Os juros futuros fecharam em queda, e de forma substancial nos vencimentos curtos, em função do quadro de fraqueza da economia indicado pelo PIB do terceiro trimestre e pelo avanço da PEC dos Precatórios, aprovada pelo Senado e com alterações que reduziram o risco de haver uma “farra fiscal”. A percepção de que o Copom não deve acelerar o ritmo de alta da Selic continuou avançando, com as apostas de manutenção do ritmo de aumento de 1,5 ponto porcentual se consolidando como amplamente majoritárias. Com o quadro interno favorável, nem o avanço do yield da T-Note de dez anos nem os ganhos do petróleo conseguiram fazer o contraponto.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 caiu 25 pontos-base, de 11,836% para 11,58% (regular) e 11,535% (estendida). A do DI para janeiro de 2025 recuou a 11,26% (regular) e 11,18% (estendida), de 11,495% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 fechou a regular com taxa de 11,27% e a estendida em 11,15%, de 11,423%.
A queda de 0,1% do PIB no terceiro trimestre na margem veio levemente pior do que a mediana das estimativas, de estabilidade, e puxada pelo tombo de 8,0% da Agropecuária. Com dois trimestres seguidos de retração – o PIB do segundo trimestre caiu 0,4% (dado revisado), a economia tecnicamente estaria em recessão. Embora não tenha sido grande surpresa, o mercado aproveitou a deixa para reduzir as apostas num Copom mais duro, considerando ainda a redução do risco fiscal com o avanço da PEC, que, aprovada, reduz a chance de o governo apelar aos créditos extraordinários – o texto terá de voltar à Câmara.
A PEC foi aprovada em segundo turno com placar folgado de 61 a 10, mas conquistado a partir de uma negociação árdua travada pelo relator Fernando Bezerra (MDB-PE). No primeiro turno, havia sido aprovada após acordo do governo para carimbar o espaço fiscal ao Auxílio Brasil e despesas previdenciárias e limitar o pagamento de precatórios até 2026, e não mais até 2036. Com as concessões, o governo conseguiu votos em bancadas que resistiam a apoiar a PEC.
“A uma semana do Copom, a avaliação é que recessão e Copom ‘hawk’ não combinam. E o avanço da ‘PEC do teto’ no Congresso caminha para estabelecer uma referência para a avaliação do estrago do governo sobre a avaliação de risco derivado do julgamento do mercado sobre as contas públicas”, afirma o Banco Fator, em relatório do economista-chefe José Francisco de Lima Gonçalves.
De acordo com a Greenbay Investimentos, a curva precificava em torno de 25% a 30% de chance de aumento de 175 pontos-base para as reuniões do Copom de dezembro e fevereiro, e entre 70% e 75% de probabilidade de 150 pontos. Para o fim de 2022, projetava Selic entre 12% e 12,5%.
Outro fator que desestimula apostas numa elevação maior que 1,5 ponto é o possível impacto da variante Ômicron na economia. Aos poucos, as autoridades vão anunciando medidas, no mínimo, mais cautelosas quanto à reabertura das atividades em função da nova cepa, como no caso do governo de São Paulo, que voltou atrás na liberação do uso de máscaras em locais abertos a partir do dia 11, e da prefeitura da capital paulista, que cancelou a festa de Revéillon da cidade.
Por Denise Abarca
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