Foram cerca de dois meses de negociações, mas não teve jeito: amanhã, os aplicativos chineses TikTok e WeChat vão deixar as lojas de aplicativos do Android e do iPhone nos Estados Unidos. Ontem, o Departamento de Comércio dos EUA anunciou a imposição de uma série de restrições contra as duas plataformas – na visão do governo americano, elas representam risco de segurança nacional para o país, porque podem ser usadas pelo Partido Comunista da China como veículos para obtenção de dados sigilosos.
Assim, por decreto, os apps terão de sair das lojas de aplicativos, o que significa que não será possível fazer novos downloads das plataformas.
“As ações de hoje provam mais uma vez que o presidente Donald Trump fará tudo ao seu alcance para garantir nossa segurança nacional e proteger os americanos das ameaças do Partido Comunista Chinês”, disse Secretário de Comércio, Wilbur Ross, em nota. Desde o início do imbróglio, em julho, o governo americano não apresentou provas concretas da espionagem de Pequim nos dois apps.
A partir de amanhã, o WeChat também será completamente banido no território americano, com operadoras de internet proibidas de permitir seu funcionamento. “As restrições anunciadas são um infortúnio, mas vamos continuar a discutir com o governo americano uma forma de conseguir uma solução de longo prazo”, afirmou a Tencent, dona do WeChat, em comunicado. Antes de sair do ar, porém, o aplicativo teve uma alta de downloads ontem: foi um dos cem apps mais baixados nos EUA, segundo a consultoria Sensor Tower.
Já o TikTok, que pertence à startup ByteDance, terá regras mais suaves: o aplicativo terá até o dia 12 de novembro para firmar um acordo para a venda de suas operações nos EUA. Caso contrário, o aplicativo será descontinuado no território americano.
É uma transação cujo desenho é mais difícil do que parece: o negócio, que foi disputado por empresas como Oracle e Microsoft, precisa ser aprovado tanto nos Estados Unidos quanto na China. O problema é que as empresas americanas estariam interessadas em uma aquisição que inclua o algoritmo de recomendação da rede social de vídeos curtos.
É algo que Pequim não pretende abrir mão – nos últimos dias, circularam rumores de que o governo chinês preferia ver o aplicativo desativado em um de seus principais mercados. “A disputa entre os apps e os EUA é como um jogo de pôquer com apostas altas, mas o governo americano colocou os aplicativos contra a parede com essa ordem”, diz Dan Ives, analista da corretora Wedbush Securities.
Ao longo da última semana, a ByteDance e a Oracle tentaram negociar um acordo que pudesse garantir à Casa Branca o funcionamento de uma parceria – a empresa de Larry Ellison, veterana do mercado de software, faria o papel de cuidar da infraestrutura de nuvem e dos dados dos usuários do TikTok nos EUA, isolando a interferência de Pequim do APP.
No mercado, há quem veja a parceria como suspeita de favorecimento político, uma vez que Ellison é um raro executivo do Vale do Silício que é próximo ao presidente americano.
Além disso, a resolução para a questão tem sido bastante criticada por analistas de segurança. Isso porque, com a saída do TikTok das lojas de aplicativos amanhã, mas com uso permitido até novembro, a ByteDance não poderá mais enviar atualizações de segurança para os usuários. Caso uma brecha que permita ataques hackers seja descoberta, será difícil resolvê-la de forma rápida sem o uso das lojas de aplicativos – e assim, ao tentar proteger os americanos, a medida do governo Trump pode deixá-los sem proteção.
Fase dois
Não é a primeira vez que Trump ameaça empresas chinesas que ganham projeção global sob a lógica de “ameaça de segurança nacional”. Em 2019, ele proibiu companhias americanas de negociarem com a ZTE e a Huawei – esta última é uma líder global em infraestrutura para o 5G, considerado estratégico para os próximos passos da economia global.
O apetite do governo americano para investigar companhias chinesas, porém, não vai parar no TikTok: ontem, uma reportagem da agência de notícias Bloomberg disse que os EUA estão investigando empresas que têm relação com a Tencent no mercado de games, também sob a suspeita de espionagem pró-Pequim. É uma medida que pode afetar toda a indústria de jogos: hoje, a chinesa é dona ou acionista de marcas como League of Legends, Clash of Clans e Fortnite, populares no mundo todo. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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