A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera a aceleração da distribuição de vacinas contra o coronavírus a principal prioridade para preservar renda e limitar os efeitos da pandemia sobre a economia.
No relatório anual de perspectivas econômicas, a OCDE defende a importância da coordenação global para garantir o acesso a imunizantes. “A falha em garantir a supressão global do vírus aumenta o risco de que novas e mais ameaçadoras mutações apareçam, com algumas restrições à mobilidade tendo que permanecer em vigor”, alerta.
A Organização também avalia que os países devem intensificar reformas estruturais com objetivo de proteger as economias de choques futuros. Para a entidade, é preciso manter as medidas de apoio fiscal e monetário enquanto for necessário. “A retirada prematura e abrupta do suporte deve ser evitada enquanto as economias ainda estão frágeis e o crescimento permanece prejudicado por medidas de contenção e o ritmo de vacinação”, recomenda.
A OCDE pondera que as medidas fiscais devem ser direcionadas para os setores que mais necessitam. “Planos de recuperação também devem priorizar novas medidas, regulatórias e fiscais, que sustentem a demanda, melhorem as perspectivas para digitalização da economia e ajuda no combate às alterações climáticas”, destaca.
Economias emergentes
O aumento no número de casos de coronavírus, o ritmo desigual de vacinação e medidas de restrições à mobilidade estão pesando sobre a recuperação de economias emergentes, analisa OCDE no relatório agora divulgado.
“Embora o estresse do mercado financeiro seja menor do que há um ano na maioria das economias de mercado emergentes e os fluxos de capital reverteram em grande parte aos níveis anteriores à crise, uma série de riscos internos e externos permanecem”, avalia.
Segundo a OCDE, mesmo com o aumento do déficit fiscal, os governos desses países emitiram US$ 3,4 trilhões em dívida em 2020, o que os expõe a riscos referentes ao aumento de custos de empréstimos. A escalada dos juros dos Treasuries, diante do avanço da inflação nos Estados Unidos, pode gerar fuga de capital e volatilidade cambial.
Para a OCDE, “o aumento rápido da dívida soberana no Brasil e na África do Sul” tornou alguns dos setores dessas nações vulneráveis a choques no fluxo de capital. “No entanto, uma proporção em geral crescente de títulos em moeda local no total da dívida soberana na última década reduz a exposição à taxa de câmbio de muitos mercados emergentes”, pondera.
No lado positivo, a Organização entende que o avanço dos rendimentos de papéis públicos, se acompanhado pela melhora do quadro econômico global, teria o potencial de atenuar os efeitos negativos.
Inflação
A inflação global deve avançar em economias desenvolvidas e emergentes nos próximos doze meses, porém ainda a nível moderado, segundo prevê a OCDE em seu relatório anual de perspectivas econômicas. De acordo com a mediana das projeções da entidade, o nível de preços em países desenvolvidos que são membros da OCDE não passará de 2% até o fim de 2022.
Há no entanto, riscos que podem elevar os níveis de preços além do esperado, cita a OCDE. Entre eles, o documento destaca “efeitos da combinação de gargalos negativos na cadeia de suprimentos” global e uma possível alta mais acelerada do consumo privado nos países desenvolvidos, enquanto que em emergentes uma maior depreciação de moedas locais e aumento de preços nos setores alimentício e de energia podem “desancorar” as expectativas inflacionárias, em especial nos países cujos bancos centrais estão com a credibilidade enfraquecida.
No longo prazo, a OCDE avalia que o cenário é incerto. “A evolução da inflação dependerá de ações de política monetária e de fatores estruturais
que prevaleceram antes da crise do coronavírus”, afirma a entidade. Caso não hajam políticas protecionistas ou uma realocação em massa da cadeia produtiva, é esperado que as “forças globalizantes” mantenham as pressões inflacionárias limitadas, completa a OCDE.
Por André Marinho
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