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Samarco retoma atividades em Mariana cinco anos após tragédia

(Foto: Divulgação / Vale)

A Samarco retomou a retirada de minério de ferro do complexo da empresa em Mariana (MG), onde, cinco anos atrás, uma barragem se rompeu. Além de matar 19 pessoas, o incidente se tornou uma das maiores tragédias ambientais do Brasil: toneladas de rejeito atingiram florestas e, pelo Rio Doce, a lama chegou ao litoral do Espírito Santo depois de passar por 40 municípios.

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O retorno das operações da Samarco, que é uma joint venture criada pelas gigantes do setor de mineração Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, ocorre antes mesmo de os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, destruído pela lama, passarem a morar no chamado Novo Bento Rodrigues, uma recriação do original, próximo ao local da tragédia. As famílias ainda moram em casas alugadas pela empresa em Mariana. Cerca de 600 pessoas aguardam pelas moradias no novo distrito.

A retomada da Samarco ocorreu na quarta-feira, 23. A barragem da empresa, chamada Fundão, ruiu em 5 de novembro de 2015. Até hoje ninguém foi responsabilizado pelo rompimento da estrutura. Em julho de 2017, uma ação criminal por homicídio contra integrantes do alto escalão da Samarco, Vale e BHP chegou a ser suspensa pela Justiça depois que os acusados afirmaram que provas obtidas nas investigações foram conseguidas de forma ilegal. A ação foi retomada em novembro do mesmo ano e ainda não teve desfecho.

A construção do Novo Bento Rodrigues está a cargo da Fundação Renova, que tem à frente as próprias mineradoras, conforme o Ministério Público de Minas Gerais, um dos responsáveis pelas investigações sobre o rompimento da barragem. Desde 2016, quando os ex-moradores do distrito destruído aprovaram a área para a construção do Novo Bento Rodrigues, a entrega das obras foi adiada duas vezes.

A data inicial era março de 2019, adiada para agosto de 2020, por sua vez transferida para fevereiro do ano que vem. Um documento da prefeitura de Mariana enviado a futuros moradores do distrito mostra nova data, 9 de outubro de 2021. O papel fala ainda em uma “data máxima” para a entrega: outubro de 2024. A Renova afirma que o tema é tratado em ação civil pública e que a Justiça foi informada sobre os impactos da covid-19 no andamento das obras.

Uma das ex-moradoras do distrito e que segue aguardando pela casa nova é Joana D’arc, de 48 anos, casada, seis filhos e seis netos. Ela mora com duas filhas em uma das casas alugadas pela mineradora na cidade. “Tá todo mundo reclamando muito. A empresa volta a operar e a gente ainda não tem casa para morar? É muito difícil”, se queixa.

Extração de minério

O retorno da Samarco em Mariana possibilita a retomada também do funcionamento da planta da empresa em Ubu, no Espírito Santo, onde o minério de ferro extraído na cidade mineira é processado. A produção chega ao Estado vizinho via mineroduto. A mineradora afirma que a volta das operações acontecerá com a extração anual entre 7 milhões e oito milhões de minério de ferro por ano, o que equivale a cerca de 26% total da empresa.

“Tomamos a decisão de retornar de uma forma gradual, com muita segurança e usando novas tecnologias. Este momento reflete o compromisso da empresa com o reinício sustentável, a segurança operacional, o meio ambiente e o relacionamento com as comunidades. Estamos comprometidos com uma mineração moderna, segura e sustentável”, afirma o diretor-presidente da Samarco, Rodrigo Vilela.

A empresa vai voltar a operar sem a disposição de rejeitos em barragem como a que ruiu. A Samarco afirma que usará no processo de descarte a Cava Alegria Sul, uma estrutura criada a partir da retirada do minério de ferro considerada segura pela mineradora. Também foi introduzido na operação do complexo da companhia em Mariana o sistema de filtragem dos rejeitos para empilhamento a seco, que consiste em retirar a água do descarte que, em seguida, é empilhado.

A Samarco afirma esperar que “o sistema de filtragem de rejeitos em funcionamento permita que cerca de 80% do total de rejeitos sejam empilhados a seco na Cava Alegria do Sul após o beneficiamento”. E que os “20% de resíduos remanescentes, compostos por água e finos de minério, sejam levados para a Cava Alegria Sul, um espaço confinado em uma estrutura de formação natural rochosa que aumenta a segurança”.

As previsões da empresa apontam que, em seis anos, a produção de minério de ferro em Mariana deve subir para entre 14 milhões e 16 milhões de toneladas. Outro incremento deverá ocorrer em cerca de nove anos, com a produção subindo para até 24 milhões de toneladas por ano. A empresa, porém, depende de licenças ambientais para todo o processo de aumento na produção.

A reportagem tentou contato com o prefeito de Mariana, Duarte Júnior, para falar sobre a retomada da Samarco na cidade. As ligações não foram atendidas.

Por Leonardo Augusto, especial para o Estadão

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