O aumento de preço acabou mitigando o efeito da quebra da safra de milho na produtividade da SLC Agrícola (SLCE3), diz Frederico Logemann, Head de Inovação da empresa de commodities agrícolas, em entrevista ao Mercado News. Mas esse é apenas um efeito de curto prazo do setor no qual a companhia busca se posicionar com o diferencial de produzir “mais por hectare usando menos insumos”.
Como? Por meio do foco no arrendamento de terras e na tecnologia. Ato contínuo, a empresa tem identificado oportunidades além de soja, milho e algodão, chegando ao mercado de sementes com a subsidiária SLC Sementes. Um negócio que, de acordo com o executivo, a SLC vê “grande potencial para expandir”.
Agora, a SLC Agrícola está indo de 16 para 22 fazendas na próxima safra 2021/22, com a incorporação, em forma de arrendamento, de terras da Terra Santa (TESA3) e da Agrícola Xingu: “Estamos vendo essa oportunidade de crescer arrendando terras e extraindo cada vez mais valor do hectare”, disse Logemann.
A seguir, leia a entrevista completa:
Mercado News – O que o senhor poderia nos contar sobre o acordo com a Terra Santa em termos de perspectivas para a SLC, e em que pé que está a transação?
SLC Agrícola – O negócio da Agrícola Xingu em termos de área plantada é cerca de um terço do tamanho da Terra Santa. Com a Terra Santa a gente estima acrescentar 150 mil hectares de área plantada e a agrícola Xingu é em torno de 40 mil hectares a mais, somando as duas dá quase 200 mil hectares a mais, que se somam aos atuais 470 mil hectares que a empresa tem de potencial de plantio. Esses negócios juntos representam um crescimento de 40% na nossa área plantada para a safra 2021/22 que começa agora em setembro.
Esses dois negócios estão em linha com a nossa estratégia de crescimento que foi desenhada há cerca de 5 anos, que a gente chama de “asset light”, que é o crescimento em área plantada sem comprar terra. Crescer arrendando terras. Então foram dois negócios grandes que nós conseguimos, que levaram alguns anos para serem arrendados. O negócio com a Agrícola Xingu envolveu o nosso relacionamento com a Mitsui, que é um grupo japonês com o qual já tínhamos uma joint venture há alguns anos, então ali a gente plantou a sementinha para esse negócio. E o negócio da Terra Santa já estávamos conversando há uns 2 anos com os controladores até que o negócio fechasse.
No caso da Terra Santa vão ser 5 fazendas no estado do Mato Grosso, já temos hoje 4 unidades, e no caso da Agrícola Xingu é uma fazenda na Bahia, próxima de uma fazenda que temos na região, e uma outra área em Minas Gerais, que é bem próxima de uma fazenda que temos em Goiás. Apesar de serem 2 estados diferentes, são próximas. Então essa área de Minas Gerais vai virar uma sede nova de uma fazenda que já temos em Goiás. E são as mesmas culturas: soja, algodão e milho, em regiões que a gente já conhece também.
Mercado News – E desta forma como que ficou o negócio de terras da SLC, ainda mais em meio à alta de preços?
SLC Agrícola – Não temos priorizado transações que envolvem compra de terras. Eventualmente a gente avalia uma compra de uma parte da área, se isso for ajudar a viabilizar o negócio. Mas a gente tem nesse momento uma preferência pelo arrendamento, e arrendamento de longo prazo. Os nossos contratos médios de arrendamento são de 10, 15 anos, e 20 em alguns casos, com baita chance de não renovação. É o tipo de negócio que a gente gosta de fazer, e foi o que fizemos com a Terra Santa e a Xingu.
Os preços de terras de um ano para cá tiveram uma prestação importante. Saiu um relatório da FNP, que é uma fonte de informação de preço de terras, apontando um crescimento de mais de 20% no preço médio das terras no Brasil de um ano para cá. Isso está refletindo esse momento que a gente está vivendo de margens altas no setor, no caso do câmbio, do aumento de preço das commodities. E está refletindo com algum atraso, como é comum no caso das terras porque não é um ativo muito líquido, e até o mapeamento dessas transações não é tão fácil.
Então as margens das principais culturas estão em recordes históricos e isso está se refletindo no preço da terra. E também por isso a gente não está olhando com tanto interesse a compra de terras, mas operações, às vezes até casadas, em que um fundo ou um investidor compra terra e arrenda para a SLC. É assim que a gente está se posicionando no mercado.
Mercado News – Na parte de terras é a SLC LandCo que administra isso?
SLC Agrícola – Nós temos uma subsidiária que é a SLC LandCo, que diferentemente dessa abordagem de arrendar terras, ela foi constituída para comprar terras.
Fechamos por volta de 2012 e naquela época nós achamos um investidor, um fundo inglês que tinha interesse em comprar terras. Nós colocamos no negócio algumas terras nossas e eles colocaram dinheiro, e assim foi formada a SLC LandCo. Usamos esse dinheiro que eles colocaram para comprar terras. Ela passou por uma fase de investimento e agora nós estamos olhando uma fase de desinvestimento.
Então a ideia da LandCo é vender os ativos. Só que tanto nós quanto o investidor não estamos com pressa, urgência, de vender. Agora estamos analisando (os preços das terras estão subindo) alguma possibilidade de vender. E idealmente para nós: vender e continuar arrendando, pensando como SLC Agrícola. Então essa é a tese da SLC LandCo, esse sim é um veículo puro para exposição a preço de terras, não é um veículo para acesso a fluxo de caixa do produtor, é um veículo para comprar terras.
Mercado News – Quais as perspectivas para os preços das principais commodities em que a empresa atua, soja, milho e algodão?
SLC Agrícola – No caso dos grãos a gente estava sinalizando já, há uns 6 meses para cá, que o preço parecia estar exageradamente alto. Por uma combinação de fatores: algumas questões de problemas de clima nas regiões e uma outra circunstância que é mais pontual e quase que imprevisível que é o apetite chinês por commodities. A China é um comprador muito grande e tem um direcionamento central de quando vai comprar e, em alguns momentos, eles entram no mercado importando com voracidade e mexem nos preços. E, eventualmente, os chineses saem subitamente do mercado, ficam sem comprar e os preços caem. Então agora nesse patamar que estamos vendo agora de soja a US$ 13 por bushel e o milho mais na faixa de US$ 6 [por bushel] é onde a gente acha que tem mais equilíbrio.
A nossa opinião é que o risco está mais para cair um pouco os preços do que para subirem. O aumento do preço dos insumos está acontecendo também no embalo dos preços altos que a gente vivenciou. Os fertilizantes aumentaram muito de preço nesse último semestre, o que sempre acontece quando sobe os preços das commodities em dólar – se sobe o preço da soja ou do milho lá em Chicago não demora muito e começa a subir os preços dos insumos. Então os preços dos insumos estão correndo atrás do preço das commodities, porque as margens, de fato, ficaram acima da média, e o mercado está se ajustando e tende ao equilibro. Se o preço da soja ficar por muito tempo alto, os insumos vão chegar num equilibro que ofereça uma margem para o produtor, mas que não seja uma margem exageradamente alta.
Já o algodão é um mercado bem diferente do mercado de grãos, mas os preços do algodão hoje estão na faixa de 80 centavos a libra/peso, que é a medida internacional, pouco menos de meio quilo. Então o preço de 80 centavos a gente vê como mais suportado porque a gente sabe que, historicamente, quando o preço do algodão começa a chegar mais perto de 70 centavos ou abaixo, a área de algodão começa a cair em nível global. Isso dá uma ideia de que o custo de produção, principalmente no hemisfério norte que é onde a maior parte do algodão é produzido, é por aí nos 65, 70 centavos. Então o preço não consegue ficar muito tempo abaixo disso. E se a gente olhar o lado da demanda por fibras, que está retomando após a pandemia, é um preço que parece justo para o cenário de oferta e demanda.
Mercado News – E em termos de produção, qual a expectativa do impacto da quebra da safrinha de milho nos resultados da empresa?
SLC Agrícola – No caso do milho nós tivemos uma quebra de produção de 20%, aproximadamente, que é uma quebra relevante. Já foi divulgado para o mercado em maio quando nós divulgamos nosso primeiro trimestre. Mas o aumento dos preços do milho compensou a queda de produtividade. Se a gente fosse olhar para o nosso orçamento lá atrás, quando produzia 120 sacas de milho safrinha, nós tivemos uma queda. Vamos produzir em torno de 100 sacas na metade da colheita, mas já com mais segurança dos números. Então a queda deve ser por volta de 20%, mas os preços subiram tanto que compensaram essa quebra. Do ponto de vista econômico, a gente não teve uma perda financeira.
Essa geada ela veio mais no fim, já quase em cima da colheita, então chegou a impactar um pouco algumas lavouras, mas foi um impacto pequeno. Até porque pegou mais as 2 fazendas que temos no Mato Grosso do Sul, onde ficou mais frio, com a geada mais intensa. Mas em função do momento que a gente estava de lavoura, já tinha uma parte colhida, o impacto foi bem pequeno.
O que impactou mesmo foi a seca, choveu muito pouco ao longo dessa safra, e isso que ocasionou a perda de 20%.
Mercado News – Dá para dizer que a SLC é um veículo para o investidor interessado em aproveitar esse ciclo positivo de commodities?
SLC Agrícola – A gente gosta de dizer que não, porque, na verdade, não é como se fosse um investimento em soja ou em algodão, porque o fluxo de caixa que ele gera não é em função do preço da soja mais alta ou mais baixa, pelo menos não no médio prazo. No curto prazo até a gente pode se beneficiar. Mas não tarda os preços dos insumos buscam esses preços altos, e as margens dos produtores vão ser calibradas por isso. Não controlamos o preço da soja e o preço dos insumos, o que a gente controla é o quão mais eficientes nós somos do que a média dos produtores.
O que estamos vendo como oportunidade é justamente através da tecnologia, a gente conseguir esticar cada vez mais essa diferença de eficiência. Eficiência é a gente produzir mais por hectare usando menos insumos. Então como o preço dos insumos e da soja a rigor é o mesmo para todos, se o produtor médio tiver uma margem operacional (hipotética) de 30%, vamos ter um pouquinho mais, porque a gente consegue extrair mais produtividade e usar menos insumos.
De uma forma simplificada, acho que a exposição que o investidor tem ao investir nas nossas ações é: acessar o fluxo de caixa de um grande produtor que tem ganhos de escala, que tem formas de mitigar riscos até por onde a gente está geograficamente e que está se consolidando. Estamos vendo essa oportunidade de crescer arrendando terras e extraindo cada vez mais valor do hectare. A dinâmica do mercado vai continuar a mesma nessa questão de preços das commodities e dos insumos, mas a gente vê essa oportunidade de se diferenciar em relação à média e extrair mais valor.
Mercado News – Como a empresa está posicionada em termos de logística da sua operação? Uma eventual greve dos caminhoneiros poderia impactar a empresa?
SLC Agrícola – Pode. Já tivemos alguns episódios que impactaram o setor e acabaram impactando a gente, indiretamente. Quando houve a Lei dos caminhoneiros foi um período em que os fretes subiram bastante, isso em um primeiro momento impactou as tradings. A gente entrega na fazenda e quem contrata o frete é a trading, mas claro que eles nos dão um desconto no preço proporcional ao custo do frete. Então a gente teve um aumento do frete em reais, mas acabou sendo compensado pela desvalorização do real contra o dólar. O frete em dólar que é o que interessa para a gente quando olhamos a competição internacional, ele acabou ficando estável. E nos últimos anos a gente tem visto esse comportamento de algum aumento do frete em reais, alguns picos de safra que o frete dispara e depois cai, mas como a gente vende a nossa safra antecipada já travamos com a trading o preço na fazenda, então já está embutido ali o frete. A gente consegue transferir um pouco desse risco para a trading, que tem condições de absorver e gerenciar esse risco.
Outro ponto importante é a melhoria logística, quando a gente olha para o Arco Norte, em que cada vez mais os grãos ali do Mato Grosso estão subindo para o rio Amazonas em vez de descer para Santos e Paranaguá. Isso está desafogando muito os portos do Sul e Sudeste.
Alguns anos atrás também tivemos um problema de apagão logístico porque dependíamos muito de Santos e Paranaguá, e ficavam filas de caminhões esperando para embarcar e os navios ficavam esperando, e isso tudo vai sendo repassado para o custo do frete.
Hoje a gente não tem visto mais esse problema porque está saindo um volume relevante de grãos por cima e tem uma possibilidade grande de aumentar ainda mais esse escoamento pelo Arco Norte. Sem comentar a possibilidade das ferrovias, que nosso ministro [de Infraestrutura] Tarcísio [de Freitas] está acelerando bastante discussões e pautas de ferrovias, que seria uma mudança bem mais sísmica para o nosso setor, em nosso favor. É uma discussão mais longa e complexa, mas é uma possibilidade.
Mercado News – Quais os planos para a SLC Sementes?
SLC Agrícola – No caso das sementes, começou com um objetivo menor para produzir sementes de soja para nosso próprio consumo. Então a primeira cliente da SLC Sementes foi a SLC Agrícola. E começamos a vender o excedente para outros produtores, há 3 anos atrás, e já somos o terceiro ou quarto maior produtor de sementes do Brasil.
Esse ano teve o IPO [oferta inicial de ações, na sigla em inglês] da Boa Safra Sementes, que é a maior hoje em volume de sacas de sementes, e nós estamos com 30%, 40% do tamanho deles. E é um negócio que a gente pretende continuar expandindo tanto em volume de soja ao dedicar mais campos para produzir soja semente, quanto em portfólio, agora entrando no algodão também.
Eu não posso ainda abrir os números detalhadamente, mas é um negócio que começou dentro de casa e nós estamos vendo um potencial grande de expandi-lo.
Mercado News – Como tem visto o movimento de entrada de outras empresas ligadas ao agronegócio na B3?
SLC Agrícola – A Terra Santa era uma empresa listada, vai continuar listada, mas a operação agrícola passa a ser nossa, e a Terra Santa continua listada como uma empresa de propriedades agrícolas. Seria similar a nossa LandCo, por exemplo. A Terra Santa vai ser uma empresa que tem 80 mil hectares, aproximadamente, arrendados para a SLC Agrícola. O investidor que comprar a ação da Terra Santa vai ter esse tipo de exposição. Então a nossa ação oferece um outro tipo de exposição: um fluxo de caixa de um operador agrícola, e não de um proprietário de terras, então oferece 2 caminhos diferentes dependendo do gosto do investidor.
A Boa Safra (SOJA3) também tem alguma similaridade com o nosso business de sementes, mas que é pequeno dentro do nosso total. A Boa Safra é puramente produção de sementes de soja. Nós temos esse negócio também, mas em uma escala bem menor.
Vieram outras empresas como a 3tentos (TTEN3) e a Agrogalaxy (AGXY3), que são vendedores de insumos e não tem nada a ver com o nosso negócio a não ser de estar na cadeia do agro.
Mas a gente acha que é bom, tem um cardápio maior para o investidor entender qual é o tipo de play, de exposição que ele quer ter na Bolsa. Mas a gente entende que a nossa proposta, nosso tipo de negócio é o único que tem essas características dentro do agro e listada em Bolsa.
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