A adoção de uma postura mais agressiva pelo Banco Central (BC) no combate à inflação pode beneficiar as instituições financeiras, enquanto deve prejudicar o desempenho de empresas com maior grau de alavancagem no curto prazo, conforme avaliam gestores e economistas.
De olho no avanço das estimativas para a inflação no País, na esteira dos eventos recentes que agravaram a já delicada situação das contas públicas brasileiras, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual na reunião de outubro, sinalizando que deve realizar outra elevação da mesma magnitude na próxima reunião.
Para o economista Daniel Xavier, do Banco ABC Brasil, a alta dos juros é um movimento necessário na atual conjuntura, já que o avanço dos preços “é ruim para o planejamento das empresas e demais agentes econômicos – todos acabam perdendo renda real”. Apesar de necessário, esse movimento produz efeitos colaterais no mercado brasileiro de ações, que precisam ser levados em consideração.
Quem deve sair perdendo
De maneira geral, o quadro de incerteza fiscal, agravado pelo ambiente político tenso, prejudica os ativos de renda variável, já que leva os investidores a buscarem por opções de investimento consideradas mais seguras, especialmente dentro da renda fixa.
Para o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, a alta dos juros vem minando as projeções para o crescimento da economia brasileira em 2022 e 2023, o que pode impactar os resultados das companhias listadas na Bolsa brasileira nesse período.
O analista assinala que, por ora, o impacto da alta dos juros sobre os balanços das empresas ainda é pequeno, mas os investidores já precificam a influência da Selic mais elevada sobre os resultados dos próximos trimestres, período no qual era esperada uma recuperação mais vigorosa da economia, passado o momento mais crítico da pandemia de Covid-19.
Em linha com essa visão, o time da gestora FCL Capital chama a atenção também para a possível desaceleração de planos de expansão e crescimento de empresas, em graus diferentes em diferentes setores e negócios, uma vez que a trajetória de aperto monetário gera restrições ao crédito.
Dentre as empresas que podem ser prejudicadas, a equipe da Forpus Capital, gestora independente, destaca aquelas que possuem alto grau de alavancagem, além das companhias com múltiplos esticados, ou seja, aquelas que são negociadas por um preço muito superior ao lucro que geram, por conta da perspectiva de crescimento mais tímido.
Quem pode sair ganhando
Por outro lado, Daniel Xavier avalia que a alta dos juros pode beneficiar pontualmente bancos e seguradoras. Os bancos devem ser favorecidos por um aumento do spread bancário, ou seja, a diferença entre os juros pagos pelo banco ao captar recursos e os juros cobrados do cliente, enquanto as seguradoras contarão com taxas de retorno mais altas para seus investimentos em renda fixa.
Outro benefício da Selic mais alta, conforme destaca Régis Chinchila, é a possibilidade de alívio cambial. A valorização do real frente ao dólar pode impulsionar os resultados de companhias que dependem de insumos importados.
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