Depois da renúncia de quatro membros do conselho de administração da CVC, o presidente da empresa, Leonel Andrade, afirmou que a mudança no colegiado decorre de alterações no quadro societário. Durante a pandemia, com a queda do preço das ações, as gestoras Opportunity e Pátria elevaram suas participações, tendo direito a assentos no colegiado. Andrade nega que os conselheiros tenham deixado a companhia por causa de erros contábeis ocorridos nos últimos anos e que resultaram em um impacto negativo de R$ 362 milhões na empresa. “Hoje não existe nada contra ninguém do conselho ou contra alguém que esteja na empresa. Nenhuma apuração ou questionamento de ética” afirmou. Ontem, após o anúncio da renúncia, os papéis da CVC caíram 1%.
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Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:
Por que os conselheiros renunciaram?
Antes da pandemia, a empresa já vinha num período ruim. Em fevereiro, o diretor financeiro (Maurício Montilha) disse que havia encontrado problemas contábeis. Aí, se criou um comitê de apuração e viram que o problema era maior do que parecia. As ações desabaram. Nesse momento, grandes fundos começaram a comprar (ações da CVC), como Opportunity e Pátria. Aí falaram que queriam participar do conselho. Em maio do ano passado, três conselheiros saíram, e entrou um representante do Opportunity, um do Pátria e um independente indicado por eles. A apuração continuou e, em 31 de agosto, a empresa se posicionou. Os quatro conselheiros disseram, então, que ficariam mais um tempo, mas já queriam ir embora. A conversa foi: por favor, vamos terminar a missão antes. Do jeito que o ano foi difícil, com a confusão da empresa, a gente tinha de renegociar a dívida, fazer a capitalização e uma troca de gestores. Então, aceitaram ficar. Em dezembro, fechamos a renegociação da dívida. Aí, esses conselheiros falaram: agora é hora de ir. Ao mesmo tempo, o Pátria e o Opportunity já tinham decidido que iam colocar mais conselheiros. Aí fomos selecionar novos conselheiros. Isso foi feito e, na sexta-feira, fechamos novos conselheiros.
Não foi a aprovação de balanços com erros contáveis o motivo para a saída?
O que está caindo muito mal e gerando desconforto é que tem uma apuração (de fraude contábil). É público que a empresa vai ter de submeter providências à assembleia de acionistas. Hoje não existe nada contra ninguém do conselho ou contra alguém que esteja na empresa. Nenhuma apuração ou questionamento de ética. Os conselheiros cumpriram o trabalho. É importante frisar que quem tem de decidir se vai tomar uma ação ou não é a assembleia, não o conselho.
Mas o conselho não identificou um problema que se acumulou por anos.
É fato. Balanços foram publicados e sempre houve conselheiros. Mas auditorias também viram (os balanços). Se você tem indícios de fraude de manipulação de resultados, obviamente depois pode avaliar que o conselho não cumpriu seu papel. Mas, quando você tem uma manipulação, é muito difícil (identificar). Não estou dizendo que o conselho fez bem ou mal feito. O fato é que não existe nenhum indício contra o conselho. (A reportagem não conseguiu contato com os ex-conselheiros. Cristina Junqueira, que fazia parte do colegiado, disse que não se pronunciaria).
Por que eles saíram juntos?
Como a eleição é por voto múltiplo e era uma chapa, se um renuncia, cai os outros. O fato é que quatro conselheiros já estavam predispostos a sair.
Há rumores de que os conselheiros se sentiam enganados pela gestão anterior.
Não posso falar por eles, mas posso garantir que o conselho nunca teve nenhum problema interno. Estavam todos trabalhando muito bem.
Na diretoria também houve uma mudança grande. Por quê?
Desde que cheguei (à CVC, em abril), 20 pessoas reportavam a mim. Hoje, são 11 e, desses, sete são novos. Mas também tem muita gente boa entrando. Tem a ver com a cultura. É muito difícil estar em uma empresa em que você vê a dificuldade de transformação para o mundo digital. Precisa renovar. Se não, não se consegue fazer muita coisa.
A empresa apresenta hoje a investidores iniciativas para os próximos meses. Marcas serão eliminadas?
A CVC comprou dez empresas nos últimos cinco anos. Quando cheguei, elas não estavam integradas, mesmo empresas que faziam a mesma coisa. Juntei essas empresas, mas ainda tenho várias marcas. Vamos uni-las.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Luciana Dyniewicz
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