O dólar inicia outubro em alta, impulsionado por um caldeirão de incertezas na cabeça dos investidores quanto ao futuro da situação fiscal no Brasil, que se deteriorou nas últimas semanas e segue sem rumo. Se continuar nessa direção, pode buscar os R$ 6,00, patamar que não foi alcançado nem no auge da turbulência da covid-19, o que já levanta questionamentos no mercado se o Banco Central não deveria agir com mais força para conter tamanha desvalorização do real. No ano, a depreciação é quase 41%, o que posiciona a divisa brasileira como o pior desempenho ao redor do globo.
Se antes já haviam questionamentos quanto à austeridade fiscal, o mais recente imbróglio do governo Bolsonaro, o financiamento ao Renda Cidadã, programa social que deve substituir o Bolsa Família, só fez piorar. E a cada dia os investidores ficam ainda mais sem visibilidade. A notícia negativa de hoje foi a fala do vice-presidente Hamilton Mourão, que sugeriu que o governo negocie com o Congresso a flexibilização do teto de gastos para custear o Renda Cidadã, já que não tem dá onde tirar dinheiro para bancar o programa.
“Tudo isso é muito ruim e aumenta a percepção de risco perante ao Brasil, que já é péssima entre os investidores estrangeiros”, avalia o CEO e fundador da FB Capital, Fernando Bergallo. “O dólar a R$ 6,00 nunca esteve tão próximo, com o movimento de alta reverberando a crise de confiança em relação ao Brasil”, acrescenta.
Após abrir o dia em baixa, chegando a cair pontualmente abaixo dos R$ 5,60, beneficiado pelo apetite por ativos de risco no exterior, o dólar engrenou em um movimento de valorização ante o real. Com a pressão do problema fiscal no Brasil, a divisa norte-americana seguiu em alta e, inclusive, acelerou a subida ao longo do final do pregão, batendo a máxima de R$ 5,66.
No fechamento, o dólar à vista encerrou com elevação de 0,63%, cotado a R$ 5,6541. Já no mercado futuro, a moeda para novembro subia 0,85%, cotado em R$ 5,6615 às 17h15.
Outro assunto monitorado pelos investidores nesta quinta-feira foi a divulgação dos dados da balança comercial brasileira, que teve superávit recorde em setembro. As exportações superaram as importações em US$ 6,164 bilhões. Este é o maior resultado para o mês na série iniciada em 1989.
O estrategista de macroeconomia e mercados do BB-BI, Hamilton Moreira, afirma que, desde que não impacte na inflação, o dólar elevado beneficia o setor externo. De acordo com ele, além da questão fiscal, as eleições nos Estados Unidos devem trazer mais volatilidade ao câmbio em outubro, com os investidores tirando dólares dos países emergentes. Passada a disputa, que será definida em 3 de novembro, a tendência é de que o dólar volte um pouco – isso se o resultado não for questionado, como o presidente Donald Trump tem sinalizado em caso de vitória do democrata Joe Biden.
Por Aline Bronzati
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