Após um dia relativamente tranquilo, os juros passaram por um estresse na sessão estendida da B3, zerando a queda vista na etapa regular e passando a operar em alta, renovando máximas em vários pontos da curva. O gatilho foi a informação, apurada pelo Broadcast, de que a minuta do substitutivo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) emergencial traz autorização para que receitas desvinculadas banquem despesas fora do teto por um ano após a aprovação do texto.
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A medida foi lida como “pedalada” e possível ameaça à manutenção do forward guidance do Banco Central, que indica manutenção dos juros em níveis estimulativos por um período prolongado desde que cumpridas determinadas condições, às vésperas do Copom. Até então, a perspectiva de manutenção de fluxo firme para mercados emergentes e notícias domésticas positivas, como a de que a vacinação contra a Covid em São Paulo começa em janeiro e perspectiva de avanço nas reformas já nesta semana, asseguraram recuo das taxas no fechamento da sessão regular.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 3,06% e a estendida em 3,075%, de 3,094% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 fechou a regular em 4,42% e a estendida em 4,475%, de 4,505% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2025 fechou a regular a 6,08% e a estendida em 6,14%, de 6,134% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 6,923% para 6,91% (regular) e 6,96% (estendida).
A realização de lucros que começou na sexta-feira perdeu força no fim da manhã de hoje, quando as taxas zeraram a alta e passaram a oscilar inicialmente com viés de baixa, mas ampliaram a queda perto do fechamento da sessão regular. No fim do dia, o detalhe da minuta da PEC, obtida pelo Broadcast, provocou uma reviravolta no sentimento do mercado, que passou a recompor prêmios com a leitura de piora no risco fiscal e ameaça ao teto de gastos. Dado o estrago, o Ministério da Economia se manifestou dizendo ser contra qualquer proposta que trate da flexibilização do teto de gastos, mesmo que temporária.
Na avaliação dos players, se a regra for aprovada, não se descarta mudança no forward guidance da política monetária já no Copom desta semana. “Eu diria que põe em risco sim. Fábio Kanczuk falou que estava por um triz, embora não que caindo o forward guidance teria alta da Selic imediatamente”, disse um gestor, lembrando que a manutenção do teto de gastos é uma das condições para a sustentação da orientação futura.
Na maior parte da segunda-feira, porém, houve otimismo. “O mercado lá fora segue bastante favorável a ativos emergentes, com perspectiva de liquidez global farta, e aqui temos a sinalização de que o auxílio emergencial não será prorrogado. São coisas que induzem à compressão dos prêmios na curva e ganhos no real e na Bolsa”, disse Rogério Braga, diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset.
O estrategista da XP Investimentos, Fernando Ferreira, disse que os programas de estímulos devem ser mantidos pelo mundo no ano que vem, o que de alguma forma deverá beneficiar o Brasil, citando o esperado pacote de estímulos os Estados Unidos e lembrando que o Japão anunciou hoje um programa de estímulo hoje, disse.
O mercado ainda testava uma correção das quedas recentes quando, no fim da manhã, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), informou que o início do Plano Estadual de Imunização (PEI) contra a covid-19 será em 25 de janeiro, com a CoronaVac. Segundo Doria, qualquer brasileiro que estiver em São Paulo e pedir para ser vacinado dentro do Plano, apresentado hoje, será imunizado gratuitamente.
A CoronaVac está na fase final de análise de eficácia e ainda não recebeu aval da Anvisa, mas, de todo modo, o mercado olhou o copo meio cheio. “Até data para vacina vira motivo para comemoração”, diz Braga, acrescentando que o mercado está mais otimista com a parte fiscal.
À sinalização de que o “coronavoucher” não deverá ser estendido, soma-se ainda informação de que o governo desistiu de apresentar um programa de renda mínima, mantendo o orçamento do Bolsa Família. Ao Broadcast Político, o relator do Orçamento, Marcio Bittar (MDB-AC), disse que prepara um parecer da PEC com a previsão de gatilhos, como corte de salário no funcionalismo público, para União, Estados e municípios, que poderá ser apresentado ainda hoje se receber o aval das bancadas do Senado.
Por Denise Abarca
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