Os juros de médio e longo prazos fecharam a sexta-feira, 17, em alta e a curva ganhou inclinação tanto ante os ajustes de ontem quanto na semana. Os curtos encerraram estáveis, com o mercado já em compasso de espera pela decisão do Copom na semana que vem. Ao contrário da reação dos demais ativos, no mercado de juros, a elevação das alíquotas do IOF para operações de crédito para custear o programa Auxílio Brasil foi inicialmente absorvida sem traumas, priorizando a leitura pelo lado fiscal. Porém, ao longo do dia, com as críticas se avolumando, o assunto passou a trazer incômodo e, dada ainda a piora do ambiente internacional, as taxas inverteram o sinal de queda e passaram a subir.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 voltou a fechar acima dos 9%, subindo de 8,987% para 9,04%. A do DI para janeiro de 2025 encerrou em 10,21%, de 10,136% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 avançou e 10,554% para 10,63%, maior desde os 10,72% do último dia 9.
O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, afirma que o clima está pesado nos mercados em geral, mas vê o comportamento dos juros mais ligado às questões políticas e às revisões pessimistas para a economia. O aumento das incertezas vindas da China, a princípio, segundo ele, afetaria mais a Bolsa, mas se as exportadoras de commodities brasileiras forem penalizadas, o problema pode chegar ao câmbio e, por consequência, aos juros. Aos indicadores fracos da economia chinesa que saíram esta semana, somam-se agora os temores com um eventual colapso da incorporadora imobiliária Evergrande, que tem dívidas de quase US$ 300 bilhões.
Além da cautela com a China, hoje o dado do sentimento ao consumidor americano abaixo do esperado ajudou no clima de ‘risk off’, ampliando as perdas de ativos emergentes e levando à virada das taxas de juros pelo aumento da pressão sobre o câmbio, que chegou perto dos R$ 5,35 nas máximas.
Por aqui, a opção do governo de bancar o Auxílio Brasil em 2021 pelo aumento temporário de impostos é vista como uma solução mais transparente sobre a fonte de custeio ao programa, ante as tentativas recentes de usar de contabilidade criativa na área fiscal, mas não quer dizer que seja boa. “Pode ser até melhor que outras alternativas, mas é um cheio danado de remendo e mais um sinal de que o mundo político está trabalhando muito mais pelo ano eleitoral do que pela estabilidade fiscal e que a equipe econômica está isolada”, disse Caramaschi.
A alta das alíquotas, a princípio, é válida de 20 de setembro a 31 de dezembro, mas pode se tornar permanente caso o governo não consiga fonte de recursos para o programa em 2022, a depender da saída a ser encontrada para a PEC dos precatórios e do futuro da reforma do Imposto de Renda no Senado.
Para o Copom da semana que vem, as previsões nos Departamentos Financeiros e na curva de juros estão bem ancoradas numa alta da Selic de 1 ponto porcentual. Agora o mercado aguarda pelas sinalizações do comunicado para ter uma ideia se o orçamento total do ajuste pode ser maior do que o previsto.
Por Denise Abarca
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