Os juros fecharam em alta, pressionados preocupações com a estagflação global, alta no rendimento dos Treasuries e no dólar, além de pessimismo com o cenário fiscal. O petróleo subiu em parte do dia, ajudando a adicionar cautela, mas depois inverteu para queda e contribuiu para que as taxas locais reduzissem o fôlego, também na esteira da desaceleração do avanço do dólar e das taxas do Tesouro norte-americano. A movimentação de caminhoneiros para uma possível paralisação traz ruído adicional, mas por ora não se vê risco de evoluir para o que houve em 2018.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou com taxa de 9,355%, de 9,29% no ajuste de sexta-feira. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 10,27%, de 10,205% no ajuste de sexta, e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 10,583% para 10,66%.
A desaceleração da China além do previsto trouxe mau humor aos mercados, ampliado depois pela queda inesperada da produção industrial nos Estados Unidos. Aqui, saiu mais uma Pesquisa Focus com piora nas estimativas de inflação e PIB.
As curvas globais têm sido afetadas pelas perspectivas de aperto nas condições de liquidez e no Brasil não é diferente, em meio aos desafios de domar a inflação, mesmo com sinais preocupantes para atividade. Na Focus desta segunda-feira, a mediana para o IPCA de 2021 subiu a 8,69% e a para 2022, para 4,18%, cada vez mais distantes do teto (5,25%) e do centro (3,5%) da meta de inflação para este e o próximo ano. Ao mesmo tempo, a das previsões para o PIB este ano caiu a 5,01% e a de 2022, para 1,50%. Para a Selic, as medianas para 2021 e 2022 permaneceram em 8,25% e 8,75%.
Não passa despercebido que diretores do Banco Central já começam a redirecionar o discurso sobre a próxima reunião do Copom. Recentemente, três deles lembraram que a ideia inicial é a de manter o ritmo de aperto da Selic em 1 ponto porcentual, mas que este nunca foi um compromisso fechado da autoridade monetária.
Ao longo do dia, aversão ao risco arrefeceu, abrindo espaço para melhora na curva, mas não capaz de reverter a alta das taxas por completo. O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, disse que a desaceleração da China foi uma das poucas novidades do dia e que os DIs seguiram reagindo aos mesmos temas de antes, destacando que a pesquisa Focus “não foi boa”. “Há ainda expectativa com as decisões fiscais da semana, que não se sabe se serão muito ruins ou só ruins”, comentou.
Os principais focos em Brasília são a PEC dos Precatórios, que pode ser votada nos próximos dias na Câmara, onde o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), disse esperar uma vitória tranquila. O problema é à frente, no Senado, onde o governo enfrenta mais resistência. Lá também está aguardando discussão a proposta de reforma do imposto de renda aprovada pelos deputados.
“O Senado é o principal entrave para o progresso na agenda da PEC dos precatórios, reformas administrativa e tributária”, disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.
Quanto à decisão dos caminhoneiros, que declararam estado de greve no sábado e ameaçam parar o País a partir de 1º de novembro caso o governo federal não atenda às suas reivindicações, o mercado está cético de que a situação possa evoluir para algo que comprometa a economia. “Fica no radar e é motivo de desconforto, mas seria uma surpresa se fosse algo como o de maio de 2018”, comentou Caramaschi, para quem dessa vez não há tanta coordenação em relação às pautas e adesão dos profissionais.
Por Denise Abarca
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