O empresa de ensino superior Ser Educacional (SEER3) está confiante que o setor irá passar por um de seus “melhores momentos da história” na retomada econômica, afirmou Rodrigo Alves, diretor de Relações com Investidores, em entrevista ao Mercado News. A companhia, que está focando em ampliar seu ecossistema a partir da fusão com edtechs, prevê uma retomada sólida na virada do ano.
Buscando um ambiente omnichannel (multicanal), a Ser tem entrado cada vez mais no segmento da educação continuada, com cursos que podem ser online, presenciais ou mistos. Esse projeto vem sendo auxiliado pela integração de edtechs, como a Beduka, a Prova Fácil e a Gokursos.
Somando 8 aquisições desde dezembro de 2020, a Ser está em vias de aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para adquirir a Fael, instituição da região Sul, forte no EAD (ensino a distância), e que ajudará a Ser a chegar a mais de 300 mil alunos só de ensino superior.
“A Ser Educacional está muito bem posicionada para essa retomada, porque a gente fez o dever de casa na estrutura de custos, no lançamento de novos conteúdos, e temos algumas aquisições que não só vão gerar sinergias como vão ampliar o nosso ecossistema”, declarou Alves.
A seguir, leia a entrevista completa:
Mercado News – Conta um pouco mais sobre a aquisição da Fael.
Rodrigo Alves – Nós fizemos uma série de aquisições de 2020 para cá: compramos 3 faculdades de medicina, 2 edtechs, a Beduka e a Prova Fácil, nossa transação mais recente. Compramos a Fael, que é uma das pioneiras do ensino a distância no Brasil e tem uma vantagem muito grande para a gente. A Ser sempre foi uma instituição que caminhou com sua própria equipe, as unidades sempre foram próprias. Nas estruturas de ensino a distância, 80% dos alunos estavam em unidades e polos próprios. A Fael é o contrário: é uma empresa do Sul com uma base de 70% dos alunos do Centro-Oeste para baixo e 98% dos alunos dela estão em polos de ensino digital. É uma empresa que tem um fit [encaixe] perfeito para a Ser, porque ela complementa as regiões, é expert em vender por polos ou por unidades ou online, mas usando as próprias unidades.
E a Ser tem 70% da base de alunos nas áreas de engenharia e saúde. Enquanto a Fael é o contrário. Então existe também uma sinergia muito grande em se agregar o conceito de polos dentro da Ser, mas os conteúdos de engenharia e saúde para dentro da Fael. A Fael tem toda essa tradição nesse segmento, que para a Ser é relativamente novo. Nós estamos no mercado de ensino a distância ou digital só desde 2017. A Fael tem mais de 20 anos de experiência nesse assunto.
Mercado News – O grupo está presente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil. A expansão está voltada para estas regiões ou em um âmbito mais nacional?
Rodrigo Alves – A transação da Fael por ainda não estar aprovada pelo Cade, consideramos como transação ainda não terminada. Entretanto como não tem uma sobreposição relevante entre as instituições, é difícil ter alguma restrição que impeça a transação. Embora tenhamos que respeitar ainda a decisão do Cade que pode ser diferente daquilo que imaginamos.
De toda a forma, é inevitável que um grupo como o nosso se torne nacional, porque primeiro, mesmo sem a Fael, nós já temos polos de educação espalhados no Brasil inteiro. A grande vantagem da Fael é aumentar a nossa capilaridade e trazer uma marca que tem um reconhecimento, especialmente nas cidades pequenas no Brasil. Porque o grande trabalho que esses polos fazem é: esses empreendedores serem especialistas em trazer a sua marca para onde dificilmente você consegue fazer de outra forma se não for do ‘boca a boca’, mesmo nos tempos de internet. E outro ponto que também nos leva a ser cada vez mais nacionais é justamente o fato de termos digitalizado todo o nosso conteúdo. Uma vez que a gente faz isso, a oferta de educação se torna muito mais fácil, muito mais capilar, e nós migramos ao longo do tempo, além de ofertar os cursos de graduação e pós, estamos entrando no mundo que a gente chama das vendas 100% digitais.
Criamos um ambiente de educação que chamamos de Gokursos. Ele oferece não só os cursos de graduação e pós, mas está muito dedicado ao mercado dos cursos livres. Qualquer pessoa hoje do Brasil consegue comprar um curso nosso e ter acesso a ensino de qualidade com a nossa plataforma. Eu entendo que a Gokursos vai ser uma das grandes apostas do grupo nos próximos anos. Como as pessoas estão acessando educação de maneiras diferentes, o Gokursos vem justamente ocupar esse espaço. Iremos oferecer cursos nossos, mas também por meio de parcerias. Isso é super importante porque cada vez mais a população se acostuma a fazer compras online, aquela que fazemos procurando pelo pesquisador, mas hoje em dia cada vez mais as pessoas compram pelo Whatsapp, pelas redes sociais, arrastam para cima no Instagram. Então é todo um universo educacional muito mais fragmentado que o nosso, que a gente busca fazer o acesso via Gokursos. Porque todos esses influenciadores, esses produtores de conteúdo, precisam de um lugar para ofertar os seus cursos.
O que estamos fazendo é justamente esse lugar onde centraliza tudo: cursos próprios e cursos de terceiros. E com isso, naturalmente, além da rede de mais de mil polos que nós vamos ter com a Fael, de ter um programa de reabertura de 5 unidades presenciais por ano pelo menos, isso vai nos levar a esse âmbito nacional. E a Ser, se tiver a transação da Fael concluída no fim do ano, vai ser uma empresa com mais de 300 mil alunos só de ensino superior.
Mercado News – Qual a fatia de mercado que o grupo detém nas regiões?
Rodrigo Alves – Nosso mercado é muito fragmentado. As cidades que a gente mais tem participação que são Recife, Belém, Manaus e Fortaleza são da ordem de 10% a 25% – o que é muito.
Mercado News – Em termos de fortalecimento de marketing, elencado em sua estratégia, qual o encaminhamento daqui em diante? O EAD tende a ser mais atrativo para captação de alunos?
Rodrigo Alves – O que estamos fazendo como estratégia é apostar nesse mundo omnichannel, ou seja, eu tenho uma estrutura de conteúdos que eu criei e eu preciso trazer o aluno para estudar com a gente da melhor forma. Nesse período de pandemia, o ensino digital claramente se sobressaiu e o ensino presencial perdeu o ritmo. Agora, o que já percebemos neste pós-pandemia é que o interesse pelo ensino presencial está voltando. E só não voltou mais forte esse ano porque ainda não tem um calendário claro de retorno normal das aulas para o ensino superior.
O que acreditamos é que a Ser precisa montar sua estrutura para atender o público da forma que ele precisa. Por exemplo, em um curso de medicina, que agora estamos com mais de 250 vagas anuais, eu tenho uma ampla oferta. Agora os alunos que querem estudar medicina precisam se deslocar, porque esse é um curso presencial. Mas há cursos que estão migrando. Por exemplo, administração era um curso muito comum presencial e ele literalmente migrou para o digital. Os cursos da área de tecnologia estão no mesmo caminho. E existem cursos que vão ficar no meio do caminho. Por exemplo, cursos de farmácia, nutrição e enfermagem são cursos que parte da carga horária vai ser presencial e parte vai ser digital.
A nossa missão como empresa é nos adequarmos para essa realidade e ofertarmos os cursos de forma que permita os alunos acessarem educação. E vai haver momento em que a modalidade uma vai funcionar mais e outros momentos em que outras modalidades ou vão ser criadas ou vão perder, ganhar espaço. E nossa estratégia é ter um portfólio que justamente consiga explorar essas tendências. Se as vendas presenciais, se o mercado presencial está voltando, eu não poderia ter desfeito das minhas unidades porque saiu de moda por um ano ou dois. E esse é o caminho que nós enxergamos. Porque como a engenharia por trás dessa oferta é uma só, a minha base de conteúdo já está estruturada, as minhas unidades estão estruturadas, o backoffice já é todo integrado, ganhamos escala fazendo isso. Então quanto mais a gente faz isso bem feito, com qualidade, é reconhecido pelos alunos e ele nos acessa de várias formas diferentes, acabamos construindo um ecossistema que atende o aluno da forma que ele prefere. E não, nós ficarmos obrigando o aluno a estudar de um jeito ou de outro, porque essa geração mais nova nem isso aceita mais.
Mercado News – O que esperar do setor nesta reabertura da economia? Como estão os sinais de novas matrículas? O setor educacional voltará a ser como antes?
Rodrigo Alves – O setor vai passar por um dos melhores momentos da história dele nessa volta da pandemia porque várias coisas se encaixaram a favor do nosso setor. A própria volta da pandemia faz com que as pessoas queiram retomar seus projetos. Por exemplo, aquela pessoa que não fez aquele curso naquele ano porque tinha receio ou porque perdeu o emprego. Tem um retorno natural da vida normal das pessoas.
Outra coisa que aconteceu foi que no fim de 2019 o MEC [Ministério da Educação] aprovou o modelo híbrido de educação. Esse modelo híbrido permitiu que se sustentasse a educação que as pessoas não precisam ir todo dia para a faculdade para se formar. Então aumentou muito o raio de alcance das unidades e você trouxe uma flexibilidade maior para a vida delas. Só que do lado das empresas isso também melhorou, porque a gente passou a digitalizar mais o conteúdo, passou a oferecer uma matriz curricular muito interessante para os alunos, com um ensino com competência, metodologias ativas que atraem e retêm os alunos de uma maneira muito mais bacana do que era antes. Há um custo menor. Então isso não vai gerar uma pressão por aumento de preços, na nossa visão.
O mercado ficou com o preço atrativo, as pessoas querendo voltar a estudar e isso só no presencial. No digital também teve uma mudança muito grande, porque o ensino digital não era aceito socialmente como ele passou a ser agora. Se você parar para pensar, as pessoas só não perderam cerca de um ano e meio, dois anos de período acadêmico, porque teve o estudo digital para compensar. Pode não ser perfeita ou a melhor forma que as pessoas gostariam, mas as pessoas não deixaram de aprender. Não perderam suas rotinas. Então a educação digital também veio para ficar. Acho que a gente tem um período de retomada de crescimento do presencial híbrido e aceitação do digital. Quem souber levar essa nova onda adiante tem muito para ganhar. Eu estou muito otimista com o futuro do setor, acho que a Ser Educacional está muito bem posicionada para essa retomada, porque a gente fez o dever de casa na estrutura de custos. Nós fizemos dever de casa no lançamento de novos conteúdos, e temos algumas aquisições que não só vão gerar sinergias como vão ampliar o nosso ecossistema.
O que pode nos preocupar ainda? O nosso setor tem 3 coisas que são muito importantes no desenvolvimento dele: emprego, renda e inflação. Porque inflação mexe com renda. Se esses 3 itens forem ainda algum empecilho, isso talvez reduza um pouco o ímpeto. Mas eu acho muito difícil não ter uma retomada sólida, especialmente a partir desse último trimestre e começo do ano que vem.
Mercado News – Como tem sido a área de negócios focada em cursos de medicina?
Rodrigo Alves – O que entendemos há alguns anos é que a medicina por si só já é um segmento atrativo. Agora entendemos que medicina é atrativa desde que seja uma parte do seu portfólio. Depender de medicina, aliás, depender de um ambiente só, achamos que não faz muito sentido como empresa educacional e é mais importante trabalhar o todo. O que percebemos nos últimos anos foi um crescimento muito expressivo do interesse por saúde por duas linhas principais. Primeiro, por conta do aumento da idade média da população e maior necessidade. O desenvolvimento do setor por si só. Mas outra coisa que tem surpreendido muito é o segmento de wellness (que é o bem estar). Algumas áreas como nutricionismo, odontologia, educação física, nutrição, farmácia. Essas áreas cresceram muito por conta disso. Levou os cursos de saúde para uma demanda, que por sorte ou competência nossa, nós vislumbramos alguns anos atrás.
Na época a gente também tinha apostado bastante em engenharia, mas por conta da economia brasileira não tem andando tanto, acabou ficando mais estagnado. Mas na saúde, tanto a medicina, mas os outros cursos da área, vimos uma demanda crescente, muito grande.
Mercado News – Como está neste momento a agenda de M&As e quais os planos?
Rodrigo Alves – O nosso foco maior é na construção desse ecossistema. A gente tem olhado muito para as edtechs, por isso que a gente comprou a Prova Fácil, porque ela faz algo que a gente nunca conseguiu se dedicar para fazer. Que é não só a correção online de provas, mas uma certificação de alunos em qualquer área. Então, se na sua empresa vocês querem acompanhar o desenvolvimento do conhecimento dos seus funcionários, a Prova Fácil pode montar uma lista de provas e um banco de perguntas para vocês. Pode ser feito internamente, por exemplo, ou você consegue certificá-los naquela determinada área do conhecimento. Isso serve para empresas ou para outras instituições de ensino.
É um mercado muito vasto, muito pequeno ainda no Brasil, mas muito grande lá fora. A Beduka, que nós compramos no final do ano passado, tem um poder de apoiar os alunos de uma maneira muito interessante, porque ela não só faz o teste vocacional do aluno, como ajuda o aluno a escolher o curso, de qualquer área, de qualquer faculdade. O que isso nos traz: além de prestar serviço para o aluno, que é uma grande tendência do nosso setor, o aluno entra 5 anos com a gente. O que entendemos na educação é que, conforme você traz o aluno e tem relacionamento com ele, acesso a uma série de atividades dele, você pode agregar valor para a vida dele. A Beduka foca justamente nisso. Você ajuda o aluno a escolher sua faculdade. Isso me traz conhecimento dos alunos. E isso é muito importante na minha atividade. Com isso, consigo saber qual é o próximo curso que os alunos procuram. Consigo entender quais são os cursos com maior ou menor demanda. Então todo esse tipo de atividade nos atrai muito quando a gente fala de ecossistema.
Amanhã a gente pode trazer o que a gente chama de “pipoca no cinema”. O cinema tem lucro com a venda do tíquete, mas mais ainda com a bomboniere na frente. O que a gente acredita é que na educação isso também faz muito sentido. Posso começar a ofertar outras coisas para os alunos, além do meu curso. E esse conceito que a gente precisa desenvolver mais e mais. Primeiro por uma questão cultural nossa, como empresa nós sempre focamos em ensinar, mas agora precisamos também focar em levar outras coisas.
É o curso livre do Gokursos para nossa própria base. É, eventualmente, um apoio para ele procurar, conseguir se direcionar para seu próximo emprego. Porque o que a gente faz é treinamento profissional. Podemos chamar isso de graduação, de pós, de curso livre, de mestrado, mas as pessoas estão treinando para uma profissão ou para as próximas profissões em um universo onde as carreiras duram cada vez mais tempo. E em um perfil populacional, que tem buscado mudar de carreira ou várias vezes na mesma carreira. Quem compreender esse universo vai ser muito vencedor. E é isso que a gente está perseguindo aqui na Ser.
Mercado News – Qual a perspectiva para a Overdrives, que vem investindo em startups?
Rodrigo Alves – A Overdrives é uma aceleradora de startups patrocinada pela Ser. Nós controlamos, é 100% da Ser. A Overdrives tem várias vertentes, mas a função dela é identificar empresas com potencial. No Nordeste tem poucas aceleradoras de startups e a Overdrives acabou sendo a maior na região.
O que a gente faz tem um lado social, que é fomentar o empreendedorismo, tem o lado acadêmico, que nossos próprios alunos ajudam as aceleradas a terem soluções para elas, e tem o lado econômico. Se alguma dessas aceleradas acaba sendo um “unicórnio”, como se diz no setor, ganhamos um unicórnio, mas na prática nós aprendemos com elas. Porque as empresas maiores ganham muita coisa, mas perdem um pouco da vivência do microempreendedor. Daquela empresa que está começando a agilidade, a nova tecnologia. E na Overdrives os mentores dos acelerados são os mentores da Ser. Então nós os ajudamos e, em troca, a gente aprende muito com eles.
É uma coisa orgânica que funciona muito bem para a gente, traz muito reconhecimento social, e nos ajuda a entender quais são os próximos passos do mundo. São esses empreendedores que vão trazer as novidades para o mercado, dificilmente são os nossos diretores que sozinhos vão vislumbrar o próximo passo. Porque estamos preocupados com a captação, o RH, uma série de coisas que esse pessoal não está preocupado. Vão se preocupar quando crescerem.
Mercado News – Poderia falar um pouco sobre a plataforma de empregabilidade que irão lançar?
Rodrigo Alves – Existem edtechs que nós podemos comprar, mas existem edtechs que nós podemos montar. Essa aceleradora de recursos humanos é uma delas. Outra edtech dentro de casa é justamente o Gokursos.
Montamos uma equipe de pessoas. Fazemos um investimento nessa empresa e ela vai rodar dentro da Ser como se roda uma edtech. A gente montou um conselho consultivo, que são diretores da Ser, eu sou um deles, e a nossa função é montar essas equipes e acompanhar o desenvolvimento delas. Sendo que a regra é que essas empresas sejam independentes da Ser.
Então a Ser na verdade é uma prestadora de serviços para essas empresas. Ela não se preocupa com contabilidade, jurídico, TI. Mas essa equipe está dedicada a fazer aquele modelo de negócios funcionar. Os executivos que lá estão são como se fossem CEOs de uma empresa que reportam para o conselho interno da Ser. É esse segmento.
Uma das coisas que é muito importante para os nossos alunos é conseguir emprego. Estudar e conseguir seu próximo emprego. Porque hoje, dificilmente, alguém quer fazer um curso, especialmente na classe média brasileira, só pelo prazer de ter conhecimento. As pessoas precisam se qualificar para ter uma renda melhor. E parte da nossa missão é oferecer para eles mecanismos para que isso aconteça. A gente já faz isso. Até hoje temos um negócio chamado núcleo de empregabilidade. No presencial fazemos feira de emprego, ajudamos o aluno a ter um currículo melhor. O que estamos fazendo é trazendo isso para o mundo digital. Claro, irá ter um alcance muito melhor.
Esse mundo de ecossistema tem várias iniciativas. Por exemplo, uma das coisas que a gente percebe claramente é que na área de saúde o aluno precisa de estágio e o professor quer ter um local onde possa fazer ou ofertar uma pós-graduação. E para isso você precisa ter clínicas. Então nós compramos um hospital veterinário no Rio. E qual a lógica aqui: as nossas unidades têm uma clínica, que funciona 6 meses por ano. Isso não tem uma atração perfeita para a população, você não vira uma referência. O que a gente quer é tornar as nossas unidades cada vez mais em referência.
Na área de saúde teremos os hospitais veterinários, em 21 unidades, teremos clínicas odontológicas e multiclínicas. Todos esses ambientes vão dar uma reputação maior para nós, porque estamos atendendo a população, e vão trazer renda porque, em procedimentos mais complexos, teremos um processo de honorários por eles. Tendo alunos com estágio garantido em um lugar que todo mundo respeita e professores lá dentro por mais tempo, naturalmente vão se criar cursos de extensão, de pós graduação, que é a evolução dessa educação continuada. Tudo isso é presencial. Pegamos esse conteúdo teórico, digitalizamos e ofertamos online. Por isso que o ecossistema precisa estar com várias frentes funcionando para funcionar bem.
Mercado News – O lucro líquido ajustado teve uma queda no segundo trimestre. Você vê uma recuperação neste segundo semestre?
Rodrigo Alves – Para nós esse resultado menor no segundo trimestre foi muito esperado. Pois nós tivemos um crescimento de base de alunos, mas o ano passado foi atípico. No ano passado, o segundo trimestre foi o período de ápice da crise, onde nós não gastamos nada. Então a Ser não fez marketing, teve pouca captação de aluno, teve renegociações de contrato, uma série de coisas que no final tivemos um primeiro trimestre bem difícil e o segundo trimestre foi muito bom, acima do normal. Quando fatiamos por trimestre fica um pouco difícil de comparar, quando olhamos os semestres fechados eles ficam bem mais comparáveis.
No segundo trimestre de 2021, a empresa estava em um ritmo normal, marketing normal, aluguéis normais, todo mundo na operação em todo tamanho, só que a base não tinha melhorado. O que vai começar a acontecer daqui para frente. Então o lucro do primeiro trimestre de 2021 é bem maior do que o de 2020, e o lucro do segundo trimestre é bem menor, e aí no “frigir dos ovos” fica tudo parecido.
Mercado News – Houve algum impacto do êxodo de alunos por conta da pandemia?
Rodrigo Alves – Foi um período muito difícil, especialmente no ano passado, e no processo de captação do terceiro trimestre. Tivemos muitos alunos evadindo, infelizmente abandonando seus sonhos. E esse processo de reposição começou a dar seus primeiros sinais agora. Então tivemos uma migração de presencial para digital e uma evasão muito grande do presencial, é um fato. Ainda bem que esse período começou a se recuperar e, na verdade, para ser muito transparente o impacto foi muito menor do que a gente temia.
No auge da crise realmente ficamos muito preocupados em como isso ia se dar, como o setor inteiro ia se comportar, porque foram muitas instituições de ensino que não conseguiram atravessar esse período.
Mercado News – Qual é o diferencial da Ser no setor educacional?
Rodrigo Alves – Eu acho que o que nós estamos fazendo hoje é de fato diferente dos nossos competidores. Esse conceito de ecossistema, de colocar vários serviços em relação aos alunos, de olhar para as regiões Norte e Nordeste de uma maneira diferente, eu acredito muito no crescimento dessas regiões. Especialmente onde estamos posicionados, o agro tem feito uma mudança muito grande nas economias dessas cidades. Então acho que o nosso diferencial é de fato estar construindo um ecossistema completo e multicanal, com vários produtos de valor agregado para os nossos alunos. E termos começado nossa operação do outro lado. Quase todos os nossos competidores nasceram no Sul, e nós estamos no outro caminho e vamos todos nos encontrar em uma competição nacional.
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