Após uma manhã de terça-feira volátil, o dólar firmou queda nos negócios da tarde, mas reduziu o ritmo perto do fechamento. O real e as moedas de emergentes foram beneficiadas pela queda das taxas dos juros longos dos Estados Unidos, que foram as mínimas após megaleilão de títulos públicos, com forte demanda, levando as taxas de 10 anos para o menor nível em quase um mês. Mas o imbróglio envolvendo o Orçamento de 2021 persiste e segue limitando valorização maior do real, ainda mais em meio a duas novas fontes de incerteza, a proposta de uma PEC, que vem sendo chamada de “fura-teto”, para tentar viabilizar o orçamento e a CPI da pandemia. Com isso, a moeda americana não se sustentou abaixo dos R$ 5,70 durante os negócios.
Após cair na mínima do dia a R$ 5,66, o dólar à vista fechou cotado em R$ 5,7176, em leve baixa de 0,08%. No mercado futuro, o dólar para maio cedia 0,57% às 17h38, em R$ 5,7115.
O sócio e fundador da gestora SPX Capital, Rogério Xavier, avalia que o orçamento de 2021 é uma “cara de pau sem tamanho”, ao reduzir despesas obrigatória e incluir emendas, mostrando total falta de compromisso fiscal em Brasília. “Pelo contrário, você está comprometido em piorar o fiscal, estourar o teto, criar novas despesas burlando o teto.” Nesse ambiente, ele vê o câmbio seguindo pressionado, do nível atual para cima, e o investidor estrangeiro cada vez mais distante do Brasil.
“No tratamento do coronavírus, o Brasil é visto como o pior do mundo, como um risco”, disse nesta terça no podcast RadioCash, da Empiricus.
Neste ambiente de deterioração fiscal e com o tema persistindo no foco por muito tempo, o economista-chefe para América Latina do BNP Paribas, Gustavo Arruda, avalia que não há muito espaço para valorização do real. “Pelas medidas mais tradicionais, nosso câmbio está bastante desvalorizado e acreditamos que tem espaço para valorização. Mas não acreditamos que isso vai acontecer no curto prazo”, disse ele.
Neste primeiro trimestre, a tendência é de câmbio muito ruim e suscetível a choques, para começar alguma melhora no segundo semestre, com o avanço mais rápido da vacinação e a atividade ganhando fôlego, avalia ele.
Sobre o Orçamento de 2021, Arruda destaca que é um ruído de curto prazo que atrapalha as decisões dos investidores. “Essa dinâmica vai acabar se resolvendo, de uma maneira que mais gastos vão ser incorporador porque a pandemia está muito pior do que se esperava”, disse em evento pela internet com jornalistas. “O ideal para não gerar impactos mais duradouros era que não tivesse tantos ruídos.”
Pesquisa do Bank of America com gestores e investidores de América Latina mostra que aumentou o temor com a situação fiscal do Brasil. Subiu para 63% dos entrevistados o total que vê a possibilidade de descontrole fiscal como o maior risco para o Brasil neste momento. Na pesquisa feita em março, esse porcentual era cerca de 50%. Mas a expectativa é de avanço da vacinação e fôlego maior da atividade. Com isso, 75% dos participantes veem o dólar abaixo de R$ 5,60 em dezembro.
Por Altamiro Silva Junior
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