A Bolsa brasileira ainda tem empresas de qualidade que podem se beneficiar da retomada econômica e se destacar em outubro, mas a diversificação é fundamental para mitigar os riscos da atual conjuntura, de acordo com a visão de gestores e analistas consultados pelo Mercado News.
Após um mês de setembro conturbado, tanto no cenário doméstico quanto no exterior, muitas empresas listadas na B3 entram em outubro sendo negociadas a preços atrativos. Por outro lado, o ambiente político instável, marcado pelas indefinições acerca de temas prioritários, como a reforma do Imposto de Renda e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios, demanda cautela da parte dos investidores.
De acordo com a equipe da gestora Forpus Capital, “a diversificação é uma boa estratégia, especialmente em momentos mais desafiadores como o atual”. Para a Forpus, o momento de alta volatilidade da Bolsa faz com que empresas de qualidade apresentem um valuation bastante atrativo, e é de olho nesse cenário que a gestora realizará uma abertura pontual do fundo de investimento Forpus Ações FIC FIA, do dia 25 ao 29 de outubro, ou até captar R$ 300 milhões.
Luis Sales, estrategista-chefe da Guide Investimentos, também avalia que existem bons ativos na Bolsa, que sofreram perdas relevantes nos últimos meses, e o momento atual pode apresentar boas oportunidades de entrada para os investidores. O economista cita os papéis de grandes bancos, as ações da B3 (B3SA3) e a mineradora Vale (VALE3) como exemplos de ativos que vêm sendo negociados a preços baixos em relação aos seus resultados operacionais, mas avalia que os setores de varejo, construção civil e shoppings ainda devem passar por turbulências.
Economia brasileira
Outubro também é marcado pelo pagamento da última parcela do auxílio-emergencial, o que reforça a discussão sobre o novo programa de distribuição de renda proposto pelo governo federal, o Auxílio Brasil, que pode substituir o Bolsa Família. Segundo Daniel Xavier Francisco, do Banco ABC Brasil, o mercado aguarda uma definição sobre o tema no decorrer do mês, mas a implementação do novo programa depende da aprovação do parcelamento das dívidas da União com precatórios.
A deterioração das perspectivas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 é outro ponto que traz preocupação. No último Relatório de Mercado Focus de setembro, divulgado na segunda-feira (27), a projeção de crescimento do PIB recuou de 1,63% para 1,57%. Ao mesmo tempo em que as previsões para a atividade econômica são revisadas para baixo, o mercado aposta em alta dos juros, e o ABC Brasil projeta que a taxa Selic deva chegar a 9% em fevereiro de 2022.
De olho nesse cenário, Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais, avalia que outubro deve ser um mês tão volátil quanto foi setembro, e enxerga ainda que a situação delicada dos mercados do Brasil deve perdurar, adentrando o ano de 2022, em decorrência da adoção de medidas populistas pelo governo federal, de olho nas eleições. A crise pode ser agravada também pela letargia na tramitação das reformas no Congresso. “As reformas não andam, e quando andam, não são suficientes para colocar o Brasil em uma rota segura, […] o quadro fiscal continua precário e o nível de endividamento também”, complementa Bandeira.
Mercado global
Para Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital, a alta volatilidade deve se fazer presente na maioria dos mercados ao redor do globo, sendo mais forte nos mercados emergentes.
“Nós temos uma crise energética aflorando em todo o mundo, não apenas no Brasil, mas a China está sofrendo com esse problema, e outros países também. Nós temos um gargalo de oferta de suprimentos que está interrompendo linhas de produção e encarecendo muito os produtos, e temos ainda a proximidade do ‘tapering’ (retirada de estímulos do Fed à economia norte-americana). Esses três fatores acabam trazendo muita incerteza para o mês de outubro”, diz o gestor.
Diante dessa conjuntura global, Ubirajara Silva cita a importância de monitorar a curva de juros durante o mês, uma vez que ela vem em alta nas últimas semanas, e acompanhar o dólar, após o Banco Central (BC) sinalizar uma certa preocupação com o atual patamar do câmbio, passando a realizar leilões semanais na tentativa de conter o avanço da moeda norte-americana frente ao real.
EUA
Nos EUA, o principal ponto de atenção neste mês continua sendo a redução dos estímulos monetários. Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, destaca que a redução deve se iniciar por volta de novembro, de acordo com o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), e tende a ocorrer de maneira gradativa.
Além disso, conforme destaca Vicente Zuffo, CIO da gestora Chess, chama a atenção a discussão sobre o aumento do teto da dívida pública americana, que deve ser aprovado no Congresso, “mas deve se arrastar até a data limite, em meados de outubro”.
China
Já a China enfrenta uma desaceleração da atividade econômica, o que pode afetar os preços das commodities no mercado global, com destaque para o minério de ferro, segundo Régis Chinchila. A situação fiscal da incorporadora Evergrande também segue no radar, enquanto o governo chinês busca maneiras de evitar que a crise da companhia contamine o restante da economia do país, uma vez que a dívida de US$ 300 bilhões da empresa é considerada impagável e o risco de colapso é iminente.
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