Nos primeiros meses de 2022, o sino que marca a chegada de um novo negócio ao mercado de ações se manteve silencioso, diante do cenário de volatilidade por causa da guerra entre Ucrânia e Rússia e da proximidade das eleições. O que compensou parte desse “deserto de IPOs” para a Bolsa brasileira, a B3, foram os leilões de ativos públicos.
Nada menos do que 15 eventos do tipo foram realizados no tradicional espaço da antiga Bovespa, no centro de São Paulo, nos três primeiros meses deste ano.
A expectativa é de que esses 15 leilões feitos na B3 gerem R$ 8,8 bilhões em investimentos privados, em dez Estados brasileiros, com a privatização de serviços públicos como saneamento e iluminação, entre outros.
O movimento de licitações de ativos públicos é bem superior ao visto no ano passado: em 2021, os três primeiros meses do ano tiveram dois leilões; no mesmo período de 2020, houve apenas um evento.
A Bolsa atua como assessora de licitações há 30 anos, desde a época da desestatização de companhias como a Usiminas e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
O segmento representa um alento em um momento ruim para as estreias de negócios na Bolsa, mas os leilões não chegam, nem de longe, a compensar as receitas que a B3 teria com uma oferta de ações.
Esse tipo de leilão representa apenas uma fração do negócio total da B3, embora a empresa esteja começando a planejar formas de ampliar esse faturamento.
No balanço do quatro trimestre de 2021, as receitas com esse serviço não são abertas, pois ficam dentro da linha “outros”, que correspondeu a R$ 37,3 milhões no período, representando apenas 1,5% do faturamento total da B3 no período, que somou R$ 2,4 bilhões.
Apesar de ser pouco relevante, a linha “outros” do balanço da Bolsa cresceu 24,8% nos últimos três meses do ano passado, considerada a comparação com 2020.
ESPAÇO PARA CRESCER
O superintendente de processos licitatórios da B3, Guilherme Peixoto Barboza, diz que a antiga Bovespa se envolveu nos leilões justamente porque algumas das empresas estatizadas no passado detinham ações negociadas no mercado. A atual B3, vale lembrar, é resultado da união das antigas Bovespa, Bolsa do Rio, BM&F e Cetip.
“Hoje essa atividade (de leilões de ativos públicos) está mais recorrente. Com isso, a área de assessoria da B3, que temos desde 2017, passou a ter essa prestação mais difundida. Antes fazíamos para o governo federal e alguns Estados. Agora, passamos a atender até mesmo os municípios”, explica Barboza, que em dia de leilão é responsável por bater o martelo e anunciar o vencedor do ativo em disputa.
Segundo o executivo da B3, há espaço para o setor crescer dentro da Bolsa brasileira. Hoje, a área atende apenas o setor público, mas já estão em negociações leilões envolvendo o setor privado. Uma das possibilidades é a venda de créditos de carbono; outra linha possível é a de créditos tributários. “Temos algumas discussões, temos condições de fazer novos projetos neste ano”, comenta Barboza.
CUSTÓDIA
O trabalho da Bolsa de assessorar licitações começa bem antes do dia do leilão em si. Quando o governo federal lança um edital para uma licitação de uma rodovia, por exemplo, há uma data estabelecida para que os interessados entreguem toda a documentação. Toda essa papelada, muitas vezes trazida por advogados nas clássicas malas pretas de viagem, é entregue à B3, que fica responsável por analisar tudo e validar ou não a participação do proponente.
A B3 também faz a custódia das garantias preparadas pelos participantes do leilão, como seguro garantia ou títulos do tesouro. “A B3 é a gestora da garantia dada pelo proponente até a assinatura do contrato”, explica.
Mas e se, quando o mercado voltar à normalidade, houver uma oferta de ações no mesmo dia de uma licitação? Segundo a B3, a chance de “conflito” é pequena, já que as estreias na Bolsa geralmente ocorrem pela manhã, enquanto os leilões são feitos à tarde.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernanda Guimarães
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