O Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) do Banco Central avaliou, por meio da ata da última reunião, que o sistema financeiro das principais economias segue resiliente. Para o colegiado, as diversas medidas adotadas para combater os efeitos econômico-financeiros da crise de covid-19 contribuíram para garantir que as instituições financeiras mantivessem seus níveis de capital e liquidez robustos.
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O documento enfatiza que simulações do próprio BC e dos bancos centrais de outros países indicam que o sistema financeiro global está preparado para suportar choques adicionais. “Várias jurisdições ainda mantêm, em algum grau, medidas de apoio emergencial, incluindo suporte ao crédito e estímulos à capitalização das empresas não financeiras”, lembra o documento.
O Comef alerta, porém, que a preservação da solvência das empresas depende da velocidade de recuperação da atividade econômica. Nesse sentido, em alguns países relevantes, já se observa elevação do número de pedidos de falência para acima dos níveis pré-pandemia.
“A abundância de liquidez na economia global e as melhores perspectivas para a recuperação de economias avançadas contribuíram para aumentar riscos de cauda nos preços de ativos financeiros. Movimentos intensos e abruptos de reprecificação de ativos podem ter efeitos negativos para os fluxos de investimentos para economias emergentes”, completa a ata.
Adicional contracíclico de capital principal
O Comef do Banco Central decidiu que o Adicional Contracíclico de Capital Principal (ACCP Brasil) para as instituições financeiras será 0% pelo menos até o final de 2021. De acordo com a ata da última reunião do colegiado, o porcentual foi decidido conforme as condições atuais e as expectativas quanto ao cenário econômico.
“Considerando que um aumento do ACCP Brasil entra em vigor após um ano da deliberação do Comef, ele não produziria efeitos antes do final de 2022. A decisão considerou as condições atuais e as expectativas quanto ao comportamento do mercado de crédito e dos preços dos ativos”, detalhou o documento.
O BC lembrou que no próximo mês os bancos devem iniciar o restabelecimento do Adicional de Conservação de Capital Principal. Além disso, o Comef recomendou que as instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de capital. “Ao longo de 2021, os bancos devem destinar os lucros de forma conservadora e alinhada às incertezas presentes e ao momento econômico”, acrescentou a ata.
Para o colegiado, a atual política macroprudencial tem cumprido um papel contracíclico, que foi implementada no começo da pandemia da crise gerada pela pandemia de covid-19 e reforçou as condições de liquidez e de solvência para que os bancos pudessem conceder mais crédito a empresas e famílias.
“O crédito cresceu sem excessos, enquanto os preços de ativos se comportaram em linha com os fundamentos econômicos, apesar da volatilidade acima do usual. As medidas contracíclicas concluirão sua vigência gradualmente, mas sob monitoramento contínuo do BCB, visto que remanesce incerteza quanto à inadimplência e à retomada econômica”, completou o Comef.
Recomposição parcial de atividade
O Comef do Banco Central atestou que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) segue resiliente e tem maior capacidade de absorção de perdas em relação às últimas reuniões do colegiado. O melhor desempenho nos testes de estresse para medir os impactos da pandemia decorre principalmente da recomposição dos níveis de capital dos bancos e da recuperação parcial da atividade econômica nos últimos meses.
A ata do encontro destaca que os níveis de capitalização e de liquidez do SFN seguem superiores aos requerimentos prudenciais. Segundo o BC, o sistema absorveu os impactos da pandemia ao longo do segundo semestre de 2020. Essa recomposição gradativa dos níveis de capitalização foi creditada pelo Comef, em parte, à regulação que restringiu a distribuição de resultados pelos bancos.
O documento considera ainda que as provisões do sistema para potenciais perdas de crédito são suficientes e adequadas. O BC destaca que a cobertura dos ativos problemáticos atingiu seu maior valor histórico e aponta que, a carteira repactuada na crise – da qual 84% já saiu do período de carência – tem apresentado qualidade do crédito superior ao inicialmente esperado.
“O crédito bancário tem crescido impulsionado pelo nível de taxas de juros e pelas medidas emergenciais, que mitigaram os efeitos da crise da covid-19. Algumas linhas de crédito, como o imobiliário, são estimuladas pelo nível historicamente baixo de taxas de juros. O crescimento do crédito bancário é condizente com os estímulos proporcionados pelas medidas e com os atuais fundamentos econômicos”, completa o documento.
Perdas de crédito
O Comef do Banco Central alertou nesta terça, por meio da ata da última reunião, que as perdas de crédito podem ser superiores aos níveis estimados, embora não seja este o cenário esperado pela autoridade monetária. Para o colegiado, a retirada de medidas emergenciais e a incerteza sobre o prolongamento da pandemia podem afetar a qualidade do crédito no País.
“O Comef avalia que o Sistema Financeiro Nacional mantém reservas robustas para fazer frente a essas incertezas graças ao aumento das provisões realizado pelas instituições, à melhora na capitalização e à restrição à distribuição de resultados em 2020”, ponderou o documento.
O BC chama a atenção ainda para o aumento do custo de manutenção de liquidez, enquanto os prazos de captação encurtaram. A ata detalha inclusive que a taxa média de captação tem se elevado, ficando pela primeira vez acima da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 2,00% ao ano.
“Ao mesmo tempo, os prazos das captações foram encurtados em decorrência da crise, o que exige volumes maiores de liquidez disponíveis nas instituições financeiras. O Comef avalia que os bancos possuem capacidade de adaptação para lidar com as mudanças que ora se apresentam mediante redefinições de estratégias de captação e de gestão de liquidez”, completou o BC.
Por Eduardo Rodrigues
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