Israel e o movimento islâmico palestino Hamas, que há mais de uma década controla a Faixa de Gaza, anunciaram nesta segunda, 31, um “acordo” para encerrar a troca quase diária de ataques e permitir a entrada de suprimentos e combustível no território.
“Após diversos contatos, o último mediado pelo emissário do Catar, Mohamed el-Emadi, foi alcançado um acordo para conter a escalada e pôr fim à agressão sionista contra nosso povo”, disse Yahya Sinwar, líder do Hama em Gaza.
O Exército israelense tem bombardeado a Faixa de Gaza quase todas as noites, desde o dia 6, em retaliação ao lançamento de balões incendiários e de foguetes do território palestino. Em resposta a esses lançamentos, que provocaram mais de 400 incêndios em Israel, segundo contagem dos bombeiros, o governo israelense reforçou seu bloqueio à Faixa de Gaza, impedindo a passagem de mercadorias e interrompendo o fornecimento de combustível, o que obrigou o fechamento da única central elétrica.
De acordo com uma fonte do Hamas, que pediu anonimato, todas as facções palestinas presentes na Faixa de Gaza concordaram em pôr fim aos lançamentos de balões incendiários e projéteis.
A agência israelense responsável por lidar com os territórios palestinos disse, em um comunicado, que a passagem será reaberta para a entrada de suprimentos e os pescadores poderão voltar ao trabalho. Israel advertiu, porém, que essas decisões estão sujeitas à manutenção da segurança na região.
De acordo com o governo israelense, Gaza voltará a ser reabastecida de combustível a partir de hoje, o que permitirá que a central elétrica volte a funcionar na cidade.
Em troca do fim das agressões, serão impulsionados projetos para melhorar as más condições e a precária realidade econômica de Gaza, que enfrenta um rigoroso bloqueio israelense desde 2007, quando o Hamas venceu as eleições palestinas. Os bloqueios criam dificuldades de abastecimento de produtos básicos, como remédios e comida, para a população.
Desenvolvimento
Espera-se que as iniciativas sejam lideradas pelo Catar, que desde 2018 entrega milhões de dólares em ajuda para a empobrecida população de Gaza. O Hamas disse, em comunicado, que, como resultado dos esforços de mediação indireta liderados por Egito, ONU e Catar, “vários projetos serão anunciados para servir ao nosso povo na Faixa de Gaza e contribuir para mitigar as difíceis condições de vida”. O grupo não detalhou nenhum dos projetos.
Durante as negociações, por meio de intermediários, o Hamas buscou uma flexibilização mais ampla das restrições ao território, aumento dos suprimentos de Israel e projetos econômicos em grande escala para ajudar a reduzir o desemprego. A taxa de desemprego em Gaza ultrapassa os 40% – entre os jovens é de 50% -, e 21% de seus habitantes vivem em situação de extrema pobreza.
Segundo analistas, o recente aumento de tensão e o lançamento dos balões incendiários foram métodos de pressão do Hamas para forçar Israel a permitir a entrada de ajuda financeira ao enclave, onde vivem 2 milhões de palestinos.
Por ser um território bloqueado, com forte controle sobre quem entra e quem sai, a Faixa de Gaza foi por um algum tempo um dos lugares mais seguros com relação ao novo coronavírus. No entanto, na semana passada, registrou os primeiros contágios entre sua população fora dos centros de quarentena.
Desde então, os contágios por transmissão comunitária não pararam de aumentar e já foram registrados mais de 240 casos. A doença entrou no território por meio das pouquíssimas pessoas autorizadas a viajar. O sistema de saúde do território é precário e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já advertiu que a Faixa de Gaza não terá como lidar com um grande surto.
Inimigos antigos
A Faixa de Gaza foi tomada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e entregue aos palestinos em 2005 para fazer parte de um futuro Estado da Palestina. Mas boa parte das fronteiras, os espaço aéreos e a costa de Gaza continuaram sendo controlados pelos israelenses.
Israel e o Hamas são inimigos ferrenhos, já travaram três guerras e tiveram inúmeras escaramuças desde que o grupo militante islâmico assumiu o controle de Gaza, em 2007, depois de expulsar as forças da Autoridade Palestina.
Desde então, Israel e Egito mantêm um bloqueio a Gaza, alegando que as restrições são necessárias para impedir o Hamas, considerado um grupo terrorista, de se armar. Uma das alternativas aos bloqueios foram os túneis de contrabando, que se proliferaram pelo território e eram usados para a chegada de alimentos, dinheiro, armas, combustível e materiais de construção.
O fluxo foi interrompido após operação contra essas passagens subterrâneas, em 2013. A consequência foi a escassez desses materiais e a alta nos preços dos alimentos. Também causou desemprego nas áreas da construção civil e transportes, que dependem dos túneis. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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