O mês de março tem uma certa calmaria na agenda de IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) na B3, o que deve reduzir o impacto da recente piora na percepção de risco do mercado para novas precificações de empresas na Bolsa de Valores, avalia André Rosenblit, diretor da Santander Corretora. O período mais calmo “é ótimo porque se tivesse alguma precificação, afetaria, sem dúvidas”, disse em entrevista ao Mercado News.
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O executivo reconhece o aumento do risco no curto prazo diante da troca de comando na Petrobras (PETR3, PETR4), mas não acredita em menor apetite dos investidores estrangeiros no longo prazo. Segundo ele, os gringos enxergam “que existe um dinheiro muito grande em renda fixa com uma taxa de juros baixa e que essa migração tende a aumentar para a renda variável”. Além disso, o mercado brasileiro oferece um grande desconto – cerca de 15% a 20% – em relação a outros países emergentes, o que eleva sua atratividade.
Outra coisa notável para o fluxo estrangeiro é o entendimento de um processo de capitalismo tomando forma aqui no Brasil, com empresas de menor porte tendo acesso ao mercado de capitais, resultando em quase 3 milhões de pessoas entrando na Bolsa brasileira nos últimos anos. A perspectiva continua positiva e Rosenblit opina que “em um período de 2 ou 3 anos esse número pode chegar até 10 milhões de pessoas, pode triplicar”.
Neste contexto, a Santander Corretora está lançando um serviço para os investidores que não têm tempo de ficar estudando o mercado. O chamado ALGO+ é uma ferramenta para o investidor comprar uma carteira de ações, com o rebalanceamento periódico feito de forma automatizada. O sistema de algoritmos da Santander Corretora faz as alterações indicadas pelos analistas.
A seguir, conheça a visão de André Rosenblit, diretor da Santander Corretora, sobre o cenário atual dos mercados:
Como o senhor vê o crescimento da quantidade de investidores pessoas físicas na Bolsa brasileira? Quais são as expectativas para o futuro?
É um movimento incrível. Desde 2000 até 2015, o número ficou estável em torno de 350 mil pessoas, não subia. Houve diversas propagandas, até na praia, usando o Pelé, mas nada mudava. De 2016 para hoje, houve uma grande mudança, quase 3 milhões de pessoas entraram na Bolsa – na sua grande maioria jovens, idade média de 32 anos, em que o investimento inicial fica em torno de R$ 600 a R$ 700. E essa democratização dos investimentos é fruto de um cenário de baixa de juros, em que houve um aumento de apetite para o risco, com a educação financeira ajudando as pessoas a investirem mais.
A facilidade de negociação ajudou muito também. Há tempos atrás, para fazer um cadastro em uma corretora, levava horas ou dias. Hoje, em um minuto você faz um cadastro, aqui na corretora, em menos de um minuto você está cadastrado. Além disso, os preços de corretagem caíram também, então ficou barato comprar e vender ações, e você faz isso com o celular na mão. Você não precisa estar na frente do computador ou ligar para o seu agente financeiro. Com seu celular, dirigindo, para no semáforo, compra e vende ação. Essa facilidade aumentou muito o número de pessoas.
Olhando para frente, temos uma visão de que os juros podem até subir um pouco em curto prazo, mas vão continuar em um patamar baixo e esse processo de pessoas indo para o mercado de renda variável tende a continuar. Nós achamos que, em um período de 2 ou 3 anos, esse número pode chegar até a 10 milhões de pessoas, pode triplicar. Isso sem contar as pessoas que investem nos fundos de ações, que também é um movimento que vem acontecendo de modo bem acentuado – uma migração de renda fixa para venda variável.
Estamos caminhando da mesma forma que alguns países mais desenvolvidos caminharam. É uma mudança do capitalismo aqui no Brasil. Quando eu falo que é uma mudança no capitalismo, é porque quanto mais gente investe em Bolsa, ou seja, maior demanda, tem também o lado da oferta, novas empresas vindo ao mercado. E isso vem acontecendo de uma forma contínua. Esse ano está sendo excepcional, o ano passado foi excepcional e acho que o futuro que nos aguarda vai ser excepcional também, mesmo com esse sobe-e-desce do dia a dia.
E enquanto há um movimento de novas empresas vindo ao mercado, vemos o Ibovespa tropeçando, com algum enfraquecimento da percepção sobre a agenda liberal do governo e maior risco sobre estatais. Como isso afeta os IPOs?
A primeira reação de qualquer ser humano é: “que absurdo”. Mas depois as pessoas vão acomodando. O mês de março, as próximas 3 semanas, é um período de calmaria nos IPOs, então, por enquanto, você não vai ver nenhuma precificação nesse curto prazo. O que é ótimo, porque se tivesse alguma precificação, afetaria, sem dúvidas. As pessoas demandariam um pouco mais de desconto, dado que o nível de risco aumentou um pouco.
De uma forma geral, o viés para o Brasil nos últimos tempos já embute nos preços um risco um pouco maior do que os outros mercados, principalmente, devido aos riscos políticos, cambiais etc. Então, a América Latina como um todo embute já um componente de risco, e por isso negociam com desconto em relação aos mercados emergentes da Ásia, por exemplo. O impacto aqui do que aconteceu na Petrobras foi horrível, caiu 20%, casas deram downgrade no papel, mas agora o cenário é de acompanhar o que o novo presidente irá falar. E aí pode ter outra oportunidade.
Eu tenho uma certa experiência no mercado e já vi isso acontecendo várias vezes. No momento H parece o fim do mundo, mas as pessoas vão relevando algumas coisas e tende a melhorar. A Petrobras ainda é uma empresa bastante relevante no cenário global como um todo e as pessoas têm noção disso.
E como o senhor observa o impacto no fluxo estrangeiro para a Bolsa brasileira?
No curto prazo muda. Mas o investidor estrangeiro, quando investe em mercados emergentes, sabe que o risco político é maior do que em mercados desenvolvidos. E esse grande investidor global sabe que vai ter volatilidade em alguns papéis, dias de mais volatilidade, então isso não é nenhuma grande surpresa. Já vimos grandes volatilidades na Turquia, na África do Sul, no México, em diversos países emergentes. Isso já está no radar do investidor estrangeiro.
Por sinal, o investidor estrangeiro olha outras coisas também. Por exemplo, o crescimento de lucro das empresas brasileiras nos próximos 2 anos – o número é ótimo, o Brasil cresce cerca de 23% – e esse número tem uma relevância muito grande. O gringo olha esse processo em que existe um dinheiro muito grande em renda fixa com uma taxa de juros baixa e que essa migração tende a aumentar para a renda variável. Ele vê mais gente entrando na Bolsa, vê o indício de um processo de capitalismo tomando forma aqui no Brasil, com empresa de menor porte tendo acesso ao mercado de capitais. Ele vê, além disso, que há um desconto grande no Brasil em relação a outros países emergentes, cerca de 15% a 20% de desconto em relação ao preço dos outros mercados emergentes. Isso é levado em conta. E muito disso tem a ver com o câmbio a R$ 5,45, lembrando que o real foi a moeda que mais desvalorizou nos últimos 18 meses, então, para o investidor externo, o Brasil ficou um pouco mais barato.
Além disso, ele vê que o Brasil é um país muito voltado para commodities, então tem mineração, siderurgia, papel de celulose, grãos, petróleo, e essas empresas tendem a ir bem em um cenário de alta nas commodities. Existe uma percepção de que as commodities definitivamente vão subir muito. Países, principalmente africanos e asiáticos, com população muito grande, atingiram PIB (Produto Bruto Interno) per capita que mostram o aumento da demanda por commodities global. E essa retomada da economia combinada com esses países que atingiram um grau de economia mais alto vai demandar mais metais, mais minérios, mais petróleo, mais grãos, e tudo isso tem um impacto em commodities. E o Brasil é um país “commoditizado”, de forma geral.
Com a melhora secular da economia, a qualidade de vida do brasileiro também melhora, e isso ajuda muito as empresas de saúde e educação, que estão começando a ter uma relevância muito maior nos IPOs e na própria Bolsa. Eu diria que é ruim o que aconteceu na Petrobras, desagradou os investidores, mas não é nem de longe o fim do mundo. Eu vejo muito mais como talvez uma boa oportunidade para achar um bom momento de compra. A gente trabalha com a Bolsa em 135 mil pontos no fim do ano, não mexemos nessa previsão até agora.
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