O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, reconheceu nesta terça-feira, 10, que os dirigentes da instituição estão se surpreendendo a cada ciclo de decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) com os condicionantes da inflação.
Em evento do Goldman Sachs, Serra descreveu o movimento mais recente da inflação no Brasil, na visão do Banco Central. Segundo ele, “muita coisa mudou” de um ano para cá. Entre as mudanças, ele citou o retorno do Produto Interno Bruto (PIB) para o nível de antes da pandemia do novo coronavírus. “O PIB retornou ao nível anterior da pandemia já no primeiro semestre, quando se esperava apenas em 2023”, disse.
Serra pontuou ainda que, em 2020, a renda das famílias brasileiras foi recomposta em grande medida pelo auxílio emergencial e pela oferta de crédito. Segundo ele, o consumo das famílias não seguiu “intacto” na pandemia, mas “presente”. “Vimos isso na recuperação das vendas do varejo na virada do primeiro para o segundo semestre de 2020”, disse.
Neste cenário, conforme o diretor do BC, rapidamente o setor de bens conseguiu se organizar para atender à demanda das famílias. “Vimos a realocação da renda de serviços para bens. Isso levou a choque positivo no setor de bens, ante um choque negativo em serviços”, disse, em referência aos impactos inflacionários.
O diretor do BC afirmou ainda que, na virada de 2020 para 2021, o BC e o próprio mercado financeiro imaginaram que o hiato do produto continuaria aberto “por muito tempo”, o que “não se materializou”. “Vimos o hiato de produto se fechando rapidamente e vimos que juro a 2% não fazia mais sentido”, disse Serra, em referência à Selic, que permaneceu neste patamar até março deste ano.
Alimentos
O diretor do BC também fez uma avaliação específica da alta dos preços dos alimentos, acelerada a partir do segundo semestre de 2020. Segundo ele, o “grande choque de condicionantes” para a inflação brasileira foi o “preço de commodities para cima”. “Os condicionantes é que acabam definindo nossas projeções de inflação”, disse.
Serra pontuou ainda que a variação dos preços de combustíveis nos últimos 12 meses, de alta, não traz “poder preditivo” para a inflação de 2022. “Não há razão para imaginar que combustíveis vão subir mais ou menos em 2022”, disse Serra. Para ele, o mesmo vale para os alimentos, que subiram nos últimos meses.
Serra participa nesta terça-feira, por videoconferência, da “8ª Conferência Anual sobre Macroeconomia e Estratégia no Brasil”, organizada pelo Goldman Sachs. Na semana passada, ele não participou da reunião presencial do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, por ter testado positivo para a covid-19.
Por Fabrício de Castro e Lorenna Rodrigues
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