A sessão positiva em Nova York contribuiu para que o Ibovespa interrompesse série de três perdas diárias neste fechamento de mês e trimestre. Logo na primeira etapa, a guinada veio de indicações do secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, que alimentaram a expectativa do mercado por um acordo sobre estímulos fiscais ainda nesta semana – o impulso, contudo, foi perdendo força ao longo do dia, com ganhos na faixa de 0,74% (Nasdaq) a 1,20% (Dow Jones) no fechamento. O relativo otimismo deixou em segundo plano o acirrado debate Trump-Biden da noite anterior, recebido por analistas políticos como um fenômeno sem precedentes na concorrida vida republicana dos EUA. Aqui, o mercado aproveitou o bom humor externo para esquecer um pouco a recém-descoberta relação entre precatórios, Fundeb e Renda Cidadã, que pode agravar a situação fiscal.
Entre os principais indicadores do dia, destaque para o Caged, com saldo positivo de 249.388 vagas de trabalho em agosto, em contribuição de todos os setores da economia. Na entrevista sobre os resultados, participação-surpresa do ministro da Economia, Paulo Guedes, que aproveitou a oportunidade para dizer que o governo Bolsonaro encontrou “eixo político” este ano – repetindo palavra, “política”, em recente evidência na retórica pessoal. “Acordos políticos estão sendo costurados. O líder do governo avisou que há consenso em ir avançando no pacto federativo”, disse o ministro.
Assim, com o copo pela metade e em ajuste de fim de período, o Ibovespa fechou nesta quarta-feira em alta de 1,09%, a 94.603,38 pontos, entre mínima de 93.584,12 e máxima de 95.340,12 na sessão, acumulando perda de 4,80% em setembro, após retração de 3,44% em agosto. No trimestre, passou do positivo em julho (+8,27%) ao negativo em agosto e setembro, acumulando no intervalo de três meses leve perda de 0,48%, após salto de 30,18% no segundo trimestre, quando havia saído de 73.019,76 pontos em 31 de março para 95.055,82 pontos em 30 de junho – em porcentual, o melhor desempenho trimestral desde os últimos três meses de 2003.
Naquele encerramento de trimestre, o Ibovespa começava a parecer indeciso, na faixa de 94 mil a 97,7 mil pontos – semelhante a de agora -, mas encontrou ímpeto para buscar os 100 mil, atingindo a marca pouco depois, nos dias 9 (intradia) e 10 de julho (fechamento), sustentando-se sem interrupções na faixa de seis dígitos entre 15 de julho e 14 de agosto. Após ceder a 99.595,41 no fechamento de 17 de agosto, recuperou logo no dia seguinte o nível de 100 mil que, entre idas e vindas, não seria mais visto desde 18 de setembro. No pico do recente ciclo de recuperação – iniciado em abril e, desde agosto, em fadiga -, o Ibovespa foi aos 105.703,62 pontos no intradia de 29 de julho – no fechamento, também a melhor marca do período, de 105.605,17 pontos. No ano, o índice cede agora 18,20%.
“Abaixo dos 97 mil, o viés para o índice se mantém negativo, com as próximas regiões de suporte agora aos 93,2 mil e 92,2 mil pontos. Andamos hoje com o exterior, na expectativa pelo pacote fiscal nos EUA, mas o mercado aqui permanece com o pé atrás, principalmente pela situação fiscal doméstica”, diz Rodrigo Barreto, analista gráfico na Necton. “Os inícios de mês costumam ter um movimento de compras e, com fechamento de trimestre, há troca nas carteiras – mas isso é mais intenso nas viradas de semestre, com os fundos, do que nas de trimestre”, acrescenta Barreto.
Nesta última sessão do trimestre, com giro financeiro a R$ 24,3 bilhões, os ganhos se distribuíram por empresas e setores, como commodities (Petrobras PN +1,55%), siderurgia (CSN +7,70%, maior alta do Ibovespa) e bancos (Santander +3,21%). Logo após CSN na ponta do índice, destaque para Raia Drogasil (+6,79%), Qualicorp (+5,13%), Minerva (+4,63%) e Gerdau Metalúrgica (+3,75%). No lado oposto, Suzano caiu hoje 3,23%, à frente de Ultrapar (-2,23%) e Equatorial (-1,99%).
Por Luís Eduardo Leal
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