Em um ano atípico para os mercados financeiros, tumultuado pelo efeito da pandemia de Covid-19 na economia, a educação financeira evoluiu no Brasil, mas ainda há um longo caminho pela frente. O estoque de poupança superou a marca de R$ 1 trilhão pela primeira vez na história, ao passo que mais de 2 milhões de pessoas debutaram na bolsa de valores.
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A tradicional caderneta de poupança tende a ser a primeira opção de aplicação para pessoas com perfil mais conservador e pouca experiência com investimentos. E o ato de guardar dinheiro diante da imprevisibilidade da economia, neste 2020 naturalmente influenciado pelos estímulos do governo para combater a crise de Covid-19, sugere algum planejamento financeiro, independentemente dos predicados da poupança.
De acordo com dados do Banco Central, até o dia 23 de dezembro, o saldo da poupança marcava R$ 1,034 trilhão. A título de comparação, em dezembro de 2019, o estoque somava R$ 845,4 bilhões.
Para Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe do banco digital modalmais, o aumento do volume na caderneta reflete certa praticidade de aplicação e resgate em meio à baixa remuneração da renda fixa, além do impulso das medidas governamentais adotadas durante a pandemia: “os auxílios emergenciais, quando não foram para consumo imediato, boa parte caiu na poupança ampliando o estoque de aplicação”.
Poupança é investimento?
Especialistas em finanças veem pouca (ou quase nenhuma) atratividade da poupança como investimento, muitas vezes sequer batendo a inflação.
É o caso do economista Daniel Xavier, do banco ABC Brasil, que cita o Tesouro Direto: “a rentabilidade da poupança é baixa quando comparada com outras oportunidades de investimento. E é abaixo até da inflação IPCA. Portanto, é melhor optar por outras classes de ativos quando você for investir. Oportunidades interessantes aparecem com frequência nos investimentos via Tesouro Direto”.
“Muitas pessoas permanecem com seus investimentos na poupança por conta da liquidez e segurança. Todavia, a rentabilidade é muito baixa, perdendo para a inflação. Há outras opções de investimentos de liquidez diária, como alguns CDBs e fundos de investimentos com liquidez diária, que permitem equilibrar com o risco que se está disposto a correr na renda variável, como FIIs [fundos de investimento imobiliários], ações e outros fundos de investimentos”, observa Matheus Jaconeli, economista da Nova Futura Investimentos.
Pessoa física na Bolsa
Na outra ponta, a renda variável bombou. Segundo dados da B3, havia mais de 3,1 milhões de investidores pessoa física na Bolsa em novembro deste ano, contra cerca de 1,6 milhão ao fim de 2019, o que evidencia a busca por ativos de renda variável em decorrência da baixa performance da renda fixa.
O crescimento simultâneo das duas modalidades, caderneta de poupança e Bolsa, revela, segundo Valter Police, planejador fiduciário da empresa de planejamento financeiro Fiduc, um “extremismo” em termos de perfis. “De um lado, excesso de conservadorismo. Do outro, excesso de arrojo.”
Police conclui dizendo que a educação financeira no Brasil ainda tem um longo caminho pela frente, “caminho esse que precisará levar as pessoas a entender que, por um lado, nem tudo é fraude e que oscilação não precisa significar perda. Por outro, que não existem milagres, mas que o longo prazo compensa os investidores pacientes”.
A respeito da entrada de investidores pessoa física na B3, Jaconeli, da Nova Futura Investimentos, destaca também o crescimento da busca por conhecimento em relação a investimentos. “Em certa medida, isso se deveu ao aumento nos números de canais na internet sobre educação financeira e investimentos. Outro fator importante é a queda nas taxas de juros, fazendo com que muitas pessoas migrassem para o investimento em ações com o objetivo de diversificar sua carteira, em busca de maiores rendimentos.”
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