O primeiro dia de retorno às aulas presenciais na rede pública fluminense desde o início da pandemia de covid-19 foi tímido e marcado por incertezas. Autorizada apenas para alunos do 3º ano do Ensino Médio ou que estejam no último ciclo da Educação para Jovens e Adultos (EJA), a volta levou apenas parte dos alunos às escolas – sobretudo os que estão preocupados com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para janeiro.
Em uma instituição visitada pelo Estadão no Largo do Machado, zona sul da capital fluminense, o clima entre os alunos era de dúvidas. Muitos estavam ali sem saber se teriam ou não aula. Entre as principais reclamações dos estudantes, estavam a dificuldade de acesso ao sistema de aula online e a principal consequência disso: o despreparo para as provas do Enem.
“Com que base eu vou fazer (o Enem)?”, questionou Matheus de Feitosa, de 18 anos. “Eu tento entrar na plataforma, mas dá ‘login inválido’ e não conseguem resolver.”
Eduardo Vasconcelos, de 17 anos, que quer cursar Psicologia no ensino superior, também critica o sistema. Ele afirma que é preciso tentar entrar várias vezes até conseguir o acesso. “De tanto insistir, uma hora vai”, disse.
Professora de matemática no mesmo colégio, Sanny Gutemberg, de 43 anos, afirmou que a pandemia e a necessidade de aula online escancarou desigualdades entre as redes pública e privada, principalmente por causa das diferentes condições tecnológicas de cada aluno.
“A plataforma às vezes ficava muito pesada, não abria. Tivemos poucos acessos online. Os alunos da rede pública foram os que mais se prejudicaram nessa pandemia”, declarou.
Ainda assim, a abertura para atividades presenciais foi parcial em todo Estado. Atingiu apenas 416 escolas de 16 municípios. A retomada dos encontros nas outras 76 cidades ou não foi autorizada pelas prefeituras ou continuou vetada por elas ficarem em áreas que ainda registram risco alto de transmissão do coronavírus.
A Secretaria Estadual de Educação não divulgou balanço, mas a estimativa da pasta é de que até 63 mil alunos estejam aptos ao retorno. Independentemente disso, as aulas remotas continuarão, e ao menos em termo de progressão ninguém será afetado. Isso porque, na quarta-feira passada, o secretário estadual de Educação, Comte Bittencourt, assinou resolução determinando que nenhum aluno da rede estadual será reprovado neste ano – a não ser que fique caracterizada situação de abandono escolar.
Por Caio Sartori e Marcio Dolzan
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