Apesar da perspectiva de um cenário turbulento para os mercados brasileiros em 2022, a casa de análise independente Gavekal Research avalia que a alta demanda por commodities no exterior e os valuations atrativos das companhias listadas na B3 são bons motivos para que os investidores aceitem correr os riscos ligados à política e ao fiscal.
Na visão do analista Udith Sikand, da Gavekal, o mundo está diante de um “boom inflacionário”, que deve beneficiar países exportadores de commodities, como o Brasil. O País produz insumos necessários para a indústria global, como minério de ferro e petróleo, além de alimentos, que atravessam uma disparada de preços em todo o mundo, com destaque para os setores de proteína animal e grãos.
Por outro lado, a delicada situação das contas públicas brasileiras e a perspectiva de um cenário político conturbado inspiram cautela nos investidores, derrubando os preços das ações das companhias brasileiras. De olho nisso, Sikand levanta o seguinte questionamento: devido ao valuation atrativo dos ativos brasileiros, há um excesso de cautela da parte do mercado?
Sustentabilidade da dívida
Para avaliar se a dívida pública brasileira é sustentável, o analista se mune de 3 variáveis chave: o resultado primário da União, a taxa de juros real e a taxa de crescimento real do PIB. Para que a dívida pública seja considerada sustentável, é preciso que o crescimento real seja maior do que a taxa de juros real. Entretanto, as projeções indicam que, nos próximos anos, o Brasil deve conviver com uma taxa de juros real de cerca de 5% ao ano, enquanto o crescimento médio anual do PIB deve ficar em torno de 2%.
Apesar desse cenário adverso, a Gavekal destaca que quando os preços das commodities sobem, o crescimento econômico do Brasil tende a crescer. O motivo pelo qual essa expansão não vem sendo notada no contexto atual é a alta da inflação, impulsionada pelos altos preços das matérias-primas, o que vêm demandando uma resposta do Banco Central (BC) na forma de aperto monetário.
Para Udith Sikand, porém, mudanças na política monetária brasileira observadas nos últimos anos indicam que o País não deve “sufocar seu crescimento econômico no nascimento”.
BNDES e contas públicas
Em 2017, quase 20% de todo o crédito era oferecido com taxas subsidiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para a Gavekal, “o governo havia encurralado todo mercado de crédito de maneira a favorecer as empresas politicamente bem conectadas”. Para aqueles que não dispunham de tais conexões políticas, o efeito desses subsídios era a alta do custo do crédito.
Essa realidade começa a mudar em 2018, quando o BNDES passou por uma reforma, que tornou o sistema de empréstimos do banco mais transparente, além de fazer com que as taxas de juros cobradas pela instituição se aproximassem da taxa Selic.
A oferta de crédito com juros subsidiados como era feita antes da reforma tinha como efeito colateral um aumento do custo da dívida pública, forçando o governo federal a emitir títulos da dívida com taxas variáveis e vencimentos relativamente curtos. Caso a reforma do BNDES traga o efeito esperado, ela deve resultar em uma redução dos prêmios pagos pelo governo brasileiro.
Recuperação pós-pandemia
Após registrar um déficit primário de R$ 743,1 bilhões em 2020, em decorrência da queda da arrecadação do governo e do aumento dos custos com programas de apoio a vulneráveis, a trajetória fiscal já dá sinais de melhora, e o déficit de 2021 deve ser significativamente menor.
Além disso, a perspectiva de retomada do crescimento econômico e redução dos juros nos próximos anos também devem contribuir para tornar a dívida pública brasileira mais sustentável, destaca a Gavekal.
“Portanto, a combinação de crescimento econômico mais alto e uma taxa de empréstimo estruturalmente mais baixa deve significar que a melhora fiscal do Brasil não se trata de um evento isolado”, conclui Sikand.
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