Os juros futuros de médio e longo prazos fecharam em baixa, em meio ao temor sobre o ritmo da economia global que tem derrubado os preços de commodities e traz um viés desinflacionário para o Brasil, ainda mais se houver um pouso forçado da economia da China. O país asiático está no olho do furacão por causa da situação de insolvência da gigante imobiliária Evergrande. E, sem novidades do lado político e fiscal hoje, houve espaço para uma correção dos prêmios. As taxas curtas pouco se mexeram, com os investidores já bem posicionados para o Copom na quarta-feira.
Num dia de liquidez abaixo do padrão na maioria dos vértices, as taxas longas caíram quase 10 pontos-base. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 cedeu de 10,216% para 10,13% e a do DI para janeiro de 2027, de 10,634% para 10,54%. O DI mais líquido, para janeiro de 2023, encerrou a sessão regular com taxa de 8,985%, de 9,052%.
As taxas abriram em alta acompanhando o risk off no exterior, mas houve alívio quando o dólar reduziu os ganhos ante o real, dando a senha para os interessados em buscar parte dos prêmios elevados da curva. No fim da manhã, a moeda americana voltou a ganhar fôlego, mas aí os juros já não acompanharam. Ao contrário, passaram a acelerar o recuo e a bater mínimas, com o mercado maturando a ideia de que o tombo das commodities pode ter implicações nas políticas estimulativas globais. “Os investidores estão vendo riscos para o horizonte global nos preços das commodities e isso pode ajudar os BCs a trazerem a inflação para as metas”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Entre as commodities, chama a atenção principalmente o minério de ferro, que vem numa sequência de queda há dias e hoje caiu abaixo de US$ 100 a tonelada pela primeira vez desde maio do ano passado. O petróleo fechou o dia com queda de até 2%.
Internamente, o quadro continua desafiador, tanto do lado político quanto do econômico. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a reforma administrativa e uma solução para os precatórios devem ser os dois principais assuntos da semana no Legislativo. Ele se reunirá nesta noite com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir uma alternativa ao impasse do pagamento das dívidas judiciais.
A percepção sobre o fundamentos da economia segue piorando, mas os agentes consideram que tudo já está embutido na ponta curta do DI ao menos até que o Copom se posicione no comunicado da quarta-feira. Na pesquisa Focus, a mediana das estimativas para o IPCA de 2022, ano que conta para a política monetária, subiu para 4,10%, mas parece otimista ante a de algumas casas.
A Rio Bravo, por exemplo, elevou hoje sua expectativa para 4,30%. A meta central para o ano que vem é 3,5%.
“Para controlar essa alta nas expectativas de inflação, o Copom terá que colocar a Selic em um nível também mais alto, demonstrando uma maior preocupação com a aceleração da inflação e com o risco de desancoragem das expectativas para 2023”, explica a Rio Bravo, em relatório. A instituição espera três aumentos de 1 ponto porcentual da Selic até dezembro e mais um ajuste de 0,5 ponto no início de 2022, com a taxa chegando a 8,75%.
Por Denise Abarca
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