Isolado, com um candidato desconhecido do grande eleitorado, alvo de questionamentos dentro do próprio partido e sob a sombra de outras forças da esquerda, o PT oficializa neste sábado, 12, o nome do ex-secretário Jilmar Tatto para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Para reverter o quadro e tentar manter ao menos a hegemonia no campo da esquerda na capital, o partido aposta na força da máquina partidária construída por décadas na periferia da cidade, no legado de administrações passadas e na participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Criado na Capela do Socorro, bairro da Zona Sul onde sua família exerce forte influência, a ponto de ser conhecida como “tattolandia”, o candidato tem adotado até aqui um discurso voltado para o eleitorado da periferia. A estratégia do PT é vincular tanto o atual prefeito, Bruno Covas (que era vice do governador João Doria, ambos do PSDB), quanto os adversários mais à direita, associados ao bolsonarismo, como representantes do mesmo projeto político/econômico “liberal” que, segundo o partido, retira direitos dos pobres.
“Vamos demarcar o campo com (Jair) Bolsonaro e o PSDB, todos irmanados na agenda econômica do Paulo Guedes (ministro da Economia). Quando falarmos de retirada de direitos, isso vai incluir também a dupla Covas/Doria”, disse o deputado estadual José Américo Dias, um dos coordenadores da campanha de Tatto.
Neste ano, o PT vai enfrentar condições diferentes de todas as eleições que disputou na cidade. Depois de eleger Luiza Erundina, em 1988, o PT entrou em todas as disputas com chances reais de vitória liderando amplas coligações. Agora Tatto vai para a disputa isolado, com a obrigação de disputar votos da esquerda com antigos aliados, como o PCdoB e PSB, além do PSOL, que lançou a chapa Guilherme Boulos/Erundina e vem atraindo apoio de ex-petistas.
“Pode-se dizer, sim, que o PT vai disputar a liderança da esquerda em São Paulo, mas não vejo problema nisso. A candidatura do Boulos expande a esquerda. Votos que não viriam para o PT de jeito nenhum vão para ele e votos que não iriam para ele de jeito nenhum vem para o PT”, disse Dias.
O nome de Jilmar Tatto divide o PT desde o início da disputa interna. Muitos petistas avaliam que ele não tem musculatura para enfrentar a disputa. Além disso, a forma como exerce controle sobre o partido na capital gera insatisfações. E apesar deste controle, foi escolhido com apenas 15 votos de diferença sobre Alexandre Padilha em colegiado de 600 votantes, o que deu margem para contestações internas e públicas.
Para reforçar o compromisso com a periferia, Tatto será oficializado em uma transmissão ao vivo feita a partir de uma laje no Jardim São Luiz, Zona Sul. Ele estará acompanhado apenas do presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro. A escolha do vice deve ser anunciada também neste sábado, 12. O ex-prefeito Fernando Haddad fará uma participação online, assim como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que mora em Curitiba. Lula gravou um vídeo que será exibido durante o evento. Aos 75 anos de idade e com histórico de um câncer na garganta, o ex-presidente não deve participar pessoalmente das campanhas do PT por estar no grupo de risco da covid-19.
Lula terá dois papéis na campanha em São Paulo. O primeiro é dar um discurso nacional, já que o candidato, Tatto, construiu a vida política no âmbito da cidade (foi secretário nas gestões Marta Suplicy e Haddad). O segundo é manter a frágil unidade do partido na capital.
“Lula é o grande condutor. Ele simboliza uma outra alternativa social e política para o Brasil”, disse Dias. A participação de Lula, no entanto, será limitada pela pandemia.
A tônica da campanha será o legado das administrações petistas em São Paulo, explorando marcas como os corredores de ônibus, o bilhete único, a merenda escolar e outras políticas políticas implantadas nas administrações petistas. Tatto, no entanto, vai ter que disputar esse legado, já que Erundina está ao lado de Boulos e Marta declarou apoio a Covas.
Além disso, Tatto deposita suas fichas na máquina partidária petista na periferia, formada por uma ampla rede de apoios de dirigentes comunitários e líderes de bairro, muitos deles ligados aos vereadores do partido. Mas até mesmo a eficácia dessa máquina é colocada em dúvida. Em 2016, Haddad não chegou sequer ao segundo turno contra Doria e perdeu em todas as 58 zonas eleitorais da cidade.
Por Ricardo Galhardo
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