Poderia ser diferente? Sim, poderia se o BC/Copom tomasse suas decisões com base nas perspectivas inflacionárias reais do país, que afloram cotidianamente e numa intensidade há muito não vista.
Há mesmo a sensação de que o processo inflacionário presente e em perspectiva está sem controle e o BC/Copom um tanto confuso no enfrentamento desta situação que já se configura caótica.
Mantendo um discurso coerente com o “status quo”, mas com atitudes díspares a respeito quando fundamental, o BC/Copom se mostra incapaz de conter a voracidade inflacionária presente no país, puxada pela crise hídrica e energética que ainda não causou todos os seus malefícios à economia brasileira, tendo como aliado o preço dos combustíveis exaustivamente elevados de forma contínua, e, o retrocesso da atividade econômica, neste contexto, tende ao inevitável.
O BC/Copom sabe que errou em sua mais recente decisão, mostrou-me tímido ante um quadro que já era preocupante e que projetava como sustentável em sua piora, tendo à margem um cenário externo se projetando amplamente desfavorável para a formação do preço da moeda americana.
Então, buscando dar uma “meia volta” no erro, anunciou para o mercado um programa antecipado de oferta de contratos de swaps cambiais, em torno de US$ 18,0 bilhões, com a finalidade de dar suporte ao “overhedge” de final do ano. O tipo de intervenção canhestra, fora do tempo, mas que no fundo busca afetar a formação do preço da moeda no nosso mercado, o que deveria estar sendo feito com o maior incremento da taxa de juro Selic que deixou de efetivar e que bem equilibrado seria o antídoto técnico correto.
Num país que tem assegurada inflação para o ano em torno de 10% e tem juro de 6,25% ainda há quem afirme que temos a segunda maior taxa de juro real do mundo, perdendo tão somente para a Turquia, o que é uma heresia.
Se não combatermos a inflação com instrumentos adequados que preservem as fontes de desenvolvimento do país, como dissemos ontem, os “preços altos acabam por inibir os preços altos” como consequência da inibição e retração do consumo, que provoca a queda da atividade econômica, do emprego e da renda direta e indireta, esta pela corrosão inflacionária.
A formação do preço da moeda americana não se sensibilizou ontem com o anúncio pelo BC do seu plano de oferta de swaps cambiais, manteve a trajetória de alta e continuará, pois há fatores externos afetando o dólar no mercado internacional, a partir dos Estados Unidos e as perspectivas de mudanças em sua política monetária, e, também, da China com as preocupações efetivas em torno da crise da Evergrande.
Devemos ter muita volatilidade no preço em nosso mercado de câmbio, é final do mês e a disputa pela PTax ensejará este ambiente, mas o viés de alta tem ambiente mais favorável neste momento.
Seria relevante que tivéssemos o preço do dólar em patamar mais baixo, o que seria alcançável com juro à frente da curva inflacionária, o que não ocorre no momento.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO Corretora de Câmbio
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