A relação é direta. Quem tem acesso frequente à arte tem mais chance de ser saudável mentalmente. Música, literatura, teatro, cinema. Formas de lazer que podem tornar a vida mais leve, reduzindo a ansiedade e elevando a sensação de bem-estar. “O lazer é uma forma de prevenção de doenças e promoção de saúde. Estimula a cognição e o repertório social”, afirmou ao Estadão a médica psiquiatra Gabriela Galvão. É por isso, segundo a especialista, que investir em atividades culturais, parques e praças, significa melhorar a saúde pública.
Pesquisador da área de saúde, Pedro Senger, de 25 anos, sabe bem os benefícios da cultura. Morador da região de Higienópolis, no centro, está a cinco minutos de caminhada na Avenida Paulista. Apesar de não ser em si um equipamento de cultura, a avenida mais famosa da cidade virou ponto de encontro de artistas que se apresentam aos domingos gratuitamente ali – o projeto de manter a avenida aberta a pedestres está suspenso em função da pandemia.
A via ainda abriga uma série de institutos culturais, como o Museu de Arte de São Paulo (Masp), o Instituto Moreira Salles e a Japan House. “Antes da pandemia, eu saía muito para jantar. Frequentava bastante cinema, teatro e, no domingo, tinha como programa andar pela Avenida Paulista”, disse Pedro.
Sábado e domingo costumam ser os dias que Vandersilva Simeão, de 54 anos, coloca as tarefas domésticas em dia. Dificilmente ela aproveita o fim de semana para ir ao cinema, teatro ou museu. Perto de sua casa, na Vila Missionária, zona sul, o lazer é quase inexistente. E o jeito é improvisar. “Fico sentada na rua tomando uma geladinha”.
Moradores da mesma cidade, mas atendidos de forma totalmente diferente, Vandersilva e Pedro foram convidados pelo Estadão para ilustrar os desafios do próximo prefeito ou prefeita de São Paulo na redução das desigualdades da cidade.
Acesso
Na média, a capital paulista tem quatro equipamentos de cultura para cada grupo de 100 mil habitantes. Enquanto o Butantã possui cerca de 53 equipamentos por 100 mil habitantes, outros 23 distritos não têm nenhum. Os dados fazem parte do Mapa da Desigualdade 2019, da Rede Nossa São Paulo. O bairro de Vandersilva está na parte debaixo desse ranking.
Num raio de 1 km de onde a encarregada de limpeza mora, a única diversão fica por conta do chamado Clube da Comunidade, espaço municipal administrado por entidades locais. Mas lá não há nem sequer um parquinho para as crianças.
A Secretaria Municipal de Cultura informou que os equipamentos culturais mais próximos de Vandersilva são a Biblioteca Paulo Duarte, o Centro de Culturas Negras e a Casa de Cultura Hip Hop Sul. Todos a cerca de uma hora de caminhada. A pasta diz que estuda a criação de uma casa de cultura no bairro e que investe na contratação de artistas da região no projeto online chamado Casa de Cultura Itinerante Cidade Ademar.
Segundo a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, a solução não está necessariamente em levar os mesmos equipamentos do centro para a periferia. “É preciso trabalhar com o que já existe, identificando e mapeando coletivos e espaços artísticos independentes para apoiar toda essa rede cultural periférica. Isso por ser feito, por exemplo, a partir de leis de incentivo”, diz.
O Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (Pro-Mac), conhecido como Lei Rouanet da Prefeitura, usa agora o critério da vulnerabilidade para selecionar projetos, o que ajuda a fortalecer a identidade desses bairros e a criar polos de cultura. “Com isso, há uma melhora na qualidade de vida, que depende do equilíbrio entre trabalho e lazer.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Adriana Ferraz e Bianca Gomes
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