Com o mercado internacional praticamente parado por causa da pandemia, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) lançou uma campanha global pedindo governos que suspendam as medidas de quarentena e deem lugar a políticas de testagem massiva dos passageiros. A empreitada, entretanto, aparenta distante de ser algo aceito em muitos países da América Latina, uma vez que a proposta da associação é que os custos e desafios logísticos com os testes sejam pagos pelos governos.
“As medidas de quarentena estão matando a retomada da indústria. Muitos passageiros falam que não vão viajar se tiver chance de quarentena nos destinos”, disse o diretor-geral e CEO da Iata, Alexandre de Juniac, a jornalistas na manhã desta terça-feira. Ele apontou dados de pesquisa recente com passageiros em que 83% dos entrevistados disseram não estarem dispostos a viajar diante da chance de adotar quarentena no destino.
Durante a conversa, economista chefe da Iata, Brian Pearce, sinalizou uma retomada leve nos números de agosto na comparação com julho, mas a melhora viria apenas do segmento doméstico. O internacional, disse, continua travado. A Iata deve divulgar os dados de agosto na semana que vem.
Em julho, a demanda global por voos (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) apresentou queda de 79,8% na comparação com igual mês de 2019, No mercado doméstico mundial, a demanda apresentou queda de 57,5% no mês. No mercado internacional, entretanto, a queda no mês foi de 91,9% na comparação anual, revelando o maior desafio do setor.
Juniac destacou que fornecer testes para todos os passageiros vai ser um desafio, mas disse que o custo com a produção tem caído. Quando questionado sobre quem custearia os testes nessa escala, ele explicou que medidas de saúde pública como essa devem ser arcadas pelos governos, conforme a regulação internacional. “Os governos que deveriam pagar por isso, mas estamos confiantes de que o tema será discutido”, disse.
Os testes são apontados pela Iata como fundamentais para retomar o mercado de voos sobre o Atlântico, em xeque durante a pandemia, como a rota Estados Unidos/Reino Unido. O problema é que muitos países, principalmente na América Latina, enfrentam dificuldade para testar a sua própria população. Questionado em como o setor aéreo conseguiria essa atenção, Juniac defendeu a importância dos voos para a retomada da economia global.
Ainda há muitas incertezas sobre o tema, como o próprio local para a realização dos testes. Há possibilidade dele ser feito nos próprios aeroportos, já que alguns exames prometem entregar o resultado em até 50 minutos. O levantamento feito pela Iata aponta que mais de 80% dos passageiros aceitariam chegar um pouco mais cedo para o procedimento.
No primeiro momento, a proposta de testar os passageiros é direcionada ao mercado internacional, que praticamente não esboça reação nesses mais de seis meses de pandemia. O teste, entretanto, apenas será eficiente se o país destino o aceitar e não impor medidas de quarentena aos viajantes.
Por Cristian Favaro
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