Tina McMahon foi criada em casa de republicanos. Em 2016, votou em Donald Trump. Agora, ela acredita que o presidente seja incapaz de unir o país. A poucos passos do restaurante onde ela trabalha, Karen Shepherd diz que geralmente vota em republicanos, mas não desta vez. “O presidente é um homem sem integridade”, afirma. A aversão das mulheres a Trump tem acelerado a virada democrata que gradualmente vinha acontecendo no Arizona graças a mudanças demográficas.
Com exceção de 1996, quando Bill Clinton foi reeleito, a última vez que o Arizona votou em um democrata foi em 1948. Em 2016, porém, Trump ganhou por apenas 91 mil votos de Hillary Clinton. O alerta foi ligado em 2018, quando os democratas elegeram um senador e o Arizona passou a integrar a lista dos Estados-chave, onde o voto está em disputa na corrida presidencial.
Os subúrbios de Phoenix têm feito o Estado conservador mudar de perfil. Com mais latinos, jovens e eleitores que migraram da Califórnia, o Arizona entrou na mira dos democratas. O discurso anti-imigração de Trump, a obsessão pela construção de um muro na fronteira com o México, o fracasso na resposta à pandemia e a polarização política aceleraram um processo que já estava em curso. A covid matou mais de 5,7 mil no Estado, que está entre os cinco do país com a taxa de mortes mais alta – 78,9 por 100 mil habitantes. “A covid foi muito mal gerida de cima para baixo”, afirmou Rebecca Martinez, de 42 anos.
Tina tem 31 anos e pouco interesse em política. Karen tem 69 anos e sempre votou. As duas nasceram, cresceram e trabalham no condado de Maricopa, onde fica Phoenix. Questionadas sobre o que mudou na orientação política do Arizona, as duas dão a mesma resposta: as pessoas não gostam de Trump. Segundo pesquisas, 55% das mulheres do Estado votam em Biden e 37%, em Trump. Entre os homens, o presidente tem 2 pontos de vantagem. Segundo sondagem Siena College-The New York Times, Biden está 8 pontos à frente de Trump no Arizona.
Trump visitaria o Estado na semana passada, mas a covid o deixou preso em Washington. Coube ao vice Mike Pence fazer um comício nos subúrbios de Phoenix, na quinta-feira, mesmo dia em que Biden e Kamala Harris visitaram a outra ponta da cidade.
No Arizona, os jovens filhos de mexicanos, favorecem os democratas. Max Morales, de 18 anos, conta que os pais cruzaram a fronteira com seu irmão mais velho, que na época tinha 2 anos. “Minha mãe não gosta de Trump pelo que ele fala sobre os latinos. A maioria só está aqui para tentar uma vida melhor, não são criminosos”, afirma. Ele não tem idade para votar este ano, mas votaria em Biden, por uma nova política de imigração, pelo combate à pandemia e pelas mudanças climáticas. “Nossa população está sendo afetada por tudo isso”, diz.
O calor de quase 40 graus é parte do noticiário local. Bombeiros do Arizona vêm ajudando a apagar o fogo nas florestas do Estado vizinho da Califórnia. No dia 29, o sol forte não impediu que uma pequena fila se formasse na porta do comitê republicano de Phoenix para acompanhar o primeiro debate.
Veronica Hassenger, de 51 anos, ensaiou colocar a máscara no rosto na entrada. “É obrigatório?”, ela perguntou a um dos organizadores que checava a temperatura dos presentes. Ao ouvir que não, arrancou a máscara do rosto. Além dos jornalistas, apenas 1 dos 27 presentes usava máscara na pequena sala fechada. “Biden não está muito saudável”, afirmou Veronica.
Segundo ela, o que tem mudado o Arizona são os californianos que “trazem a política junto com eles”. O êxodo da Califórnia é impulsionado por pessoas que buscam impostos mais baixos e melhor qualidade de vida, além da abertura de escritórios de empresas de tecnologia.
Entre 2010 e 2018, quase 500 mil migraram da Califórnia para o Arizona. Natasha Castellanos, de 31 anos, chegou a Phoenix há pouco tempo. “Dá para sentir que este é um Estado republicano, mas há os transplantados, como eu”, diz, enquanto pega sua bicicleta na saída de um bar “pet friendly”. “Estou ansiosa para a eleição, porque, independentemente de quem ganhar, será uma loucura.” Tina concorda: “Mal posso esperar pelo fim, todo mundo está ficando louco.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Beatriz Bulla, enviada especial
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