Com quase 27 mil casos de covid-19 confirmados, a capital de Mato Grosso, Cuiabá, registrou o primeiro teste positivo da doença em um animal doméstico no Brasil. O caso é de uma gata de propriedade de uma família diagnosticada com o novo coronavírus. O animal não apresenta sintomas e segue em isolamento domiciliar com seus tutores.
O teste foi realizado na semana passada pela pesquisadora e professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Valéria Dutra, que atua no diagnóstico de pacientes com covid-19 no Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM). Após passar pelos exames de sorologia e PCR, a gata teve a doença confirmada. O animal convive em uma residência com um casal e uma criança já infectados pelo novo coronavírus.
“Ainda não se sabe como funciona a contaminação de animais e a possibilidade de transmissão para outras espécies ou seres humanos. É tudo muito novo e seguimos realizando testes para descobrir. O que temos confirmado é que a gata convivia com a família infectada, não apresenta qualquer sintoma e segue em isolamento com eles”, acrescenta Valéria.
Há cerca de dois meses, a veterinária faz a coleta de amostras de cães e gatos de pessoas contaminadas pela covid-19 e tratadas no HUJM. Até o momento, já foram realizados 14 testes, sendo o da gata o primeiro confirmado. A pesquisadora segue acompanhando um segundo caso suspeito, em Várzea Grande, cujo material já foi encaminhado para confirmação.
Com a confirmação, a UFMT passará a fazer parte de um grupo de pesquisas do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que investiga a covid-19 em animais domésticos. Pesquisadores de Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Recife (PB), e São Paulo (SP) participam do projeto. A pesquisa é coordenada pelo professor e pesquisador Alexander Biondo, que elogiou o trabalho executado pela UFMT ao identificar o primeiro caso confirmado da doença no país.
“Isto demonstra que a vigilância de animais domésticos em Cuiabá é muito maior a de outras cidades do País, com um número mais expressivo de casos confirmados da covid-19 em seres humanos. O nosso trabalho agora é descobrir a capacidade de infecção, permanência do vírus no organismo e transmissão dos animais. O que sabemos é que gatos são mais suscetíveis que cães e que há histórico de transmissão para outros felinos, mas não para humanos”, explica Alexander.
Os pesquisadores ressaltam que os casos de covid-19 em animais domésticos são raros e que, por isso, não há razões para abandono ou sacrifício das espécies. Eles reforçam ainda que a possibilidade de transmissão da doença pelos animais também não está confirmada e que em geral, os bichos são assintomáticos, assim como as crianças.
“O objetivo da pesquisa é justamente demonstrar a raridade da contaminação e transmissão de animais e a importância dos cuidados que os humanos devem ter com seus bichos quando já foram contaminados pelo novo coronavírus”, destaca Alexander.
“O animal não é o vilão nesta história. Se ele fez parte da cadeia de transmissão por conviver com humanos contaminados, deve ser ainda mais protegido e cuidado”, aponta a veterinária Valéria Dutra. A família proprietária da gata diagnosticada com covid-19 em Cuiabá informou por meio da médica, que não deseja se manifestar publicamente sobre o caso.
Por Bruna Pinheiro, Especial para o Estadão
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