O dólar firmou alta nos negócios da tarde, após operar com forte volatilidade pelo quarto dia seguido. O clima de aversão ao risco predominou no exterior, por conta do crescimento dos casos de coronavírus, volta do impasse sobre o pacote de estímulo fiscal americano e discursos cautelosos de dirigentes de bancos centrais nos EUA e Europa, o que acabou penalizando as moedas de emergentes. No Brasil, a falta de novidades sobre o ajuste fiscal e ainda declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmando que se houver uma segunda onda de coronavírus, haverá novo auxílio emergencial, pressionaram o câmbio. Com isso, o real voltou a ganhar o posto de pior desempenho ante o dólar no mercado internacional.
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No encerramento, o dólar à vista terminou com alta de 1,14%, cotado em R$ 5,4782. No mercado futuro, o dólar com vencimento em dezembro fechou em alta de 1,26%, em R$ 5,4620.
“Congresso em ritmo de eleição acentua fragilidade fiscal”, destaca o título da carta mensal da gestora Franklin Templeton, assinada pelo estrategista-chefe de renda fixa e multimercados da gestora, Renato Pascon. Para ele, o impasse sobre como financiar novos programais sociais do governo segue como principal motivo do desempenho ruim dos ativos brasileiros e do real. Até agora, o governo só mostrou fontes de financiamento consideradas heterodoxas e passíveis de furar o teto de gastos em 2021, alerta o gestor.
Por isso, mesmo em um ambiente em que bancos vêm recomendando a compra de ativos de emergentes, como o Credit Suisse fez hoje, ao elevar a alocação na região para “overweight”, e recursos vêm entrando no Brasil, o real pouco tem se beneficiado. O banco suíço prevê enfraquecimento do dólar em 2021 no governo de Joe Biden, mas nem todos os mercados vão ser beneficiados de forma igual.
“Apesar de a economia brasileira estar se recuperando bem, a baixa taxa de juros e a falta de clareza sobre as finanças públicas e a paralisação das reformas em meio à pandemia do coronavírus devem seguir pesando no real”, avaliam as estrategistas do moedas e mercados emergentes do alemão Commerzbank, Alexandra Bechtel e Melanie Fischinger.
Com a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, o dólar se enfraqueceu e o real teve algum respiro, assim como outras moedas de emergentes, comentam as analistas do Commerzbank. Mas sem avanço de reformas e com diferencial de juros muito baixo elas veem o câmbio seguindo pressionado e o dólar acima de R$ 5,00 até, ao menos, o final de 2021. “Preocupações de que o governo possa abandonar o teto de gastos em 2021 provavelmente vão seguir pressionando o real”, comentam, ressaltando que a tendência de enfraquecimento da moeda brasileira prossegue sem sinais de trégua.
Por Altamiro Silva Junior
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