O Bitcoin (BTC) e o Ethereum (ETH), as duas maiores criptomoedas do mundo em valor de mercado, atingiram seus recordes históricos de preço no início de novembro, quando a primeira chegou a ser cotada acima de US$ 68 mil e a segunda superou a marca de US$ 4,8 mil.
Tomados pela euforia do momento, investidores acreditavam que os ativos seguiriam quebrando recordes no curto prazo, com a estimativa de que o Bitcoin poderia romper a barreira de US$ 100 mil ainda em 2021. De meados para o fim de novembro, entretanto, o BTC passou por correções, fechando o mês a US$ 57 mil. Essa queda de preços foi compreendida pelo mercado como um movimento natural de realização de lucros, e a expectativa era de que o Bitcoin, bem como outros criptoativos, recuperaria o vigor e voltaria a subir no fim do ano.
Mas o contrário aconteceu. Nos primeiros dias de dezembro, o Bitcoin registrou fortes quedas, e chegou a ser negociado abaixo de US$ 43 mil. Uma “tempestade perfeita”, ou seja, uma convergência de fatores negativos para o mercado, frustrou as expectativas dos investidores. “Isso fez com que os investidores tivessem uma quebra de expectativa quanto a um possível ‘rali de fim de ano’, o que gerou uma liquidação em cascata”, avalia Marco Castellari, CEO da Brasil Bitcoin.
Os motivos da queda
Por se tratar de um mercado jovem e altamente volátil, especialistas frequentemente têm dificuldades para chegar a um consenso sobre os motivos das quedas ou altas das criptomoedas. No caso do movimento observado no começo de dezembro, não foi diferente.
Para Daniel Coquieri, CEO e co-fundador da Liqi, plataforma de tokenização de ativos baseada em blockchain, o principal motivo para a queda pode ter sido um movimento especulativo de investidores que operam no mercado futuro. “O mercado de criptoativos tem esses blocos de especulação de preços, e quando uma ponta está muito exposta, acontecem alguns movimentos contrários. Isso foi o que aconteceu: muitos comprados e alavancagens no futuro. Dessa maneira, o mercado caiu muito para liquidar partes dessas posições.”
Em adição ao problema do alto grau de alavancagem, Bruno Milanello, executivo de novos negócios do Mercado Bitcoin, também cita a elevação dos juros nos países desenvolvidos, por conta da alta da inflação, e as incertezas em torno da regulamentação de criptoativos em diversos países como outros fatores que podem ter contribuído para a queda.
Já Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, aponta também o receio dos investidores com a disseminação da variante Ômicron do coronavírus como um dos fatores chave para a recente queda dos principais criptoativos do mercado.
Fed ‘hawkish’ e o mercado cripto
Outro ponto que vem gerando desconfiança entre os entusiastas das criptomoedas no curto prazo é a adoção de uma postura mais “hawkish” pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Isso quer dizer que a instituição deve acelerar o ritmo de redução da compra de títulos públicos, e pode antecipar o início do ciclo de alta dos juros, diante da alta da inflação e da recuperação mais rápida do que o esperado do mercado de trabalho americano.
Orlando Telles, sócio fundador e diretor de research da Mercurius Crypto, explica que a taxa de juros elevada faz com que a relação risco/retorno de mercados arriscados (como o mercado de capitais ou o mercado cripto) se torne menos atraente quando comparado a mercados menos voláteis, incentivando a migração de capital para ativos considerados mais seguros.
Ainda assim, para Daniel Coquieri, é importante ter em mente que o mercado cripto é muito mais do que somente o Bitcoin, e existem inúmeros ativos atrelados a bons projetos e inovações em diferentes áreas que não devem ser impactados pela alta dos juros nos EUA.
“Eu sempre cito, por exemplo, um projeto chamado Helium, que utiliza Blockchain para descentralizar uma rede de dados para IOTs para os devices inteligentes. Então é um projeto que está totalmente desatrelado à especulação”, complementa.
Regulação de criptoativos
A regulação dos criptoativos é um tema que vem trazendo bastante volatilidade ao mercado, além de inspirar discussões acaloradas entre apoiadores e opositores da ideia.
Bruno Milanelo avalia que o impacto da regulação no mercado cripto depende da intenção da medida. Para o executivo, uma regulação favorável às criptomoedas, com o intuito de tornar o mercado mais acessível e confiável para os investidores mais conservadores, poderia ter um impacto positivo, resultando em alta dos preços. Se tratando de uma regulação mais restritiva, visando sufocar o mercado, a perspectiva é de fuga de investidores.
“A regulação nos EUA, em específico, é de grande importância, pois se trata de um dos maiores mercados de cripto e o maior polo financeiro mundial. O que se faz nos EUA acaba sendo referência em muitos outros países, e é preciso ficar bastante atento a qualquer movimento vindo de lá.”
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