O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central considerou na ata de sua reunião de 18 de novembro que o sistema financeiro das principais economias segue resiliente, com manutenção de níveis de capital e liquidez robustos das instituições financeiras. “Simulações do Banco Central do Brasil e testes de estresse realizados pelas jurisdições indicam que o sistema financeiro global permanece preparado para suportar choques adicionais.”
O BC avaliou que há sinais de excessos no mercado imobiliário de vários países e observou que, para mitigar riscos à estabilidade financeira, algumas jurisdições reativaram, elevaram ou sinalizaram elevação futura de buffers de capital contracíclico.
Em referência à crise iniciada com a gigante Evergrande, o BC disse que os “impactos dos eventos recentes associados com a capacidade de financiamento de grandes incorporadoras imobiliárias na China têm se circunscrito ao mercado imobiliário chinês, sem contágio para outras economias”.
Ainda sobre os mercados financeiros globais, o Comef considerou que o início da remoção dos estímulos monetários em resposta à contínua elevação da inflação nas principais economias tem se refletido em aperto das condições financeiras globais. “Embora as autoridades tenham buscado atuar com alto grau de previsibilidade na condução da política monetária, evitando deterioração abrupta nas condições financeiras globais e correções repentinas e intensas de preços de ativos financeiros, esse risco segue presente.”
Apetite ao risco
O Comef do Banco Central indicou como ponto de atenção na ata que o apetite ao risco das instituições financeiras no País segue aumentando, com destaque para algumas modalidades de crédito para famílias. “O Comef avalia que é importante que os intermediários financeiros continuem preservando a qualidade das concessões.”
Segundo o Comef, o crédito não consignado tem crescido principalmente em operações com tomadores que possuem maior risco. Além disso, conforme o comitê, as concessões de crédito imobiliário continuam historicamente elevadas, embora o aumento das taxas de juros tenda a arrefecer esse ímpeto, com pressão sobre o funding e o spread da modalidade.
De maneira geral, o Comef afirma que os resultados dos testes de estresse mostram que o sistema está resiliente. “A avaliação de cenários de estresse macroeconômico indica que o sistema não apresentaria problema relevante, caso os cenários considerados se concretizassem.”
O comitê avalia que o crescimento do crédito amplo no Sistema Financeiro Nacional é condizente com os atuais fundamentos econômicos, e é verificado em diversos segmentos.
Segundo o colegiado, para pessoas físicas, modalidades estimuladas pelas taxas de juros historicamente baixas ou associadas à retomada econômica estão entre as que apresentam maior crescimento.
Já o crédito às micro e pequenas empresas continua sendo estimulado por programas governamentais, notadamente o Pronampe, e pela flexibilização do distanciamento social. As empresas de maior porte, por sua vez, beneficiam-se do aquecimento do mercado de capitais, segundo o Comef.
O Comitê também avalia que as instituições financeiras têm mantido provisões adequadas, acima das estimativas de perdas esperadas, e afirma que os ativos problemáticos (APs) seguem tendência de queda.
No crédito às empresas, a redução dos APs decorre da melhora da capacidade de pagamento das empresas. “Apesar da queda dos APs relacionados às pessoas físicas, algumas modalidades, como financiamento habitacional e de veículos, requerem atenção, pois apresentam materialização de risco superior àquela de antes da pandemia.”
O BC também comenta na ata que os níveis de capitalização e liquidez do Sistema Financeiro Nacional mantiveram-se superiores aos requerimentos prudenciais. A ata aponta que a solvência continua melhorando e a rentabilidade manteve recuperação, principalmente devido à redução nas despesas com provisão, compensando o aumento do custo de captação. “A marcação a mercado resultante da elevação das curvas de juros ocorrida no início do quarto trimestre não causou impacto relevante sobre a capitalização ou sobre a liquidez do SFN”, completa.
Outro ponto de atenção, segundo o Comef, é o risco de aperto abrupto e desordenado das condições financeiras globais em meio ao processo inflacionário mundial e o início do processo de normalização monetária de países avançados.
O Comef afirma que a materialização desse risco poderia levar à reprecificação desordenada dos ativos e ao aumento da aversão ao risco, com efeitos negativos para a taxa de câmbio, os fluxos de investimento e as condições de financiamento para as economias emergentes. “Questionamentos dos mercados a respeito de riscos inflacionários nas economias centrais podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes. O Comef avalia que a exposição do SFN ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de funding externo é pequena.”
Por fim, o comitê avalia que a pressão sobre o custo de manutenção de liquidez arrefeceu. Segundo o Comef, os prazos das captações permanecem inferiores aos do período pré-pandemia, com prevalência de instrumentos de liquidez imediata. “O Comef avalia que o atual ciclo monetário afasta o desafio do custo de manutenção de liquidez que se apresentava às instituições financeiras, uma vez que, aos atuais níveis de taxas de juros, o custo dos passivos referenciados à taxa básica da economia se assemelha ao dos passivos com parte da remuneração prefixada. Com isso, a remuneração dos ativos líquidos se aproxima do custo das captações no SFN.”
Por Thaís Barcellos
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