Apesar do dia levemente positivo em Wall Street, com Dow Jones e S&P 500 em novas máximas de fechamento, o Ibovespa emendou a segunda perda nesta véspera de encerramento de ano para o mercado, com a referência da B3 perto de igualar a queda de 13,31% acumulada ao longo de 2015. Em 2021, o índice recua até aqui 12,53%, limitando a recuperação vista em dezembro a 2,15%, após uma primeira quinzena de mês mais promissora, em que chegou a acumular moderados 6,4 mil pontos até o dia 16 frente ao fechamento de novembro.
Nesta quarta-feira, o Ibovespa fechou em baixa de 0,72%, a 104.107,24 pontos, entre mínima de 103.850,81 e máxima de 105.190,32 pontos, saindo de abertura aos 104.862,93 pontos. Ainda mais fraco do que o das duas sessões anteriores, o giro financeiro ficou hoje em R$ 15,4 bilhões – bem abaixo da faixa superior a R$ 22 bilhões vista na mesma época em 2020, mas não tão distante do giro em torno de R$ 16 bilhões nos dias que precederam o fechamento de 2019. Nesta última semana do ano, o Ibovespa cede agora 0,75% no intervalo.
Entre as blue chips, Vale ON (+0,59%) teve leve recuperação nesta quarta-feira, mas a sessão foi majoritariamente negativa para as ações de maior liquidez e peso no índice, como bancos (Itaú PN -0,84%, Unit do Santander -1,30%) e Petrobras (ON -0,35%, PN -0,83%) – os investidores reagiram a diversas liminares concedidas pela Justiça contra aumento de gás da companhia. Na ponta do Ibovespa, Via (+1,41%), TIM (+1,02%) e Minerva (+0,66%). No lado oposto, Azul (-7,34%), CVC (-7,33%) e Gol (-6,72%).
“Na primeira quinzena, o Ibovespa chegou a ensaiar um rali de final de ano, mas murchou na segunda parte do mês, mais uma vez refletindo problemas domésticos, o que nos deixa em situação mais grave do que as economias desenvolvidas. Há incerteza quanto às eleições do ano que vem, e até onde irá o ciclo de elevação da Selic e de quando a inflação começará a ceder. Os indicadores de níveis de atividade continuaram ruins no mês de dezembro, como os de confiança, vendas do varejo e IBC-Br, em toada bem fraca. Cenário de incerteza política, inflação ainda alta e dados de atividade ruins acabaram por fazer com que o rali do começo do mês não fosse adiante”, diz Leonardo Milane, estrategista-chefe da VLGI Investimentos.
“Para o ano que vem, a Ômicron não deve ser a principal questão, mas sim a indefinição sobre a eleição e o que o governo fará para tentar se reeleger. A busca por recuperação de popularidade tende a levar Bolsonaro a alguma manobra populista que acabe elevando a percepção de risco pelo lado fiscal, como o aumento salarial para o funcionalismo, que pode ser levado para o ano que vem e que contribui para segurar a Bolsa neste patamar atual. Hoje, Bolsonaro está perdendo para Lula em qualquer cenário: ele vai fazer algo, mesmo que seja para morrer atirando, por assim dizer, para reconquistar eleitorado e ganhar tração nas pesquisas”, acrescenta o estrategista.
Nesta quarta-feira, em reunião coordenada pelo Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate), foi aprovado um calendário de mobilização dos servidores públicos por reajuste salarial, incluindo dias nacionais de paralisação previstos para janeiro – o primeiro no dia 18 -, e assembleias em fevereiro para deliberar sobre uma greve geral.
Assim, com incerteza sobre o grau de pressão reivindicatória que o governo poderá enfrentar no começo do próximo ano, o bom desempenho das contas do Governo Central em novembro, divulgado nesta tarde, acima do esperado, não reverteu a trajetória negativa do Ibovespa, com o dólar, no pior momento desta quarta-feira, tendo se reaproximado da marca de R$ 5,70, a R$ 5,6994 – no fechamento, a R$ 5,6934 (+0,95%). Pela manhã, o desempenho de mais um indicador de inflação, o IGP-M, já contribuía para a cautela dos investidores.
“O IGP-M avançou 0,87% em dezembro, após alta de 0,02% em novembro, ficando acima da expectativa do mercado, de 0,74%. No ano, a inflação acumulada chegou a 17,74%, também acima do esperado (17,63%)”, aponta Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, destacando o efeito da leitura sobre a curva de juros. “Os investidores voltam a colocar na conta a probabilidade de o BC acelerar ainda mais o processo de alta da Selic no ano que vem”, ante a falta de “sinais de arrefecimento das expectativas”, acrescenta o analista.
À tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse, na coletiva sobre o resultado do Governo Central, que o governo está bem posicionado para enfrentar 2022 em relação à dívida pública. Segundo Valle, o Tesouro tem caixa bastante confortável, em torno de R$ 1,1 trilhão, o correspondente a 10 meses de vencimento da dívida. “O ano de 2022 não será tranquilo, mas estamos posicionados para dar continuidade à consolidação fiscal.”
Valle disse também que o Orçamento para 2022 foi aprovado com R$ 1,7 bilhão para reajuste, mas que ainda não foram definidas as categorias. “É um assunto a ser definido. É cedo para falar sobre repercussão para demais categorias para além das já contempladas. Premissa até então era de não reajuste em 2022”, completou.
Por Luís Eduardo Leal
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