Quando o Diretor de Política Monetária do BC avaliou que é sempre melhor um mercado de câmbio em que a autoridade monetária não interfira, mas que a autoridade tem estado atenta desde setembro, e o organismo, coincidentemente, passa a demonstrar maior interferência, a leitura que fica é que não é uma mensagem proativa, mas tão somente a constatação do que deveria ter sido feito ao seu tempo e não o foi com eficácia e pontualidade.
A máxima em câmbio do ponto de vista direcional pelas autoridades deve ser sempre “faz-se e se explica depois”, quando esta ordem é invertida, naturalmente, é justificativa da omissão. Causa ruídos e pequenas repercussões, mas não altera o “status quo” e nem a tendência.
Temos sido críticos da política monetária, especialmente do binômio câmbio e juros no Brasil, até porque não há país no mundo que deixa este assunto “correr solto”, como até sugere do Diretor do BC, é algo sempre monitorado dado a sintonia fina que precisa existir entre ambos e, no Brasil, inegavelmente houve descuidos.
Temos destacado, e o estudo dos fundamentos econômicos e não as torcidas partidárias haverão de reconhecer em algum momento, que a inflação forte e alavancada presente teve seus alicerces estabelecidos antes mesmo da pandemia do coronavírus por uma estratégia mal sucedida de dinamizar a atividade econômica que não logrou o êxito esperado e não foi revertida a tempo.
Quando as pressões efetivas internas inflacionárias chegaram, já tínhamos construído a base inflacionada pelos preços das commodities que rebotaram seus preços externos para nossa economia doméstica, onde ainda não havia escassez.
Agora o que temos é inflação com viés consolidado e praticamente irreversível no curto/médio prazo já que a economia já adequou seus rendimentos fixos a patamar em torno de IPCA + 4/5%aa, portanto acima de 10%, enquanto a Selic ficou a reboque atrás da curva.
Naturalmente, quando o BC procura interferir no câmbio visa conter a expansão do preço do ativo de mais rápida contaminação dos preços, mas devemos concordar que é praticamente impossível resgatar os erros do passado recente que tornam a situação instalada irreversível.
A inflação está dada e o seu viés de alta aquecido, o que pode acontecer é conter ainda que parcialmente a sua dinâmica, mas não inverter tendência.
Nem mesmo se o BC/Copom acentuar a elevação da taxa Selic doravante, acreditamos, poderá esperar movimento reversivo do cenário atual.
O “transbordo” deste contexto para 2022 é bastante factível, há um sentimento de que “não vai dar tempo” para alterar com segurança o dano presente.
O BC tende a continuar ofertando contratos de swaps cambiais, seja para o “overhedge” seja para atender demanda por segurança, mas estas intervenções estimulam a volatilidade que se acentua, e o mercado gosta porque permite giro e volume.
Fluxo cambial mesmo, em setembro tivemos negativos US$ 3,125 Bi no financeiro e em no financeiro até dia 8 temos negativos US$ 656,0 Mi, valores não tão expressivos quanto propagados.
Os bancos até reduziram suas posições vendidas no mercado a vista de julho para agosto de US$ 13,5 Bi para US$ 10,1 Bi e em setembro voltaram a elevar para US$ 11,3 Bi, volumes bastante discretos.
Não acreditamos que ocorra mudança substantiva no comportamento do câmbio no Brasil, volatilidade e discreto viés de alta mantido.
À margem, fatos que podem afetar o ânimo dos mercados, greve dos caminhoneiros no Brasil e agravamento da situação da China com problemas de queda da atividade e agravamento da crise no setor imobiliário.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Corretora de Câmbio
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