Em sessão de liquidez reduzida, o dólar à vista oscilou entre estabilidade e leve baixa ao longo da tarde, em dia marcado por perdas da moeda americana frente a pares fortes e em relação à maioria das divisas de países emergentes e exportadores de commodities. No fim da sessão, com maior apetite ao risco no exterior e uma aceleração dos ganhos dos índices acionários em Nova York, o sinal de queda da moeda americana prevaleceu, levando o dólar a fechar em baixa de 0,38%, a R$ 5,2375 – depois de oscilar cerca de 4 centavos entre a mínima (R$ R$ 5,2319) e máxima de (R$ 5,2720). Na B3, o giro com o dólar futuro para outubro foi baixo, na casa de US$ 11 bilhões – que mostra pouco apetite para apostas mais contundentes.
Segundo operadores, a postura mais cautelosa reflete, sobretudo, preocupações com as questões domésticas. Não há ainda uma solução para a questão dos precatórios e, por tabela, do tamanho do reajuste do Bolsa Família. Permanece também no mercado certo ceticismo em relação a uma trégua na crise político-institucional, após a “carta à Nação” do presidente Jair Bolsonaro. Troca de farpas entre o presidente do STF, Luiz Fux, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno do imbróglio dos precatórios causou certo desconforto nas mesas de operação, embora não tenha tido grandes reflexos nas cotações.
Em evento virtual, Fux, em referência aos precatórios, disse: “Guedes é tão meu amigo que coloca no colo um filho que não é meu”. O ministro respondeu ao gracejo dizendo que se tratava apenas de “um pedido desesperado de socorro” e que não estava depositando a responsabilidade no colo de Fux. “É que quando a gente está desesperado, pede proteção aos presidentes dos Poderes”, afirmou Guedes.
A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que o mercado segue cauteloso porque vê com desconfiança a “aparente trégua político institucional” e eventuais dificuldades para o governo no Congresso. “Adicionalmente, o cenário econômico segue ruim, com várias casas revisando projeção de crescimento econômico para baixo, mesmo com os dados do IBC-Br um pouco acima do esperado”, diz a economista. “Temos um quadro de PIB pra baixo e inflação para cima, o que é bastante preocupante. Por isso, está difícil ver o dólar mais para baixo por enquanto.”
O Banco Central informou que o IBC-Br subiu 0,60% em julho na margem, acima da mediana de Projeções Broadcast (0,40%). Em relação a julho de 2020, houve alta de 5,53%, também acima da mediana das expectativas (5%). Mesmo assim, o Banco Inter revisou hoje a projeção para o crescimento neste ano (de 5,3% para 5,1%) e em 2022 (2% para 1,2%,).
O mercado também assimila a sinalização, ontem, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não haverá uma aceleração no ritmo de alta da taxa Selic, no encontro do Copom na semana que vem (dias 21 e 22). A perspectiva de uma Selic na casa de 8% ou até 9% no fim do aperto monetário, contudo, aumenta a atratividade da renda fixa local e dá certa sustentação à moeda brasileira, que se mantém abaixo da linha de R$ 5,30.
“O real continua sendo uma moeda muito desvalorizada. A expectativa de continuidade de alta de juros tende a atrair fluxo estrangeiro dos investidores com disposição para assumir um pouco mais de risco para ter prêmio maior, que são os juros do Brasil”, diz a Viviane Vieira, operadora da B.Side Investimentos, escritório ligado ao BTG Pactual, que vê possibilidade de um dólar próximo de R$ 4,90 a R$ 5,00.
O BC divulgou hoje à tarde que o fluxo cambial foi positivo em US$ 1,580 bilhão em setembro, até o dia 10, graças à entrada líquida de US$ US$ 1,753 bilhão pelo lado comercial, já que houve saídas líquidas de US$ 173 milhões pelo canal financeiro. Em agosto, o fluxo cambial total foi positivo em US$ 3,079 bilhões, com ingresso líquido de US$ 2,577 bilhões pelo canal financeiro.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes – operou em queda durante toda a sessão. O dólar também caiu na comparação com as divisas emergentes, com exceção do rand sul-africano e da lira turca.
Nos Estados Unidos, a produção industrial crescer 0,4% em agosto ante julho, ligeiramente abaixo da previsão de alta de 0,5%. Já o índice industrial Empire State, apurado pelo Federal Reserve, contrariou a expectativa de queda de 17,5 e subiu de 18,3 em agosto para 34,3 em setembro.
O mercado ainda tenta avaliar o real impacto da disseminação da variante Delta tanto na economia americana, para calibrar as apostas sobre o início da redução de compra de bônus (‘tapering’) pelo Fed, como na China, que reportou dados muito fracos de produção industrial e vendas no varejo, causando certa apreensão nos investidores.
Por Antonio Perez
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