Os juros futuros fecharam a quinta-feira em alta firme, mais pronunciada nos vencimentos longos. O tom duro do comunicado do Copom não conseguiu nem desinclinar a curva de juros nem colocar o dólar para baixo nesta quinta-feira. Isso até acontecia pela manhã, mas no início da tarde os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) foram assolados pela reação negativa dos agentes à apresentação do parecer do Refis no Senado, o que catapultou as taxas longas.
Mais do que os detalhes do texto, o mercado viu a medida como uma péssima sinalização para a área fiscal num contexto já muito negativo composto pela possibilidade de aumento no valor do Bolsa Família, fundo eleitoral de R$ 4 bilhões, proposta de vale gás a famílias carentes, PEC dos precatórios e ameaças ao teto dos gastos, sem contar a tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao mesmo tempo, a ponta curta teve alta firme com os ajustes ao comunicado e apostas de aumento da Selic em 1,25 ponto para a reunião de setembro já levemente majoritárias.
A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou pela primeira vez acima de 9% desde março de 2019, em 9,08%, de 8,786%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 9,39%, de 9,104%. Nos curtos, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,47%, de 6,367%, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 7,886% para 8,17%.
O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, explica que o mercado “até que vinha assimilando bem o Copom” pela manhã, com taxas curtas subindo mais do que as longas, mas foi pego no contrapé no início da tarde, com a divulgação do parecer que reabre o Programa Especial de Regularização Tributária (PERT), lançado em 2017. O relatório do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) prevê a adesão por pessoas físicas e jurídicas a um amplo programa de parcelamento de débitos até o dia 30 de setembro deste ano.
Por mais que possa representar mais caixa para os cofres públicos, o parecer é visto com preocupação, pelo risco moral. “Esse fluxo positivo é de muito curto prazo. A proposta reforça a sensação de que o governo optou pelo politicamente mais fácil nas contas públicas, sem enfrentar um ajuste mais definitivo”, disse Caramaschi.
Não passou despercebido ainda o fato de que a ideia vem na esteira de outros indícios de populismo por parte do governo que tem sua aprovação em queda e pretensões de reeleição, dando a impressão de que tudo é possível. Ao mesmo tempo, Bolsonaro vem subindo o tom contra o TSE no caso das urnas eletrônicas, agravando a percepção de risco político, embora ainda não se considere um cenário de ruptura.
Em relação ao Copom, a curva de juros passou por uma reprecificação apoiada no fato de que o colegiado já admitiu que o plano é levar a Selic acima do neutro, entre outros pontos do comunicado. Resta saber o quanto será necessário de aperto para recolocar o IPCA de 2022 de volta à meta de 3,5%.
A curva do DI embute alta de 115 pontos-base para a Selic no Copom de setembro, ou 40% de chances de novo aperto de 1 ponto e 60% de 1,25 ponto. Para o fim de 2021, projeta Selic de 8,09% e para o fim de 2022, de 9,58%. Os números são da Renascença DTVM.
Por Denise Abarca
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