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Bolsa cai e acumula queda de 6,57% em setembro

O principal índice da B3 fechou a quinta-feira em queda de 0,11% (Foto: Espaço B3/Divulgação)

O Ibovespa bambeou para o negativo nesta última sessão do mês e do trimestre, um como outro também desfavoráveis. O índice havia conseguido se firmar em leve alta ao longo de boa parte da tarde, mesmo em dia majoritariamente negativo no exterior ante impasse sobre o teto de gastos nos Estados Unidos, e com pressão adicional sobre o câmbio e os juros futuros no Brasil, em meio à retomada de temores sobre a situação fiscal doméstica, com as negociações sobre o Auxílio Brasil e a tramitação da PEC dos Precatórios. Ao final, mostrava leve baixa de 0,11%, aos 110.979,10 pontos, entre mínima de 110.742,83, do fim da tarde, e máxima de 112.371,02 pontos, com giro financeiro a R$ 42,1 bilhões no encerramento. Na semana, cede agora 2,03%.

Contido por diversos fatores de incerteza, aqui e fora, o Ibovespa tentou e não conseguiu emendar nesta quinta o segundo dia de recuperação moderada, o que, de qualquer forma, não impediria que setembro alongasse a série negativa iniciada em julho, que colocou o terceiro trimestre de 2021 como o segundo pior da pandemia, superado apenas pelo intervalo entre janeiro e março de 2020, quando o índice cedeu 36,86%, em leitura recorde. Até então, a maior perda acumulada em um trimestre, de 31,88%, havia ocorrido entre julho e setembro de 1998 – antes, em 1995, houve queda de 31,58% no primeiro trimestre ante o quarto de 1994, de acordo com AE Dados.

Mesmo com o pior momento da pandemia cada vez mais para trás, em setembro o índice acumulou perda de 6,57% no mês, vindo de quedas de 2,48% e 3,94%, respectivamente, em agosto e julho – no agregado trimestral, a correção negativa foi de 15.822,56 pontos, ou 12,47%. Tendo encerrado o segundo trimestre aos 126.801,66 pontos – não muito distante então do recorde histórico de fechamento, de 7 de junho, aos 130.776,27 pontos -, o Ibovespa acumulou ganho de 8,01% no intervalo abril-junho, após perda de 2,00% nos três primeiros meses do ano, o que colocou os ganhos do semestre a 6,54%. No ano, o índice vira diametralmente e cede 6,75% ao fim do terceiro trimestre. Setembro foi o terceiro pior mês desde o início da pandemia, superado apenas por março e fevereiro de 2020, quando cedeu 29,90% e 8,43%, respectivamente.

No meio do dia, rumor de que o secretário especial do Tesouro e do Orçamento, Bruno Funchal, teria feito avaliação muito pessimista sobre gastos públicos, em reuniões fechadas promovidas pelo BTG e pela XP com bancos e fundos, contribuiu para piora nos ativos, com pressão sobre os juros futuros e o Ibovespa oscilando, ainda que pontualmente, para o negativo. Funchal teria reiterado também que não participaria de quaisquer iniciativas quanto a gastos adicionais com auxílio emergencial.

Para driblar resistências do Ministério da Economia, integrantes do governo defendem nos bastidores a inclusão da prorrogação do auxílio emergencial na PEC dos Precatórios, em tramitação no Congresso, reportam de Brasília as jornalistas Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. A previsão constitucional da extensão do benefício derrubaria o argumento dos técnicos da área econômica de que não há hoje fundamento legal para uma nova rodada da ajuda aos vulneráveis.

Apesar de a situação fiscal doméstica ainda assombrar os investidores, as empresas do setor de commodities contribuíram para mitigar as perdas do Ibovespa, “com o PMI industrial chinês interrompendo o movimento de queda recente”, observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Destaque para o setor de siderurgia, com Gerdau PN em alta de 3,95%, CSN ON, de 3,05%, e Usiminas PNA, de 2,68%, vindo o segmento de longa correção decorrente do ajuste negativo nos preços do minério de ferro em setembro – em estabilização e recuperação recente. Vale ON fechou em leve alta de 0,58%, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 0,07% e 0,58%.

Nos Estados Unidos, as bolsas também fecharam em queda, com destaque para o Dow Jones (-1,59%) e para o S&P 500 (-1,19%), “em vista da preocupação dos investidores com a economia, em especial sobre o rumo da inflação – após mais um discurso do presidente do Fed, Jerome Powell“, acrescenta o analista. Nesta quinta, Powell reiterou que o Fed monitora “com cuidado” as expectativas de inflação, durante audiência na Câmara dos Representantes, e disse que, no médio e no longo prazo, as expectativas de inflação no país coincidem com a meta de 2%. Ao mesmo tempo, voltou a repetir que, se necessário, o BC usará “todos os instrumentos” à disposição para levar a trajetória dos preços rumo à meta.

Na ponta do Ibovespa, PetroRio fechou o dia em alta de 9,50%, Locaweb, de 4,86%, e Gerdau PN, de 3,95%. No lado oposto, pelo terceiro dia, Banco Inter (Unit -7,26%, PN -5,83%), desta vez à frente de Cielo (-4,58%) e de CVC (-3,93%). Os grandes bancos tiveram desempenho misto na sessão, entre perda de 2,91% (Unit do Santander) e leve ganho de 0,14% (Bradesco PN).

Em dólar, o Ibovespa fechou setembro a 20.377,34 pontos, vindo de fim de agosto a 22.966,61 pontos, após julho a 23.378,71 pontos e a 25.496,99 pontos no encerramento de junho, tendo chegado a superar a marca de 26 mil no início daquele mês, com o índice da B3 então na máxima histórica também no intradia, a 131.190,30 pontos em 7 de junho, e com dólar a R$ 5,0324 no mesmo dia – foi então a 26.069,14 pontos, superando as marcas observadas em maio, com a moeda americana chegando a R$ 4,90 no melhor momento de junho.

“O fechamento de setembro foi bem negativo, após uma manhã que sugeria algo melhor para a sessão, o que envolveu também briga para o fechamento da Ptax (no meio do dia) – dólar ameaçou ceder bastante e acabou virando, devolvendo a queda a partir ali das 9h40, 9h50, logo antes da primeira janela da Ptax, com o mercado ainda digerindo o relatório trimestral de inflação”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos. “Tivemos outros pontos que pesaram para o Ibovespa no mês, além de auxílio emergencial e teto de gastos, e todo o ‘taper talk’ em torno do que o Fed fará, se a economia continuará a caminhar, com as próprias pernas, quando esses estímulos forem retirados (nos EUA)”, acrescenta.

Por Luís Eduardo Leal

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