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Carro usado ‘envelhece’ para caber no orçamento

A falta de modelos mais populares nas concessionárias e a disparada nos preços do carro zero quilômetro empurraram os brasileiros para o mercado de usados, no qual as vendas batem recorde. O consumidor, porém, tem de rever muitas vezes o seu padrão de exigência para encontrar um veículo que se encaixe em sua realidade financeira.

Segundo levantamento baseado em anúncios publicados no portal da OLX, em 2018 o consumidor conseguia encontrar carros com dois anos de uso por R$ 55 mil. Hoje, só é possível optar por automóveis com cinco anos de uso por esse mesmo valor, corrigido pela inflação. Já os carros com dois anos de uso saem por R$ 80 mil em anúncios divulgados na plataforma.

As vendas de carros usados subiram 18,8% no ano passado, superando pela primeira vez a marca de 11 milhões de unidades desde que o levantamento começou a ser feito em 2004 pela Fenabrave, a associação das concessionárias de veículos. Para cada carro zero quilômetro emplacado, são vendidos quase seis usados.

Embora as pessoas se mostrem mais interessadas em ter carros para evitar o transporte coletivo, os preços são o maior obstáculo. “Mesmo em meio à crise, a intenção de compra de veículos cresceu. Como as concessionárias não estão com estoque elevado (de novos), a margem para negociar o preço é limitada”, diz o economista-chefe da OLX Brasil, Danilo Igliori.

Após quase dois anos sem carro próprio e utilizando os serviços de transporte por aplicativo, o gestor financeiro Newton Nagoshi se viu obrigado a comprar um veículo novamente. Entre os principais motivos estão a necessidade de ir ao trabalho e a dificuldade de se locomover utilizando os serviços da Uber e 99, que sofrem com redução de motoristas. Com os preços dos zero quilômetro nas alturas, a opção foi buscar modelos usados e mais acessíveis. “Queria gastar em torno de R$ 70 mil com algum modelo das montadoras japonesas, mas o carro novo está muito mais caro, chegando a custar R$ 130 mil, por isso comprei um usado”, diz.

JUROS EM ALTA

Com a disparada dos preços, o consumidor está se deparando com um avanço das taxas de financiamento. No caso de Nagoshi, para fugir dos juros mais altos, a alternativa foi pesquisar os preços e adquirir o veículo seminovo à vista, assim reduzindo o valor final pago pelo bem.

Depois de descer de escada, os juros praticados no segmento estão subindo de elevador. De volta ao nível de 2016, os financiamentos de veículos são concedidos agora com juros anuais de 27,5%, conforme as estatísticas de crédito do Banco Central (BC). Em 12 meses, a taxa subiu 8,5 pontos porcentuais, uma alta que não se via desde novembro de 2008.

Essa é a maior escalada de custo do financiamento automotivo em 13 anos, alimentada pela subida da Selic, pelo maior risco de crédito em meio à crise econômica e pelo endividamento das famílias.

Analistas avaliam que as condições financeiras mais restritivas tendem a moderar a demanda. Com consumo e oferta começando a convergir a um ponto de equilíbrio, o preço dos carros deve voltar a acompanhar a inflação média. Em 2021, a alta de 16,1% do automóvel novo superou os 10,1% marcados no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial da inflação. “Esperamos uma desaceleração na tendência de alta dos preços a partir do segundo trimestre”, diz Gabriela Joubert, analista-chefe do banco Inter.

Para o consultor Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, a acomodação da demanda poderá pressionar os bancos das montadoras a subsidiar as taxas de juros para reduzir o custo do financiamento dos automóveis.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Eduardo Laguna e Wesley Gonsalves

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