A chegada da pandemia do novo coronavírus e o consequente uso obrigatório de máscara em lugares públicos fez com que corredores – amadores ou profissionais – tivessem de adaptar seus treinos. Sim, o acessório é item essencial na proteção contra a covid-19. E escolher o modelo ideal pode ser um desafio a mais com tantas opções no mercado. Por isso, o Estadão buscou diversos modelos disponíveis e convocou um júri para testá-las.
Engana-se quem pensa que correr de máscara aumenta a resistência: aquele esforço a mais causado pelo acessório não fará ninguém mais atleta. “Correr de máscara, ao contrário de qualquer outro acessório ou equipamento do universo da corrida, não irá trazer qualquer benefício que melhore os resultados, mas sabemos de sua necessidade em tempos de pandemia”, diz Geonave Rega, educador físico e corredor amador.
Para o fisiologista Turibio Leite de Barros, a palavra que define a sensação de usar máscara durante a prática de esporte é “desconforto”. Segundo ele, não existe uma limitação real para a passagem do ar por conta do acessório e sim uma sensação de estar respirando menos. Porém, o que acontece, na verdade, é que a máscara dificulta a troca de calor. “Nós exalamos calor ao expirar. É o vapor dágua que vem dos pulmões. Com a máscara, essa perda de calor fica comprometida, parece que esquenta mais. A dificuldade está, então, em expirar e não respirar”, explica Barros. “Ela cria uma sensação subjetiva que há um esforço maior para correr ou fazer qualquer outro exercício.”
De acordo com o médico, não há muito o que se fazer para atenuar o desconforto. “É como a dor. Quem corre ou pratica esporte de alto nível acaba tolerando-a, assim é com a máscara também. Questão de adaptação, de saber lidar com a situação”, diz. A solução é o corredor procurar a proteção que ele mais se adapte. “O ideal é que seja feita com um tecido que reduz a transpiração, como aqueles que já são usados em camisetas esportivas.”
Diante disso, o que é possível fazer é encontrar uma máscara com que o corredor melhor se adapte. “Se puder, teste. Veja qual se encaixa melhor ao rosto, que sinta que seja possível respirar e seja minimamente confortável, afinal, correr é desconfortável. Sendo assim, que o uso da máscara não desmotive a prática da corrida, principalmente nesta época, em que precisamos pensar em saúde e qualidade de vida mais do que nunca”, diz Rega.
E testar foi o que o Estadão propôs, inclusive, com a ajuda de Rega, que se juntou a outros quatro convidados para experimentar diferentes modelos de máscaras disponíveis no mercado. Cinco exemplares foram colocados, literalmente, à prova, pelos jurados que correram, no mínimo, 5 km com cada uma, em busca do modelo ideal para a prática.
Para tal, foram avaliados cinco critérios: respirabilidade, fixação, anatomia, material e a performance geral. Eles registraram os impactos nas máscaras conforme os quilômetros rodavam. Foram mais de 150 km percorridos pela equipe.
Também participou do teste Viviane Jorge, editora de arte do Estadão e corredora amadora, que, desde que se animou a voltar a treinar (depois de um primeiro período de incertezas trazido pela quarentena), está em busca de uma máscara que não cause tanto desconforto. Para ela, aquelas feitas com tecido comum, caseiras, não são as mais indicadas. “Até uma dessas descartáveis funciona melhor. E como aparentemente teremos de continuar usando esse acessório por um bom tempo, acredito que vale investir num modelo mais tecnológico para deixar os treinos mais confortáveis”, diz.
A Asics, fabricante da máscara Runners Face Cover, uma das favoritas entre os jurados convidados pelo Estadão, não revela especificamente qual tecido usou no desenvolvimento da máscara.
Apenas diz que ele é “respirável” e que o material com o qual ela é feita facilita sua limpeza após o uso. “Desenvolvemos a máscara levando em conta a necessidade específica de proteger o corredor e, para isso, utilizamos da nossa biblioteca de tecidos existentes no Laboratório de Ciência e Esporte da empresa, em Kobe, no Japão”, diz Daniel Costa, Head de Produtos da Asics Latin America. Segundo a empresa, a máscara é produzida com 31% de material reciclado.
De acordo com Costa, os primeiros protótipos da máscara, que chega ao mercado brasileiro agora em outubro, foram produzidos entre maio e junho – foi um dos produtos mais rapidamente desenvolvidos pela Asics, em função da pandemia e da necessidade do uso de proteção para a prática de esporte. “Produzi-la em tempo recorde nunca foi o objetivo. Sempre quando desenvolvemos algum produto novo, nossa prioridade é entregar a mais alta tecnologia para o consumidor por meio de estudos e testes”, diz o executivo. As apostas do produto são a curvatura, que facilitaria a respiração, e as aberturas para ventilação, com a função de desobstruir o ar no interior da máscara.
Mas, claro, e quem corre de máscara já percebeu: o cansaço chega – e mais rápido. Quando isso acontecer, o ideal é fazer uma pausa para que a respiração volte ao normal, além de evitar treinos muito longos. “Basta fracionar o treino em períodos mais curtos. Se houver possibilidade, em um lugar sem ninguém por perto, tire a máscara para que a recuperação seja completa”, diz Turibio.
Como em qualquer prática de exercício, a dica principal é, além do aquecimento, se hidratar, justamente por essa perda maior de calor causada pela máscara.
ANTES DE IR PARA AS RUAS
Teste: Se tiver a possibilidade, veja qual modelo se encaixa melhor ao seu rosto. Ele deve permitir maior respiração e ser minimamente confortável.
Aquecimento: Qualquer modelo pede um bom aquecimento físico já usando a máscara, para o corpo se adaptar e o corredor entender como será a respiração durante seu treino, o que irá ajudar a diminuir as sensações de falta de ar e desconforto. Quanto mais consciente das próprias capacidades, melhor será a adaptação ao uso da máscara.
Pegue leve: Seu desempenho não vai ser o mesmo. Por isso, não fique preso a grandes metas de desempenho nas corridas com a máscara. O ideal é optar por treinos com média ou baixa intensidade e também mais curtos. Correr em grandes intensidades, como em treinos intervalados, será um desafio até para os mais profissionais, em razão de fatores fisiológicos que levam à fadiga.
Faça pausas: Correr de máscara cansa mais rápido; faça pausas para que a respiração volte ao normal.
Hidrate-se: Como em qualquer prática de exercício, a dica principal é, se hidratar, justamente porque a perda de calor causada pela máscara é maior.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renata Mesquita e Danilo Casaletti, especial para o Estadão
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