A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou nesta sexta-feira, 25, um documento com orientações para a volta às aulas que inclui a criação de comitês, com representantes das áreas de saúde e educação, para verificar os protocolos de higiene para o novo coronavírus das unidades e defendeu a adoção do modelo híbrido de aulas, com atividades presenciais e online.
A entidade recomenda que os planos de volta às aulas mantenham o foco na situação epidemiológica de cada localidade e que as escolas devem estar preparadas não só para fazer a triagem de sintomas dos alunos, mas ter espaços para acolher crianças e adolescentes caso eles manifestem os sintomas durante o período em que estiverem na escola.
“O primeiro ponto que a gente não pode esquecer é que o assunto é complexo e não pode ser tratado com simplicidade. Mesmo com as evidências, até o momento, de que os locais que retomaram as aulas não houve muito impacto na saúde das crianças, precisamos pensar que ainda estamos aprendendo sobre a covid-19. Não é uma questão de risco zero”, explica Edson Liberal, segundo vice-presidente da SBP.
Os comitês com a participação da comunidade escolar e de profissionais da saúde teria a função de visitar as escolas e verificar a quantidade de banheiros e pias, capacidade física das unidades, os protocolos de higiene e a adoção de medidas preventivas.
As escolas devem exigir o uso de máscaras nas faixas etárias que já têm condições de utilizá-las – a entidade recomenda o uso por crianças apenas acima de 2 anos, mas com supervisão de adultos entre 2 e 5 anos -, garantir um espaço de um a dois metros entre as cadeiras e orientar os pais para que eles reconheçam sintomas. A SBP sugere ainda que as unidades de saúde ofereçam testes diagnósticos para crianças sintomáticas.
“A ideia de fazer o comitê é para que cada escola tenha um grupo para ver se a unidade está em condição para fazer o distanciamento e cuidados de higiene. Tem Estados que estão começando a receber agora uma verba extra e sabemos que há escolas com estrutura deficitária em relação a banheiro, por exemplo. Mas os comitês devem existir nas escolas públicas e privadas.”
O pediatra diz que a reabertura das escolas precisa ser pensada de forma ampla, superando as ações apenas nas unidades, pois a operação envolve uma grande movimentação de pessoas e esses fatores também têm de ser avaliados.
“Nosso meio de transporte é completamente diferente do da Europa. Os transportes de massa, como metrôs e ônibus, já estão superlotados. Quando abre a escola, muitas pessoas são colocadas nas ruas.”
Segundo Liberal, a oferta do ensino híbrido, com a possibilidade de aulas remotas para famílias que não pretendem mandar os filhos para a escola, é algo que precisa ser mantido após a retomada.
“Sempre vai depender da questão epidemiológica, mas uma criança de grupo de risco não deve ir para a escola. O ensino deveria ser híbrido, mas sabemos que as pessoas de baixa renda muitas vezes têm um celular que é compartilhado por todos. A escola pode trabalhar em pequenos grupos, mas a família tem de ter opção de não levar a criança e ter direito ao ensino remoto, porque tem razões para estar insegura. São quase 140 mil mortes.”
Tendo as condições de reabertura, com queda na taxa de infecção, de óbitos e de ocupação dos leitos de UTI, as famílias que querem mandar os filhos para as escolas também devem ter esse direito, na avaliação de Liberal.
“Se a escola está em condições, o aluno mora perto da escola ou vai em transporte individual e vai ter mais benefícios voltando para a escola, vai voltar. É uma questão a ser analisada caso a caso.”
Prejuízos do fechamento das escolas
No documento, a sociedade destaca a importância da volta às aulas presenciais para as crianças e adolescentes e cita os prejuízos causados pela interrupção das atividades escolares durante a pandemia.
“O prejuízo causado pelo fechamento das escolas para as crianças é inequívoco, especialmente quando se prolonga por muito tempo, como atualmente ocorre na maior parte do Brasil. Evasão escolar, impactos cognitivo e pedagógico, risco de violência, depressão e outros distúrbios da saúde mental, agravos nutricionais, necessidade de abandono do emprego pelos pais para cuidar das crianças, entre outros, se relacionam às graves consequências associadas ao fechamento dos estabelecimentos de ensino”, enumera o documento.
Por Paula Felix
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