A decepção com os anúncios do governo em torno do financiamento do programa Renda Cidadã e sobre a reforma tributária fez a curva de juros empinar nesta segunda-feira, 28, com algumas taxas de médio e longo prazo chegando a subir até 75 pontos-base nas máximas do dia. No fechamento, a pressão diminuiu, especialmente depois da intervenção do Banco Central no câmbio, que fez o dólar desacelerar; da melhora adicional dos mercados no exterior e também por fatores técnicos. A proposta de usar parte dos recursos do Fundeb, e, principalmente, do orçamento destinado ao pagamento dos precatórios, chocou o mercado, para quem o lançamento do programa, que é muito caro ao presidente Jair Bolsonaro, nessas bases será difícil sem ferir as regras fiscais.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a 3,06%, de 2,853% no ajuste de sexta-feira e a do DI para janeiro de 2023 terminou em 4,54%, de 4,234% no último ajuste. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa em 6,61%, de 6,224%, e a do DI para janeiro de 2027 saltou de 7,213% para 7,62%.
“O dia estava muito bom lá fora, apesar dos receios com a segunda onda do coronavírus na Europa. Daí os fatores locais acabaram dando esse grande start da azedada de humor”, afirmou o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier. Segundo ele, à tarde, com o mercado já muito machucado, a onda de “stops” arrefeceu. “Muita gente zerou posições e acabou abrindo espaço para quem queria vender”, explicou, sobre a desaceleração das taxas.
“Havia grande expectativa sobre quais seriam as fontes de financiamento e o que foi apresentado frustrou muito”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, lembrando que também não houve nenhum sinal positivo de avanço para a reforma tributária, como se esperava.
Para o especialista em contas públicas, Guilherme Tinoco, as duas medidas são péssimas. O uso do Fundeb, segundo ele, é um claro drible no teto, uma vez que o fundo dedicado à educação e é uma despesa específica que, pela legislação em vigor, fica fora da regra do teto. No caso dos precatórios, Tinoco diz que, pelo que foi anunciado, parece mera rolagem de pagamentos para o ano seguinte.
Mais cedo, o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, em audiência no Congresso, já alertava sobre a necessidade de reformas para reduzir a inclinação da curva. “A curva de juros futuros está inclinada hoje por incertezas em relação à nossa consolidação fiscal. Os juros longos se reduzirão naturalmente com sinais sobre reformas”, disse. Segundo ele, o colchão de liquidez para o gerenciamento da dívida permanece “acima dos níveis prudenciais” mesmo com o aumento de emissões de títulos.
Por Denise Abarca
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