Embora a atividade econômica como um todo tenha, no primeiro trimestre, retomado o ritmo observado antes da pandemia de covid-19, o consumo das famílias, principal componente do Produto Interno Bruto (PIB) sob a ótica da demanda e motor da economia até 2019, segue um passo atrás. Em junho, o volume de bens e serviços consumidos pelas famílias brasileiras estava 0,4% abaixo do nível de fevereiro de 2020, segundo estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) obtidas pelo Estadão/Broadcast.
Enquanto o consumo de bens não duráveis (como alimentos e cosméticos) e de bens duráveis (como eletrodomésticos) já superou a pré-crise sanitária, o de serviços (bares e restaurantes, por exemplo) e de bens semiduráveis (como roupas e calçados) permanece aquém, com dificuldades de recuperação.
A avaliação parte dos dados desagregados do Monitor do PIB, indicador da FGV. O consumo de serviços ainda está 1,8% aquém do patamar antes da crise sanitária, enquanto o de bens semiduráveis permanece 6,2% abaixo do nível de fevereiro de 2020.
Segundo Claudio Considera, pesquisador responsável pelo Monitor do PIB, a persistência da pandemia e a necessidade de isolamento social para conter a disseminação da covid-19 ainda atrapalham a normalização do consumo de itens como peças de vestuário e de serviços, como restaurantes, hotéis e passagens aéreas.
“As pessoas estão em casa, elas não foram mais aos shoppings, deixaram de comprar. Nos serviços, o problema atinge restaurantes, hotelaria, passagens aéreas, tudo que precisa de interação social”, afirma Considera, destacando que há outros fatores, além das restrições ao contato social. “Agora temos problema de desemprego e inflação. Isso deve diminuir o consumo.”
Por outro lado, o consumo de bens não duráveis já superou em 2,1% o patamar pré-covid, enquanto o de bens duráveis está 0,3% acima. Segundo Considera, as famílias puderam manter, mal ou bem, seu nível de consumo de bens não duráveis, principalmente os alimentos, “basicamente por causa do auxílio emergencial”.
No caso de bens duráveis, o consumo já esteve mais aquecido em novembro e dezembro de 2020, mas passou por oscilações ao longo do primeiro semestre deste ano. A demanda por eles foi puxada por famílias que tiveram suas rendas menos atingidas pela crise. “Durante a pandemia, algumas pessoas passaram a substituir, em determinado momento, os seus equipamentos domésticos”, diz Considera.
O desempenho do consumo de bens já vinha sendo sinalizado pelas vendas do varejo. Em junho, as vendas estavam 2,6% acima do nível de fevereiro de 2020, antes da pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operavam 1,5% acima do pré-pandemia, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O desempenho já foi mais positivo em meses anteriores, conforme Cristiano Santos, gerente da PMC. “Algumas atividades se beneficiaram de alguns cenários de crescimento na demanda por alguns produtos, como material de construção, muito focado nas famílias que tiveram um rendimento extra”, diz Santos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Daniela Amorim. Colaborou Vinicius Neder
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