Os juros longos cumpriram mais uma jornada em alta, a quinta consecutiva no caso dos vencimentos a partir de 2027. Após operarem pressionados para cima durante a tarde, os curtos e intermediários fecharam entre queda e estabilidade em meio a ajustes técnicos no fim do dia nesta sexta-feira.
As taxas em geral começaram os negócios em baixa reagindo ao payroll (dado de emprego) fraco nos Estados Unidos, mas inverteram o sinal a partir do fim da manhã, refletindo a postura defensiva do investidor na véspera do fim de semana seguido de feriados nos Estados Unidos e no Brasil, sendo que o daqui, na terça-feira, promete ser tenso pelas manifestações pró e contra o governo. Declarações do presidente Jair Bolsonaro em tom de ameaça ao Supremo Tribunal Federal (STF) ampliaram o clima de cautela, num dia em que também a reforma do Imposto de Renda aprovada na Câmara continuou pesando nos negócios.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 8,665%, de 8,676% na quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 9,786% para 9,83%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,30%, de 10,204%. No saldo da semana marcada por PIB e produção industrial fracos, derrotas do governo no Congresso e proposta de Orçamento considerada “peça de ficção”, dada a falta de solução para os precatórios, a curva teve ganho de inclinação em torno de 35 pontos-base.
O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, afirma que a sexta foi um dia tipicamente marcado pela chamada preferência pela liquidez nos ativos. “Ninguém vai querer dormir posicionado, com feriados aqui e nos Estados Unidos à frente”, afirmou. Na segunda-feira, os mercados em Wall Street estarão fechados em função do feriado do Dia do Trabalho. Ainda, como os dias 7 e 8 marcam o início do Ano Novo Judaico, muitos players devem ficar de fora dos negócios até meados da semana.
“O prêmio de risco dialoga com o mal-estar político apesar do payroll abaixo do esperado”, explica Perfeito. O relatório de emprego norte-americano mostrou criação de 235 mil vagas em agosto, muito menos do que apontava a mediana de 750 mil, tornando a perspectiva de início do ‘tapering’ mais incerta.
Aqui, nesta sexta, Bolsonaro, convocando mais uma vez apoiadores a participar dos atos de 7 de setembro, disse que as manifestações serão um “ultimato” a “duas pessoas” que estariam atrapalhando o governo, sem citar diretamente os ministros do STF, Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
A piora da percepção de risco institucional atingiu um mercado já bem machucado pelas preocupações com cenário fiscal, acentuadas na quinta com a reforma do IR. Cálculos do Instituto Fiscal Independente (IFI) do Senado apontam que a reforma terá custo para União estimado em R$ 52,2 bilhões em três anos.
“A reforma exemplifica bem o que é o custo político de não se discutir as coisas de forma serena e ordenada, que tem sido descontado dos ativos”, disse Perfeito, lembrando que o texto passou de forma atabalhoada, no susto.
Por Denise Abarca
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