, porque não tem ninguém para compartilhar seus medos e suas experiências de falha. O que significa que também está promovendo uma cultura em que outras pessoas não compartilham suas experiências de falha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Bruna Klingspiegel e Jayanne Rodrigues
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