O Ibovespa conseguiu limitar as perdas ao longo da tarde para fechar o dia em baixa de 1,34%, aos 106.296,18 pontos, tendo chegado na mínima desta sexta-feira aos 102.853,96 pontos, menor nível intradia desde 13 de novembro de 2020 (102.508,77), com giro financeiro muito intenso, a R$ 58,7 bilhões. O nível de fechamento foi o menor desde o último dia 20 de novembro (106.042,48 pontos).
O Ibovespa, que mais cedo havia chegado a cair quase 5 mil pontos entre a mínima e a máxima do dia, de 107.749,34 pontos, fechou a semana com perda de 7,28%, que chegou a se aproximar de 10% no pior momento da sessão – na semana anterior, avançou 1,61%, vindo de leves perdas de 0,06% e 0,34% nas precedentes.
Ainda assim, foi o pior desempenho semanal desde o auge do temor sobre a pandemia, em março de 2020, superando por pouco a do intervalo encerrado em 30 de outubro de 2020 (-7,22%), há quase um ano, quando prevalecia cautela desde o exterior com a eleição americana – aquela semana fora a pior para o Ibovespa desde o tombo de 18,88% entre 16 e 20 de março, o intervalo que precedeu o início da quarentena e que se mantém, até aqui, como o ponto mais baixo da pandemia. No ano de 2021, o Ibovespa cede agora 10,69%, com perda de 4,22% no mês de outubro.
Nesta sexta, com a acomodação da percepção de risco ao longo da tarde, ações como as de Petrobras e as de grandes bancos, de forte peso no Ibovespa, encerraram o dia limitando a correção vista mais cedo, quando mostravam perda em torno ou acima de 5% na sessão. Ao final, as quedas ficaram entre 0,45% (Unit do Santander) e 3,84% (Itaú PN) nas maiores instituições financeiras, e entre 0,98% (PN) e 1,97% (ON) para as de Petrobras.
Reagindo ao preço do minério de ferro na China (+2,22%), o desempenho de Vale (ON +1,22%) e de ações de siderurgia (Gerdau Metalúrgica +2,08%, Usiminas PNA +1,34%) contribuiu desde cedo para que as perdas do índice da B3, superiores a 4% no pior momento desta sexta-feira, não fossem ainda maiores.
Movidas pelo fortalecimento de 3,16% do dólar ao longo da semana, Klabin (+7,56%) e Suzano (+7,32%) seguraram a ponta positiva do Ibovespa na sessão, à frente de Qualicorp (+2,81) e Gerdau Metalúrgica (+2,08%). Na face oposta, novo dia de realização de lucros em Getnet (-15,52%), à frente de Locaweb (-8,89%) e Banco Inter (Unit -6,65%).
Desde cedo, os rumores quanto a eventual saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, após os pedidos de exoneração apresentados na noite anterior por quatro importantes secretários das áreas de Tesouro e Orçamento, acentuaram os temores do mercado quanto à direção do fiscal no caminho para 2022, ano eleitoral, punindo severamente os ativos brasileiros.
No meio da tarde, contudo, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Guedes falaram lado a lado, em visita do mandatário ao gabinete da Economia, após a qual Bolsonaro reiterou “confiança absoluta” no ministro, com quem disse se entender “muito bem”. “Guedes entende as aflições que o governo passa”, acrescentou o presidente. “Entendemos que a economia está ajustada, não existe solavanco ou descompromisso de nossa parte”, afirmou o presidente, que observou também não estar disposto a “aventuras”.
“Em nenhum momento, presidente insinuou nada semelhante demissão”, acrescentou o ministro. “Não pedi demissão em nenhum momento”, ressaltou Guedes.
A busca por uma imagem de pacificação entre o presidente e o ministro contribuiu para firmar a limitação de perdas na Bolsa e a acomodação do câmbio, que já vinham sendo observadas antes da manifestação conjunta, com o dólar, após máxima do dia a R$ 5,7545, estabilizando-se entre R$ 5,66 e R$ 5,67 no meio da tarde, e passando depois a viés de baixa na sessão, com mínima a R$ 5,6223 e fechamento a R$ 5,6273 (-0,71%).
A rápida definição do servidor de carreira Esteves Colnago, ex-ministro do Planejamento no governo Temer e que já integrava o quadro de Guedes na Economia, para a secretaria especial do Tesouro e do Orçamento, no lugar de Bruno Funchal, foi recebida de forma favorável, contribuindo para limitar a percepção de risco.
“O rompimento do teto foi bem precificado e a aparição de Bolsonaro e Guedes juntos traz um pouco mais de tranquilidade, embora ninguém tenha gostado dessa notícia da semana, a ruptura do teto, uma medida populista, 100% voltada para eleição”, diz Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual. “A curva de juros abriu bastante, permitindo encontrar prefixados com taxas melhores, em momento de risco para a renda variável, para as ações.”
Para Viviane, a depender da definição dos novos nomes para recompor o Tesouro, e dos desdobramentos da próxima semana, pode haver alguma recuperação gradual tanto para o real como para o Ibovespa, que esta semana esteve bem descolado de Nova York, com S&P 500 em novo pico histórico, refletindo a positiva temporada de balanços trimestrais nos Estados Unidos.
“A debandada no Tesouro foi uma sinalização ruim, deixando Paulo Guedes isolado, o que explica a reação negativa, estressada, do mercado”, diz Leonardo Milane, sócio e economista da VLG Investimentos, para quem a “poeira não está baixando”, com outros fatores de risco ainda pendentes no curto prazo, como a possibilidade de paralisação de caminhoneiros. “A curva de juros abriu mais ainda. O estouro do teto mostra que o Guedes não está mais lá para impedir que o teto seja furado”, acrescenta Milane, observando que, na prática, “com teto furado, o mercado precifica que o ministro já caiu”.
Nesta sexta, ao lado de Bolsonaro, Guedes tentou se desvincular da imagem de “fura-teto”. Segundo o ministro, seu papel é o de avaliar o limite de aumento de gastos para não abalar os fundamentos fiscais. Em outro momento, Guedes disse que a mudança no indexador do teto de gastos é “defensável tecnicamente” e que não altera os fundamentos fiscais da economia.
Por Luís Eduardo Leal
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